• Cleyton Vilarino
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feijão-feijao (Foto: Ernesto de Souza/ Ed. Globo)

Alta demanda no varejo levou a aumento no preço do feijão, mas problemas na produção prejudicam a oferta e devem manter valores em patamares elevados pelo menos até agosto (Foto: Ernesto de Souza/ Ed. Globo)

Item básico na culinária brasileira e fácil de estocar, o feijão esteve entre os produtos mais procurados nos supermercados de São Paulo nos dias que antecederam o isolamento social provocado pela expansão do coronavírus no Brasil. E a demanda refletiu nos preços. Segundo a Associação Paulista de Supermercados (APAS), os valores nas prateleiras no Estado subiram 50,3% entre os dias 13 e 23 de março.

“Nas últimas semanas, com a pandemia de coronavírus, os consumidores se anteciparam e compraram uma quantidade maior do produto, visando garantir o consumo doméstico no período de quarentena. Esse comportamento pode ter influenciado um aumento no preço na última semana”, explica Ana Victória Vieira Martins Monteiro, pesquisadora do Instituto de Economia Agrícola de São Paulo (IEA). Segundo ela, a maior procura pela leguminosa fez com que até mesmo o feijão de menor qualidade, mais velho, fosse comercializado.

A maior procura coincidiu com um momento em que já era esperada uma valorização do produto, dada a entressafra e as más condições climáticas no início do ano. “Estamos há 45 dias com pouquíssima ou nenhuma chuva no Estado, tanto é que já se percebe que algumas lavouras estão perdendo qualidade por falta de chuva”, explica Carlos Alberto Salvador, engenheiro agrônomo do Departamento de Economia rural da Secretaria de Agricultura do Paraná (Deral).

Responsável por cerca de ¼ da produção nacional de feijão, o Paraná viu os preços dispararem no campo. O valor pago ao produtor pela saca de 60 quilos de feijão de cores, que inclui carioca e variedades como fradinho e o vermelho, passou de R$ 174,45 em fevereiro para uma média de R$ 219,92 em março, alta de 26%. No atacado, o saco de 30 quilos subiu 19,2% no período, negociado a R$ 159,66.

Prejuízo na indústria

Segundo o presidente do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe), Marcelo Lüders, a situação gerou prejuízo para os empacotadores que tinham contratos fechados a preços mais baixos com as redes de supermercados. “Quando essas empresas foram corrigir os preços essa semana, o mercado deu uma parada, principalmente para o carioca, porque as pessoas estão abastecidas”, observa Lüders. No varejo paranaense, o preço do saco de um quilo do feijão registrou alta de 4,8% no último mês.

Com a safra a ser colhida de março a junho prejudicada pelas condições climáticas, a previsão é de que a oferta e os preços só voltem ao normal em agosto, a depender das condições climáticas e, principalmente, do mercado. Segundo Lüders, a valorização da soja e do milho, puxada pelo dólar, tem levado alguns produtores a migrarem para o cultivo das duas commodities.

“Sem dúvida, ainda há risco de o produtor optar por outras culturas. Os empacotadores e a cadeia produtiva como um todo estão tendo que buscar formas de estimular o produtor, ou via preço, que é difícil, ou garantindo contratos de compra”, explica Lüders.

Em Mato Grosso, por exemplo, a previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de queda de 283% na área plantada do Mato Grosso, para 41,3 mil hectares, devido a competição com culturas de segunda safra, como milho, algodão e gergelim.

“São culturas que apresentam menor variação de preços que o feijão, apresentando também a possibilidade de fechamento prévio de contratos. O feijão perde espaço pelo histórico recente de variações abruptas de preços”, afirma a Conab em seu último boletim de safra, divulgado em março.