• Cleyton Vilarino
Atualizado em
laranja_agricultura_fruta (Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)

(Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)

Considerado um dos melhores exames para detectar o novo coronavírus em pacientes com suspeita de Covid-19, o método PCR quantitativo, com base na identificação de traços do material genético do vírus, ganhou fama mundial neste ano.

Classificado como “padrão ouro”, por identificar a infecção nas fases de maior transmissão da doença, o exame também tem ajudado o Brasil a combater um fungo inofensivo para saúde humana, mas que há décadas ataca os pomares de laranja do país: a pinta negra.

“O teste de PCR hoje é aplicado para quem é sintomático e, depois, quando é sintomático, usa-se o teste sorológico. Isso porque a precisão dele é muito grande pra fazer isso e ele é mais rápido para implantar”, explica Dirceu de Mattos Junior, diretor do Centro de Citricultura do Instituto Agronômico de Campinas (IAC).

Desde 2016, o IAC usa o método para evitar que a laranja brasileira exportada para Europa seja condenada pelas autoridades sanitárias do continente, onde não há registro da doença.

Assim como nos exames para detecção da Covid-19, os testes para identificação da pinta negra nas laranjas brasileiras enviadas à Europa são feitos em frutas que, em um primeiro momento, parecem saudáveis.

A partir de tratamentos químicos e térmicos que aumentam a expressão de sintomas da doença, os técnicos do IAC coletam amostras das lesões encontradas para afirmar se determinados lotes estão ou não contaminados com o fungo e, deste modo, autorizar ou não o embarque das frutas.

"A grande questão é que antes a gente não disponibilizava de um diagnóstico e, durante o período de transporte em navio, o fungo poderia germinar, causar lesão no fruto e levar a condenação da carga inteira ao chegar na Europa"

Dirceu de Mattos Junior, diretor do Centro de Citricultura do IAC

A partir da adoção do método, há quatro anos, o instituto conseguiu reduzir de 13 para apenas duas as ocorrências relacionadas a pinta negra nas cargas de laranja enviadas ao mercado europeu entre 2015 e 2016, chegando a zerá-las nos últimos dois anos.

“O PCR veio ajudar bastante na capacidade e na precisão desses diagnósticos”, aponta Dirceu, ao lembrar que a doença levou à suspensão das exportações argentinas de laranja para o mercado europeu.

“A frequência de problemas na Argentina está sendo tão grande que mesmo eles contando com uma estrutura de diagnósticos ela não está sendo eficiente. Por isso suspenderam a exportação”, explica o diretor.

O país teve 33 recusas entre maio e junho deste ano, segundo dados publicados pela organização autônoma dos produtores agrícolas de Valência (La Unió). “Independente se estamos trabalhando com patógenos de humano, animal ou vegetal, todo diagnóstico passa pela identificação desse patógeno”, completa o pesquisador Helvécio Della Coletta Filho.


De acordo com Coletta, o principal ganho promovido pela técnica foi a precisão dos diagnósticos, que antes eram feitos por avaliação humana. “Uma vez que o PCR quantitativo é específico para o patógeno em questão, ele é bastante sensível e, com isso, a subjetividade na descrição da morfologia dos sintomas ficou pra trás”, relata. Se antes o diagnóstico da doença podia levar mais de uma semana, hoje é feito em menos de dois dias.

“O PCR quantitativo, entre os métodos de diagnósticos disponíveis hoje no mercado, é o considerado padrão ouro, gerando um ganho de sensibilidade muito grande e redução no tempo de diagnóstico. Obviamente, o ser humano continua sendo fundamental nesta análise, mas ele não precisa mais ser um especialista em identificação do sintoma, mas sim do uso da técnica”, conclui o pesquisador.