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Carrapatos podem trazer danos à saúde de cavalos e potros e prejuízo ao produtor rural

Pesquisadora da APTA ressalta a importância de se atentar ao problema e explica como combatê-los

Um dos problemas mais comuns que atingem equinos no Brasil, os carrapatos trazem desconforto aos animais e podem levar à perda de rendimento e problemas sérios de saúde. Atenção constante às condições sanitárias da propriedade e monitoramento dos animais são essenciais para controle do problema.

“Os danos diretos se referem ao fato de os carrapatos serem animais hematófagos (que se alimentam do sangue do hospedeiro – o equino), e assim, dependendo da gravidade da infestação, podem causar anemia”, diz a pesquisadora da APTA Regional de Colina, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Anita Schmidek, que trabalha com o tema.

Segundo conta, as consequências de um quadro anêmico podem ser queda de rendimento, perda de peso, queda na imunidade e até risco de morte do animal. Apesar de perigoso, esse não é o único problema associado diretamente a esses aracnídeos. “Ao picar o cavalo, o carrapato libera uma substância que é irritante, induzindo o equino a se coçar para retirar o parasita, o que pode ocasionar pequenas lesões que, por sua vez, despertam o interesse de outro parasita, a mosca (frequentemente da espécie Cochliomyia hominivorax)”, relata Anita. De acordo com a pesquisadora, essas moscas tendem a depositar seus ovos próximo a feridas e, após sua eclosão, as larvas migram em direção ao machucado, causando o que se conhece popularmente como bicheira. “Quando estas feridas ocorrem próximo à orelha, podem fazer com que esta fique deformada - o que se chama popularmente de ‘orelha troncha’”, especifica.

A especialista agrega que a irritação e incômodo causado pela picada dos carrapatos pode ainda causar alterações hormonais que prejudicam a imunidade do equino, influenciar na qualidade do sono (induzindo a alterações hormonais que prejudicam o crescimento e a renovação celular) e ocasionar a redução do apetite ou relutância em pastar, conduzindo a problemas de desnutrição.

Além dos efeitos diretos, Anita diz haver outros danos indiretos potencialmente graves desencadeados pelas picadas de carrapatos infectados. São as chamadas hemoparasitoses (conhecidas popularmente como piroplasmose, nutaliose ou tristeza parasitária), causadas por protozoários que invadem as células sanguíneas. No estado de São Paulo, os mais comuns são as espécies Babesia caballi, Theileria equi e Anaplasma phagocytophilum. “Apesar de haver particularidades nos sintomas, todas elas podem conduzir a anemia, problema hepático, esplênico (de baço), pulmonar, cardíaco, neurológico e inflamação crônica”, alerta a pesquisadora da APTA. “Entre os sintomas comuns, se percebe queda no desempenho, orquite (inchaço nos testículos), dificuldade em emprenhar, abortos, natimortos, potros fracos, podendo haver morte súbita em todas as idades”, complementa.

No caso dos potros, a pesquisadora afirma que os danos trazidos pelos carrapatos podem ser ainda mais intensos. Além de serem mais sensíveis aos problemas já citados, pode haver ainda a transmissão transplacentária dos hemoparasitas da mãe para o feto, durante a gestação. “Nesse caso, o potro já nasce doente, podendo apresentar sintomas como fraqueza, dificuldade para se levantar e mamar, febre, diarreia, respiração ofegante, icterícia (pele das mucosas amareladas), urina escura e problemas neurológicos”, detalha a especialista, acrescentando haver indícios de que o quadro pode ser piorado pela presença de substâncias inflamatórias (citocinas) no leite das éguas infectadas, ao serem ingeridas pelos potros recém-nascidos durante a amamentação.

O impacto desse conjunto de problemas para o criador é evidente: diminuição no rendimento do animal e risco real de mortes no rebanho. De acordo com Anita, a presença de hemoparasitoses pode, ainda, ser um impeditivo à exportação ou transporte de equinos nacionais para fins esportivos aos EUA ou Europa. “Interessante constatar que é o único entrave sanitário, no caso dos equinos, visto que outras exigências sanitárias são contornáveis mediante vacinação”, assegura a especialista.

Conhecer o ‘inimigo’ é essencial no controle do problema

“De forma geral, há duas espécies de carrapato de maior relevância para os equinos, que têm ciclos de vida diferentes e, por isso, demandam estratégias de controle específicas: o chamado carrapato-estrela (Amblyomma sculptum) e o carrapato-de-orelha (Dermacentor nitens)”, explica Anita. Para reduzir ou eliminar a presença de carrapatos no rebanho, a pesquisadora diz que é preciso saber distinguir os carrapatos no corpo do equino, conhecer seus ciclos de vida e identificar os carrapaticidas efetivos para o contexto de cada propriedade.

Conforme ensina a especialista, o carrapato-estrela possui um ciclo de vida complexo, com 4 fases: ovo, larva (ou micuim), ninfa (ou vermelhinho) e adulto (ou estrela). Assim como os ovos (que ficam no solo), os micuins e ninfas são muito pequenos, e praticamente invisíveis sob o pêlo do cavalo; sua presença, no entanto, pode ser constatada pela existência de “caroços” na pele dos animais ou áreas sem pêlos, devido ao ato de coçar.

Nestas fases intermediárias, os carrapatos ficam menos de uma semana no animal, voltando em seguida para o solo, onde passam pela transformação para a fase posterior. “A fase adulta é mais fácil de ser visualizada, pois o aracnídeo passa a ter em torno de 5 a 10 mm de tamanho. Nesta fase, passam também cerca de uma semana fixados ao equino, e retornam ao solo, onde podem permanecer vivos por 24 meses”, menciona Anita.

De acordo com ela, apesar de ter preferência pelo equino, o carrapato-estrela ataca várias espécies animais, desde o homem e outros mamíferos (como a capivara), até aves e répteis. “Quando as pessoas que tratam dos cavalos ou cuidam de sua escovação notam a presença de micuins ou indivíduos adultos em si próprios, devem deduzir que certamente estão presentes também nos equinos”, contextualiza. Nos animais, são encontrados com maior frequência na região perianal, virilhas e axilas, assim como crinas e caudas e, por vezes, pelagem do boleto.

O carrapato-de-orelha, por outro lado, tem ciclo de vida mais simples. A fêmea põe seus ovos no solo e, após eclosão, as larvas sobem no equino e passam por todas as fases de transformação no corpo do animal (a fêmea só volta ao solo quando chega à idade adulta e precisa botar novos ovos). A permanência do D. nitens no corpo dos cavalos dura cerca de 25 dias. “Este carrapato tem predileção por locais mais protegidos, como pavilhão auricular, divertículo nasal, crina e base da cauda, região perianal e virilha”, aponta a pesquisadora.

Quanto ao controle, a especialista coloca que, em animais mantidos a pasto, a forma mais eficiente é matar os carrapatos presentes nos equinos, pulverizando o corpo destes com solução carrapaticida e, nas infestações do pavilhão auricular (interior da orelha) e divertículo nasal (cavidade no interior da narina), passando uma mistura de pó inseticida com óleo dentro destas cavidades. Para o processo ser eficaz, o conhecimento dos ciclos de vida destas duas espécies de carrapato é fundamental, pois determinará o intervalo entre pulverizações. “Se a infestação é de carrapato-de-orelha, intervalos de pulverização de três semanas são adequados para reduzir a população no local. Por outro lado, em infestações de carrapato-estrela, são necessários banhos semanais, até a redução da infestação”, detalha a pesquisadora da APTA. “Em ambos os casos, quanto mais jovens forem os carrapatos, maior a eficiência do carrapaticida.”

Para se ter certeza de qual espécie de parasita se trata e de qual o carrapaticida mais indicado, a pesquisadora diz que é necessário enviar amostras de fêmeas ingurgitadas (fertilizadas pelos machos) para um laboratório habilitado, onde os carrapatos serão expostos a diversos carrapaticidas para se conhecer o mais eficiente. O Instituto Biológico (IB-APTA), também da Secretaria de Agricultura, oferece o serviço de identificação da espécie, bem como de análise de susceptibilidade a carrapaticidas (saiba mais). “Na APTA Regional de Colina, também oferecemos recomendações e esclarecimentos sobre a importância e controle de carrapatos em atendimentos que fazemos a produtores, seja de forma presencial, ou virtual”, finaliza Anita.

Contato para maiores informações: anita.schmidek@sp.gov.br

 

Por Gustavo Almeida
Assessoria de Imprensa APTA
gsalmeida@sp.gov.br

fdomiciano@sp.gov.br

 

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