23/10/2016 16h34 - Atualizado em 23/10/2016 16h34

Plantas não convencionais entram na alimentação de moradores do Vale

Pesquisadores afirmam que as PANCs são nutritivas e sustentáveis.
Para muitos, plantas são novidade; há aqueles que as veem como 'mato'.

São José dos Campos, SP

Entre as árvores de guanandi, o plantio de inhame (Foto: Arquivo pessoal/Patrick Assumpção)Entre as árvores de guanandi, o plantio de inhame (Foto: Arquivo pessoal/Patrick Assumpção)

 

Seguindo a tendência de crescimento da procura por alimentos saudáveis e sustentáveis, as plantas alimentícias não convencionais, as PANCs, ganham espaço no Vale do Paraíba.

A princípio, elas podem parecer desconhecidas, mas são, na verdade, um retorno às antigas tradições, defendem os adeptos da inclusão das PANCs no cardápio. Segundo eles, a simplicidade também é uma marca das plantas, já que entre elas há itens encontrados comumente pelas cidades, entre eles serralha, peixinho-da-horta e dente-de-leão.

A diferença é que eles não costumam fazer parte da alimentação da maior parte das pessoas. Mas é justamente isso que alguns pesquisadores e produtores querem mudar. A agrônoma da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) que atua no Vale do Paraíba, Cristina Maria de Castro, explica que as PANCs são plantas nativas e nutritivas e que algumas, em décadas anteriores, já foram recorrentes na alimentação das famílias.

"A alimentação, hoje, é muito restrita, as pessoas comem poucas variedades de alimentos e abusam de embutidos e industrializados. Não aproveitamos a nossa biodiversidade", explica ela, que atua como pesquisadora em uma fazenda da APTA em Pindamonhangaba. O local mantém uma 'Unidade Demonstrativa' das PANCs, com os objetivos de permitir o estudo das espécies, a divulgação e a conscientização da comunidade sobre o tema.

Mangarito é uma das PANCs produzidas em Pinda (Foto: Arquivo pessoal/Patrick Assumpção)Mangarito é uma das PANCs produzidas em Pinda
(Foto: Arquivo pessoal/Patrick Assumpção)

Desconhecidas
Cristina pesquisa as PANCs desde 2011, mas destaca que a inclusão delas na alimentação ganhou mais força há cerca de dois anos no país, quando chamou a atenção de chefes de cozinha de destaque, especialmente de São Paulo. O mercado começa a ganhar espaço no Vale do Paraíba.

"As PANCs não são utilizadas por falta de conhecimento", afirma Patrick Assumpção, produtor de Pindamonhangaba, que fez da fazenda de mais de 100 anos da família um espaço de experimentação. Hoje, ele fornece para restaurantes e estabelecimentos da capital e da região. 

O produtor explica que o conceito de uso das plantas envolve aproveitar as espécies nativas, valorizando a produção local e ajudando a manter o equilíbrio ambiental.

Ele destaca, na lista das plantas não convencionais presentes em nossa região: os tubérculos mangarito, cará-do-ar e cará-roxo-do-chão; a árvore guanandi; as folhas taioba, vinagreira, bertalha, beldroega, jambu, agrião caboclo, capuchinha e ora-pro-nobis; e as frutas jaracatiá, bacupari, cambuçá e araçaí.

"Temos que aproveitar essa diversidade. Ao invés de ficar só no alface, acrescentar outras espécies", defende Assumpção.

"Promovemos visitas em nossa horta, realizamos eventos de conscientização. Muitas pessoas não conhecem mesmo, mas muitas se supreendem ao descobrir que plantas comuns, vistas como mato, podem ser consumidas", afirma a pesquisadora Cristina. "Outras se lembram de ver a avó usando as plantas. São costumes que perdemos", conclui.

Araruta é outro item na lista das PANCs (Foto: Arquivo pessoal/Patrick Assumpção)Araruta é outro item na lista das PANCs
(Foto: Arquivo pessoal/Patrick Assumpção)

Mercado
Bianca Lemos é proprietária de um mercado em Taubaté onde as PANCs podem ser encontradas. Ela acredita que há um público interessado em novas tendências e em alimentos mais saudáveis. 

No estabelecimento, Bianca oferece hortaliças orgânicas e já conta com um público cativo para esse segmento, afirma. Em relação às PANCS, há curiosidade, mas também desconhecimento. "Tem gente que procura o convencional, mas tem pessoas que querem produtos diferentes", conta. "Mas é o tipo de produto que precisa de explicação, o atendente precisa explicar o que é a verdura", relata. 

O chefe de cozinha Gabriel Broide também incluiu as PANCs no cardápio do restaurante do spa em que atua, em Santo Antônio do Pinhal. Os exemplares podem ser consumidos tanto crus quanto refogados ou empanados, dependendo da espécie e da receita. "Algumas plantas conseguimos trazer e plantar em nossa horta", conta.

Algumas hortaliças são oferecidas o ano inteiro, já outras entram em menus especiais, preparados de acordo com a disponibilidade sazonal das plantas.  

A pesquisadora da APTA, Cristina, destaca que a ideia por trás das PANCs, que é a valorização da biodiversidade e da produção locais, ainda é um conceito a ser trabalhado junto aos produtores e consumidores. "Às vezes as coisas vem por bem, às vezes por mal. A má alimentação tem sido a causa de muitos problemas de saúde atualmente. Isso está obrigando as pessoas a buscarem uma alimentação mais natural, mais saudável", finaliza.

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