O Instituto Agronômico de Campinas completou 131 anos, comemorando a concessão de duas patentes e uma em co-titularidade com a Unicamp. A pesquisa paulista está se modernizando com termos como drones, startups e blockchain, entregando facilidades para agricultores. A APTA mostra sua capacidade de inovação e soluções para o agronegócio, buscando maior interação público-privada e fontes diversificadas de orçamento.
Nematoides são responsaveis por perdas de até 30% dos canaviais
Transformação do futebol em passarela para exibição de estéticas e dandismos
1. O Instituto Agronômico de
Campinas completou 131
anos de fundação, em 27 de ju-
nho de 2018. Com história que
remente ao Império, o IAC, as-
sim como os outros cinco Insti-
tutos e 11 Polos regionais de
pesquisa ligados à Agência
Paulista de Tecnologia dos
Agronegócios (APTA), vive um
novo momento, de incentivo a
inovação e a parceria com ou-
tras instituições de ciência e
tecnologia e da iniciativa priva-
da. Neste aniversário, o IAC co-
memora a concessão de duas
patentes exclusivas e uma em
co-titularidade com a Uni-
camp. São os primeiros frutos
desta nova fase da pesquisa
paulista.
Ao sotaque antes caipira do
agro vêm sendo acrescentados
termos como drones, startups,
agronegócio just in time,
agroindústria 4.0, blockchains,
IoT, yottabytes, big data. Com
alguns toques na tela de smar-
tphones e tablets, é possível
ter respostas para aquilo que
há poucas décadas dependia
da crença ou da experiência
dos agricultores. A agricultura
digital já entrega facilidades
que se transformam em efi-
ciência na mão dos produto-
res.
Apesar de certas dificulda-
des históricas, os Institutos li-
gados à APTA vivem um mo-
mento de modernização, de
maior eficiência. Em março de
2018, a Agência lançou Balan-
ço Social 2016/2017 que mos-
tra os impactos econômicos,
sociais e ambientais de 48 tec-
nologias desenvolvidas por
suas unidades, entre elas o
IAC, e adotadas pelo setor pro-
dutivo. O Balanço mostra que
a cada R$ 1,00 investido, a
Agência retornou R$ 12,20 pa-
ra a sociedade, taxa equipara-
da ao retorno do investimento
no setor agrícola americano.
Os Institutos mostram de for-
ma contundente sua capacida-
de de inovar e trazer soluções
para o setor.
Para que essa capacidade
se expanda é importante discu-
tir questões chaves, como a di-
versificação das fontes de orça-
mento. É preciso maior intera-
ção entre o público e o priva-
do, fato que está se iniciando
em São Paulo, com as novas le-
gislações estaduais e federais
que fomentam a inovação e a
parceria com empresas.
Na APTA, a implantação
dos Núcleos de Inovação Tec-
nológica (NIT), em 2016, confi-
gurou importante avanço na
estruturação da política institu-
cional de inovação, publicada
no Diário Oficial em 16 de ju-
nho de 2018, além da forma-
ção e capacitação de recursos
humanos voltados para o trata-
mento das questões relaciona-
das ao complexo estágio de
CT&I do agronegócio.
A estruturação dos NIT e a
publicação do Decreto nº
82.817, em 2017, trazem novas
perspectivas de inserção so-
cial, protagonismo científico e
tecnológico institucional,
além de sustentabilidade e au-
tonomia orçamentária. A meta
é que a participação privada
no orçamento da APTA salte
de 23,4%, em 2017, para 25%
até o final de 2018. Entre 2010
e 2013, correspondia a 14% do
orçamento. Este modelo deve
ser implantado com as funda-
ções de apoio à pesquisa e as
organizações sociais como par-
ceiras e intervenientes ativas
no sistema de pesquisa, inclu-
sive com a possibilidade de
contratação de pessoal.
Exemplos internacionais
nos instigam a trilhar novos ca-
minhos para a continuidade
do protagonismo das institui-
ções públicas nas transforma-
ções do setor produtivo. Uma
legislação específica para im-
plantação dos Fundos Patrimo-
niais, que permite a criação de
fundos nas universidades e ins-
tituições de pesquisa com doa-
ções de particulares, como
ocorre nos Estados Unidos e
Europa, seria uma forma de
agregar recursos a estas insti-
tuições públicas. A eles tam-
bém devem ser inseridas recei-
tas advindas da venda do patri-
mônio físico construído há
mais de um século para dar su-
porte às atividades de pesqui-
sa, mas que hoje, muitas ve-
zes, não cumprem esta finali-
dade.
Há também os Check-off
Programs, uma fonte alternati-
va de financiamento, como
também acontece nos Estados
Unidos, em que um pequeno
valor da comercialização do
produto agrícola é destinado
ao investimento em pesquisa
e desenvolvimento, aprimora-
mento da capacidade produti-
va, de comunicação e marke-
ting doméstico e internacio-
nal. Para isso, o setor privado
precisa ter participação ativa
na gestão dos recursos, que de-
vem estar fora da burocracia
do Estado. É necessária ação
específica das diferentes ca-
deias produtivas e não uma ta-
xação de governo.
Não basta, porém, termos
fontes seguras e perenes de re-
cursos para a pesquisa e inova-
ção, sem avançar para um no-
vo formato de atuação. É ne-
cessário que se programe um
sistema em rede de pesquisa,
em que as instituições façam
uma avaliação interna de suas
expertises e competências pa-
ra o desenvolvimento de proje-
tos em conjunto, evitando a
duplicidade de trabalhos e in-
fraestrutura. A sofisticação da
ciência e dos equipamentos
necessários, o custo para a rea-
lização das atividades e os de-
safios que temos pela frente
nos coloca a necessidade de
trabalhar em equipes multidis-
ciplinares e multi-institucio-
nais.
Mas tudo isso não será tare-
fa fácil, pois implica em rom-
per com valores antigos de or-
ganizações submetidas exclusi-
vamente ao regramento da ad-
ministração pública e romper
com valores de cultura institu-
cional e de caráter ideológico.
O entendimento dessas mu-
danças permitirá estimular o
protagonismo das instituições
públicas de pesquisa no agro-
negócio e colocar o País em ní-
veis de competitividade exigi-
dos pelas novas formas de ge-
ração de ciência e de tecnolo-
gia, com benefícios para a so-
ciedade como um todo.
Em 2014, alguns torcedores se
mostravam descontentes com
o hino de guerra da torcida bra-
sileira, até redes nacionais de
televisão chegaram a divulgar
em programas populares de fi-
nal de semana a busca por um
novo hino. “Eu Sou Brasileiro
Com Muito Orgulho, Com Mui-
to Amor” foi criado em 1949,
por Nelson Biasoli, para uma
disputa de olimpíadas estudan-
tis. O autor nunca imaginou
que seu hino vingaria tantos
anos! Mas, parece que esse hi-
no teve seu fim nessa Copa de
2018, já que muitos brasileiros
estão entoado o seguinte grito:
“ÉÉÉÉÉ em cinco oito foi Pelé,
em meia dois foi o Mané, em
sete zero o Esquadrão, Primei-
ro a Ser Tricampeão; ÔÔÔÔ
noventa e quatro Romáriôôô;
dois mil e dois Fenomenôôô,
primeiro tetracampeão, único
penta é Brasilzão!!! OOOOO
BRASIL OLÉ OLÉ OLÉÉÉÉ”.
Se tal grito terá a mesma vi-
da longeva que teve o seu su-
cessor, não sabemos. É fato
que ele está ecoando em diver-
sos cantos e até em aberturas
de programas de televisão.
Mas, a pergunta que não quer
calar é - de quem será a auto-
ria desse hino? Sim! Pode pare-
cer bobagem, mas recaem di-
reitos autorais sobre a criação
desse novo hino. O mesmo
ocorreu com o hino anterior,
que acredito que somente teve
a repercussão que teve, pois
seu autor não reclamou direi-
tos sobre tal propriedade.
Na verdade, essa informa-
ção ainda é controvertida, pois
há quem afirme que Nelson
Biasoli nunca ganhou um tos-
tão por seu hino e tantos ou-
tros que compôs (cerca de
500). Da mesma forma outros
dizem que tal senhor chegou a
receber dos últimos oito anos
(até 2014) a quantia de aproxi-
madamente doze mil reais do
ECAD (escritório responsável
pela arrecadação e distribui-
ção dos direitos autorais das
músicas aos seus autores). E,
também, há quem diga que o
sr. Nelson nunca teria percebi-
do nenhum rendimento de
seu hino, pois não o haveria re-
gistrado. Essa última afirma-
ção definitivamente não proce-
de e explico o motivo.
Bom, ao contrário de mar-
cas e patentes (propriedade in-
dustrial), o direito autoral é
uma propriedade intelectual
que a lei não obriga o seu regis-
tro, embora tal atitude confira
maior segurança para aqueles
que desejam ter uma relação
comercial em que o objeto des-
ta seja o seu direito autoral ou
mesmo somente maior segu-
rança nesse mundo on-line do
copia, cola e compartilha, sem
se dar os devidos créditos. As-
sim, o hino “Sou Brasileiro...”
não precisaria ser registrado,
mesmo. Bastasse o sr. Nelson
comprovar a sua autoria, para
reclamar qualquer pagamento
a ele devido. O que não fez,
aparentemente.
Aliás, em 2014, a família Bia-
soli encarava o hino como “do-
mínio público” (o que por lei,
apenas ocorreria após 70 anos
da morte do sr. Nelson Biaso-
li), por acreditar fazer parte da
cultura brasileira – e não pode-
mos dizer o contrário de um
canto entoado por sessenta e
nove anos. O que, inclusive, co-
mo já mencionei, com certeza
foi um dos segredos para tal hi-
no durar tanto.
Agora, resta saber: Quem
foi o autor ou autores do atual
hino? Quais serão as provas
dessa autoria? Será que há a
pretensão de registro ou de ga-
nhos econômicos em cima do
novo grito? Quanto tempo ele
vingará?
Opinião
O futebol está se transfor-
mando em gigantesca pas-
sarela para exibição de
uma coleção de tatuagens,
cortes de cabelo, piercings
em orelhas e pescoços, na
esteira da expansão de
uma estética esportiva que
embala os competidores,
motivando torcedores a en-
deusar seus ídolos não ape-
nas pela qualidade técni-
ca, mas pela maneira co-
mo se apresentam.
O dandismo, maneira
afetada de uma pessoa se
comportar, se vestir e usar
adereços, exercício tradi-
cionalmente restrito ao
campo político estende,
portanto, seus domínios
aos campos de futebol. O
poeta Baudelaire dizia que
o dândi provoca “o prazer
de espantar”. Nesses tem-
pos de espetacularização
dos atos cotidianos, pode-
se acrescentar: o “prazer
de encantar”, ou, no caso
do futebol, oferecer algo
mais que uma performan-
ce esportiva.
Na política, o dandismo
teve grandes cultores, co-
mo Luis XIV, que passeava
nos jardins de Versailles
em um cavalo branco co-
berto de diamantes, ele to-
do vestido de púrpura. Na-
poleão mais parecia um pa-
vão engalanado quando se
coroou para receber a ben-
ção do papa em Notre-Da-
me. Hitler, treinado em au-
las de declamação para agi-
tar as massas, usando a
cruz gamada para propa-
gar o nazismo, aparecia
nos comícios organizados
por Goebbels depois de fa-
zer a massa esperar por
ele horas a fio. A audiência
cansada tomava um gran-
de susto quando aviões
roncando desciam em ra-
santes, criando o clima pa-
ra receber o personagem e
seu séquito.
Entre nós, a arte da re-
presentação também tem
sido bastante cultivada. Jâ-
nio Quadros dava ênfase à
semântica usando como
bengala uma estética esca-
tológica: olhos esbugalha-
dos, cabelos despentea-
dos, barba por fazer, a ima-
gem do desleixo pessoal
com a caspa caindo sobre
um paletó roto. Tirava san-
duíches de mortadela e ba-
nanas dos bolsos, momen-
to em que pontificava com
sua retórica cheia de pró-
clises e mesóclises: “Políti-
co brasileiro não se dá ao
respeito. Eu, não, desde as
6 horas da manhã estou ca-
minhando pela Vila Maria
e não comi nada. Então,
com licença.” Devorava os
acepipes sob aplausos da
multidão.
A atração dos políticos
por holofotes comanda
atos canhestros. O Estado-
Espetáculo emerge com
força exibindo heróis, sal-
vadores da Pátria, pais dos
pobres, redentores de mar-
gens sociais empobrecidas
e, incrível, até seres que se
postam ao lado direito do
Senhor. O marechal Idi
Amin, de Uganda, dizia
conversar com Deus em so-
nhos. Um dia, um jornalis-
ta quis saber com que fre-
quência ocorria o papo. O
sagaz ditador sem titu-
bear: “sempre que necessá-
rio”. Nicolás Maduro não
disse que foi abençoado
pelo falecido Hugo Chá-
vez, encarnado em um “ca-
narinho pequenino” que
apareceu cantando?
Em muitas ocasiões, os
limites da liturgia do cargo
costumam ser rompidos. E
os atores, participando da
encenação que tem mais a
ver com estripulia circense
e comédia farsesca, inven-
tam firulas para iludir as
massas.
Voltando aos campos de
futebol, vemos a Seleção
Canarinho desfilando com
sua coleção de signos. Fixe-
mos os olhos em Neymar,
que mais parece um calei-
doscópio humano. Carre-
ga cerca de 40 símbolos
em seu corpo, entre os
quais tatuagens de tigre,
âncora, diamante, cruz
com asas, o 4 em número
romano, coroas, clave de
sol, enfim, uma vasta cole-
ção que tenta expressar for-
ça, alegria, coragem, esta-
bilidade, perfeição, inde-
pendência, história de vi-
da, relação com o divino
etc. Esse aparato estético,
em parte organizado pelo
hairstylist Nariko, ainda se
completa com esgares e es-
pasmos de dor, ao cair nas
faltas cometidas por adver-
sários (parte das quedas é
pura representação do dân-
di), Neymar deve desper-
tar curiosidade até dos ex-
tra-terrestres que, segun-
do ufólogos, costumam vi-
sitar nosso planetinha
azul.
O fato é que na socieda-
de pós-industrial o Estado-
Espetáculo imprime o tom
dos discursos, maltratan-
do a identidade da políti-
ca, dos esportes e da cultu-
ra.
Os hinos da Seleção
Os dândis do
futebol
DIREITO AUTORAL
Editor: Rui Motta rui@rac.com.br Correio do Leitor leitor@rac.com.br
torquato
Pesquisa agropecuária avança
ORLANDO MELO DE
CASTRO
■ ■ Orlando Melo de Castro é coordenador
da APTA, da Secretaria de Agricultura e
Abastecimento do Estado de São Paulo, e
presidente do Conselho Nacional das
Entidades Estaduais de Pesquisa
Agropecuária (Consepa)
CLARA TOLEDO
CORRÊA
claratoledo@toledocorrea.com.br
charge
■ ■ Gaudêncio Torquato, jornalista, é
professor titular da USP, consultor político
e de comunicação Twitter@gaudtorquato
IAC 131 ANOS
■ ■ Clara Toledo Corrêa é advogada da
Toledo Corrêa Marcas e Patentes
“Tiramos o Brasil dessa recessão e (o País) voltou
a crescer”
Henrique Meirelles, pré-candidato do MDB à Presidência, reforçando a estratégia de colar seu nome às boas notícias da
economia, tanto no governo Temer quanto no de Lula
opiniao@rac.com.br
A2 CORREIO POPULARA2
Campinas, segunda-feira, 2 de julho de 2018