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Argentina barra exportação de trigo; brasileiros reclamam

A Secretaria de Agricultura da Argentina suspendeu os registros de exportações de trigo em grão e farinha do país. A suspensão começou a vigorar ontem (dia 8) e, segundo a Circular 2/07 do Ministério da Economia, é temporária, ainda que o documento não determine prazos. A explicação oficial para a medida é "não afetar o abastecimento doméstico" e, embora a circular não especifique, o motivo seria a alta dos preços internacionais. Embora a tonelada do trigo esteja perto de US$ 215 no exterior, abaixo do pico de novembro, quando chegou a entre US$ 225 e 230, atualmente é grande a volatilidade de preços. Como lembra Alicia Urricarriet, analista do Instituto de Estudos Econômicos da Sociedade Rural Argentina (SRA) trata-se de uma instabilidade que afeta as commodities agrícolas em geral, especialmente soja e milho. Como o governo argentino controla a inflação do país por meio de acordos de preços e elevados subsídios (em dinheiro) aos produtores dos itens que mais pesam na cesta básica, a alta das commodities levou o Ministério da Economia a tentar neutralizar eventuais altas em dólar, com subsídios ou restrições às exportações - que já atingiram carne, soja e, agora, o trigo. O governo teme que, com os preços internos controlados, os produtores busquem compensar supostas perdas domésticas com exportações, encurtando a oferta interna e elevando preços ao consumidor. Segundo Alicia Urricarriet, a suspensão das exportações não terá grande impacto para os compradores, especialmente o Brasil grande importador de trigo argentino. "Não haverá problemas para o fornecimento ao Brasil porque a quantidade que compram já está praticamente contratada", diz ela, frisando que a medida se aplica só aos contratos fechados a partir de 8 de março. Os moinhos brasileiros, contudo, não encaram a situação com tanta tranqüilidade. Francisco Samuel Hosken, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), afirma que os estoques de trigo do país são confortáveis e garante que não haverá desabastecimento, mas prevê aumento de preços de produtos alimentícios que dependem da matéria-prima. "Bastou sair a notícia da Argentina para o trigo produzido no Brasil ficar mais caro. Já subiu hoje [ontem] e vai subir mais", prevê. Para Hosken, a medida argentina apenas reforça a posição da Abitrigo de que o Brasil não pode "jogar todas as suas fichas" na Argentina. Segundo o dirigente, o país precisa de uma política para o cereal, e os moinhos têm de ter alternativas para se abastecer, um caminho hoje restrito pelas regras em vigor no Mercosul. "Queremos TEC [Tarifa Externa Comum] zero, sem cobrança do adicional de frete da Marinha Mercante, para buscar trigo em qualquer lugar. Não queremos vantagens, mas isonomia". De acordo com a Sociedade Rural Argentina, da produção total de 13,8 milhões de toneladas da safra 2006/07 de trigo do país, os produtores argentinos já têm 8,7 milhões de toneladas registrados para venda ao exterior, com preço e direitos de exportação já fixados. Deste total, até o dia 28 de fevereiro, 3,9 milhões de toneladas haviam sido embarcadas. Nas contas da Abitrigo, em 2006/07 o Brasil comprará do vizinho pelo menos 6,2 milhões de toneladas. No total, as importações deverão somar 8,1 milhões de toneladas, para um consumo doméstico estimado em 10 milhões. O consumo interno de trigo na Argentina é próximo de 5 milhões de toneladas e há um estoque remanescente da safra anterior, de 1 milhão de toneladas, segundo a SRA. "A medida afeta mais aos produtores e indústrias moageiras locais porque o trigo passa a ser um produto não tão interessante", afirma a analista da SRA. Como os estoques brasileiros de trigo são confortáveis no curto prazo, diz Hosken, também não haverá desabastecimento de farinha em razão da restrição argentina.

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