Edição do dia 20/03/2017

20/03/2017 21h17 - Atualizado em 20/03/2017 21h29

Associações de produtores de carne criticam forma como PF divulgou ação

Representantes dizem que estão lidando com crise desnecessária.
Ministério da Agricultura afirma que problemas são pontuais.

Em São Paulo, associações de produtores e indústrias exportadoras de carne criticaram a maneira como a Polícia Federal divulgou os resultados das investigações.

Separar o joio do trigo e evitar que inocentes paguem por quem errou. Esse tem sido o esforço de um dos setores mais importantes da economia brasileira.

“A gente tem certeza que o sistema de defesa agropecuário brasileiro é um sistema forte, sólido. Não é à toa que estamos no primeiro lugar no ranking na exportação de aves, na exportação de carne bovina. Isso mostra que nós temos credibilidade. O que ocorreu foi um fato pontual, específico e deve ser rigorosamente punido para servir de exemplo para que não ocorra novamente”, afirma Bruno Lucchi, superintendente técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil.

Numa entrevista coletiva, os representantes dos produtores e exportadores de carne disseram que estão lidando com uma crise desnecessária. Eles apontaram o que chamaram de erros técnicos nas informações divulgadas pela Polícia Federal, como alarme sobre uso de conservantes aprovados para uso e consumo.

“A confusão que se gerou pelos malefícios de ácido sórbico ou ascórbico, que são produtos que são aprovados para alguns determinada gama de derivados também gerou uma confusão e terminou generalizando”, destaca Antônio Jorge Camardelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne.

“Aquilo que você enxerga, que você vê que é o caso da carne podre, não tem como mascarar, não tem como voltar atrás”, afirmou Rui Eduardo Saldanha Vargas, vice-presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal.

A pesquisadora do Instituto de Tecnologia de Alimentos Ana Lúcia Lemes confirma que o uso de conservantes e da carne de cabeça de porco, citada nas investigações, é regular: “Carne de cabeça, que a gente chama de carne industrial, é autorizado o seu uso nos produtos embutidos. Remove seus gânglios e utiliza-se essa carne de cabeça. É uma carne rica em colágeno, em tecido conjuntivo, sim. Difícil de mastigar? Sim, porém excelente para os embutidos. Melhora uma firmeza de uma salsicha, de uma mortadela, por exemplo”.

A suspeita levantada pela Polícia Federal sobre o uso de papelão pelos frigoríficos também foi rebatida pelos produtores e exportadores. Na denúncia, a Polícia Federal usou como base uma conversa telefônica gravada, autorizada pela Justiça, entre o gerente de produção da BRF em Carambeí, no Paraná, Luiz Fossati, e um funcionário. A Polícia Federal entendeu que eles falavam em colocar papelão junto com a carne moída.

Na sexta (17), a BRF já tinha se pronunciado informando que o funcionário estava se referindo às embalagens do produto e não ao seu conteúdo. E que os funcionários discutiam se poderiam embalar o produto com papelão, já que normalmente usam plástico. A informação foi reforçada, nesta segunda (20), pelo representante dos exportadores de carne.

“E essa história do papelão misturado chega a ser até onírico, né? Porque não existe essa possibilidade de que se misture como foi dito e até o próprio áudio é bem claro. Nós estamos falando de embalagem onde vai dentro alguma coisa”, diz Jorge Camardelli.

“É uma falácia. Ninguém vai adicionar papelão em nenhum produto de carne. Até porque os equipamentos são equipamentos de última geração. Seriam destruídos. E para baratear o produto, existem formas de baratear um produto sem utilizar papelão. O papelão é uma embalagem secundária. E, que, inclusive, é restrita a determinadas áreas da fábrica”, destaca Ana Lúcia Lemes.

Por serem produtos consumidos diariamente no Brasil e no mundo, os representantes do setor de carnes afirmam que qualquer problema detectado deve ser imediatamente informado para que medidas sejam tomadas rapidamente. Aí entra uma outra crítica à Polícia Federal, o modelo de grandes operações com longas investigações seria inadequado para um setor que envolve a saúde pública e produtos de exportação.

“Dois anos é um tempo que vem acontecendo um fato. Não dá para deixar se repetir esse fato. Ele pode ser atentador à saúde humana, à vida da pessoa, tem que ser na hora. Recebeu informação: ‘estão usando produto indevido’, é na hora. Tem que estancar na hora, tem que coibir na hora pelo bem da saúde pública”, declarou Francisco Turra, presidente-executivo da Abpa.

O Ministério da Agricultura afirma que os problemas são pontuais. E que num universo de quase cinco mil frigoríficos, 21 estão sob investigação, quatro unidades de produção tiveram as autorizações para exportar suspensas e três estão interditadas. São informações que estão ajudando os exportadores nas conversas para acalmar o mercado. Todos esses pontos no mapa do mundo consomem a carne brasileira e para todos eles estão sendo enviadas notas técnicas e explicações. A expectativa é que apenas os poucos e verdadeiros culpados sejam punidos.

“Como dentro desse processo não teve mácula ao sistema, na nossa opinião, que as sanções, sejam internas ou externas, sejam dirigidas aos transgressores e nunca no coletivo”, comenta Jorge Camardelli.

“Nós estamos defendendo no setor que a partir de uma operação, que é natural e nós aplaudimos, porque tudo que vem para depurar, para separar o joio do trigo. Para fazer aquilo que nós fazemos todos os dias lá fora: ‘vocês vão comprar carne saudável, boa’. Então, a operação em si, ela é impecável nesse sentido. A generalização é um caos. É catastrófica. Não pode existir nunca. Destrói a imagem do produto e do país”, afirma Francisco Turra.

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