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Crise e valorização do dólar podem beneficiar a próxima safra de cana

O impacto da crise financeira mundial na próxima safra de cana-de-açúcar poderá ser positivo, desde que se mantenha o nível das exportações de açúcar e álcool, dizem os pesquisadores Sérgio Alves Torquato e Danton Leonel de Camargo Bini, do Instituto de Economia Agrícola (IEA-APTA), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. É que “até o momento houve uma valorização do dólar frente ao real, tornando o produto brasileiro mais competitivo em relação àqueles países que não passaram por desvalorizações em suas moedas”. “O momento é de incertezas, de preços baixos, de falta de crédito, mas quem quer se manter e crescer na atividade com lucratividade deve buscar melhorar a produtividade no campo e tornar mais eficiente o processo produtivo, o que exige pesquisa, desenvolvimento e investimentos com visão nítida nas oportunidades de mercado no futuro para o setor”, receitam os pesquisadores que acabam de publicar artigo no site do IEA (www.iea.sp.gov.br). “A saída é ocupar os mercados com fôlegos de crescimento, como a fatia que a diminuição da oferta de açúcar indiano abrirá, podendo tornar a próxima safra brasileira mais açucareira e assim reduzir o excedente de oferta de etanol característico dos últimos anos.” Os técnicos do IEA acreditam que a crise pode ser um momento excepcional para boas oportunidades e, assim, se deve estar atento a uma visão de futuro e de tendências. “As usinas “familiares”, como também as usinas pertencentes a grupos maiores e mais fortes, devem sempre buscar dialogar e discutir com os especialistas tanto do setor privado como do governo para minimizar problemas e euforias.” O planejamento e a pesquisa são ferramentas importantes para orientar decisões e evitar desvios de foco e de oportunidades, observam os pesquisadores. “A aquisição ou a fusão de grupos nesse momento talvez seja o caminho – oportunidade - que os atores do setor encontrem para amenizar os reflexos dessa crise, o que poderá aumentar a concentração ou maior oligopolização em suas atividades.” Os autores do trabalho acham que “é preciso criar uma expertise nesses casos, considerando que as crises no setor sucroalcooleiro são recorrentes. O investimento em tecnologia, gestão de processos e de risco podem minimizar problemas de curto e médio prazo”. E lembram que “o planejamento das atividades não se encerra a cada safra, sendo preciso visão de futuro e competência para se manter nesse mercado que está cada vez mais competitivo e exigente de qualidade”. Impactos da crise A crise financeira mundial, deflagrada no segundo semestre de 2008, gerada por um descontrole financeiro, tornou-se a raiz da desconfiança no sistema, analisam os técnicos. “Partindo dessa constatação, empresas “emergentes” e com fragilidades de mercados - como alguns casos de empresas do setor sucroalcooleiro - foram alvos mais fáceis da especulação e do oportunismo.” O setor sucroalcooleiro - configurado em parte por bases gerenciais “familiares”, com somente dois grupos com ações em bolsas (Cosan e São Martinho) - opera primordialmente nos mercados de açúcar e álcool, observam os técnicos. “O primeiro tem maior inserção tanto no mercado interno como no externo: por ser uma commodity que apresenta grande instabilidade de preços ocasionada por conta de especulações, formação de estoques e quebra localizada de safra. O preço do açúcar está atrelado à relação estoque/consumo, e sua demanda é inelástica em relação ao preço e à renda por ser o açúcar um bem essencial e de necessidade básica. Por outro lado, por ser uma commodity e com grande parcela nas exportações, poderá ser beneficiado via câmbio/preço, sabendo-se que um aumento do preço externo do açúcar pode gerar um deslocamento da oferta interna para o mercado externo. Vale salientar que o mercado do açúcar tanto interno como externo é mais consolidado.” Já o álcool (etanol) ainda não é uma commodity, não tem grande inserção no mercado externo (o mercado interno é o seu maior consumidor), sendo negociado no mercado futuro de forma tímida. “A problemática mais relevante, nesse caso, está localizada na relação entre o seu preço e sua demanda ao preço do petróleo em queda que poderá no médio prazo afetar os planos de investimentos externos no setor. O que alavanca as pesquisas relacionadas ao desenvolvimento e à produção de combustíveis renováveis são os preços relativos do petróleo.” Nos últimos dois anos, o setor sucroalcooleiro realizou grandes investimentos em novas unidades de produção e no alargamento dos canaviais, na esperança da expansão da demanda do álcool combustível no mercado internacional, dizem os pesquisadores. “O que se viu foi uma oferta excedente geradora de “preços ruins”. Isso decorre de uma expectativa irrealista em relação à demanda de açúcar e álcool, de uma confusão em relação à sinalização do mercado e de dificuldades para se saldar as dívidas contraídas. Dessa forma, a retração ou paralisação dos fluxos de investimentos estrangeiros no setor não acontece somente devido à crise financeira agravada no atual momento, mas sim é acentuada por ela.” A falta ou dificuldade de crédito, decorrente da crise, pode levar algumas unidades a diminuir ou suprimir etapas na produção (manutenção, fertilizantes, defensivos, etc.), o que pode acarretar atrasos no avanço de novas tecnologias e nos ganhos de produtividade, alertam os pesquisadores do IEA. “Individualmente, a crise afetou empresas do setor que negociam ações na bolsa e registraram expressivas quedas em seus valores na BOVESPA. Também foram afetadas empresas que fizeram hedge cambial, que serviu como uma proteção à variação do câmbio. Com o desaquecimento das economias mundiais, pode-se ter um reflexo na renda. A crise de incertezas leva alguns investidores a postergarem os investimentos que afetam diretamente o dinamismo da economia e, consequentemente, o setor sucroalcooleiro.” Petróleo e pecuária As cotações internacionais do petróleo em 2008 despencaram do nível recorde em julho, ultrapassando US$147, para US$32,40 em dezembro de 2008 com a crise internacional. Assim, “por um lado, se o valor do petróleo se mantiver nos níveis baixos de preços atuais, cerca de U$$40,00 o barril, por um longo período, levará ao desestímulo do desenvolvimento de alternativas ao combustível fóssil, como também inviabilizará a exploração de petróleo com alta tecnologia, como no caso do “pré-sal”. Por outro lado, gerará uma pressão deflacionária dos preços nos mercados de insumos agrícolas (fertilizantes) dependentes do petróleo.” Já os diagnósticos de expansão para os próximos anos, quando se retratam o surgimento de novas usinas e canaviais, parecem estar sendo refeitos, observam os pesquisadores. “Áreas arrendadas em final de contrato estão sendo revistas e muitos proprietários ligados à pecuária no oeste paulista, por exemplo, estão aptos a cobri-las novamente com pastagens, devido à valorização da arroba do boi concomitante à desvalorização dos rendimentos adquiridos via arrendamento da cana.” “Assim, com a mudança nas perspectivas de rentabilidade entre a lavoura canavieira e a pecuária, esta tendência pode estar sendo alterada devido à recuperação dos preços do boi gordo.” Assessoria de Comunicação da APTA José Venâncio de Resende (11) 5067-0424

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