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Demanda fraca corrói cotações do açúcar

A retração sazonal da demanda global corroeu as cotações internacionais do açúcar em setembro, e das principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior o "ouro branco" foi a que mais perdeu valor no mês. Segundo cálculos do Valor Data baseados no preço médio dos contratos futuros de segunda posição de entrega, o açúcar registrou queda de 9,7% em relação à média de agosto na bolsa de Nova York. Com isso, neste ano a desvalorização acumulada chegou a 11,82%, o que reduziu a alta dos últimos doze meses para 13,9%. Conforme Fernando Martins, operador da Fimat Futures, a demanda mundial foi golpeada sobretudo pela "saída" da Rússia do mercado. Maior importador mundial do produto, o país colhe no momento sua safra de beterraba, a partir da qual produz o açúcar que complementa suas necessidades. Além disso, destacou Martins, a produção na Ásia está em recuperação. "Sobretudo na Índia, onde a safra deve crescer e voltar ao patamar de três anos atrás". O tombo internacional teve reflexos no mercado doméstico, onde ainda assim o açúcar permanece mais rentável que o álcool. "A seca no centro-sul do Brasil ajudou a aumentar o teor de sacarose da cana [o que favorece o açúcar no mix de produção das usinas, em detrimento do álcool] e a falta de chuvas beneficiou a colheita", disse ele. Martins acredita que os preços no exterior permanecerão estáveis em outubro, entre 10,50 e 12,50 centavos de dólar por libra-peso em Nova York, uma vez que os fundamentos baixistas já foram praticamente absorvidos. Mas concorda que a recente tendência de queda - as cotações atingiram o pico de quase 20 cents em fevereiro último na bolsa - poderá reduzir o ritmo de investimentos em novas usinas no mercado brasileiro. Mas não foram apenas os chamados fundamentos que influenciaram a direção do açúcar em setembro. Isso porque foi mais um mês de forte influência do índice CRB (formado com grande peso do petróleo e das commodities metálicas) no mercado agrícola, e o indicador chegou a cair ao mais baixo nível desde julho de 2005. "A queda das commodities de energia, principalmente do petróleo, também ajudou a pressionar alguns produtos agrícolas, entre eles o açúcar", ressaltou Rodrigo Costa, também da Fimat Futures. Ainda em Nova York, onde nenhuma das principais commodities agrícolas escapou da queda de preços médios em setembro, a retração do algodão só perdeu para a do açúcar. Também em conseqüência da demanda mundial mais magra, o produto recuou 5,63% em relação à média de agosto, conforme os critérios do Valor Data, e no ano a variação passou a ser negativa (2,16%). Nos últimos 12 meses, ainda há alta de 1,84%. No ranking das quedas nova-iorquinas, o cacau aparece em terceiro lugar, com variação negativa de 2,7% em setembro. Com as atenções dos analistas sempre voltadas à oferta africana, as cotações acumulam ganho de 1,86% neste ano e de 3,43% nos últimos doze meses. Já o suco de laranja registrou baixa de 2,11% no preço médio de seus contratos de segunda posição de entrega em setembro, mas nada capaz de derrubar os preços do produto da plataforma em que se encontram. No ano, ainda há salto acumulado de 38,26%; nos últimos doze meses, a alta chega a 79,53% - de longe a maior valorização para o período entre os produtos analisados (ver gráficos acima). Segundo Michael McDougall, da Fimat, a queda do mês passado refletiu a fraca temporada americana de furacões. Ocorre que os danos nos pomares de laranja da Flórida causados pelas duas temporadas anteriores continuam a sustentar as cotações, e assim será por pelo menos mais dois anos, conforme produtores da fruta e indústrias de suco do Brasil - o maior exportador global da bebida. No caso do café, os fundamentos pouco influenciaram os rumos do mercado, que de uma maneira geral acompanhou as oscilações do índice CRB. Assim, houve queda de 1,62% na comparação entre setembro e agosto, o que reduziu as valorizações acumuladas no ano e nos últimos doze meses - que passaram a 6,19% e 12,8%, respectivamente. Mas há pressão à vista, uma vez que o Vietnã, grande produtor de café robusta, deverá colher uma safra recorde. Na bolsa de Chicago, onde são negociados soja e derivados, milho e trigo, os preços refletiram basicamente as notícias relacionadas ao desenvolvimento da safra americana, que está sendo colhida, e no caso específico do trigo, também o clima em outros importantes países produtores. Como há problemas causados por estiagens na Argentina e na Austrália, e nos EUA a falta de umidade pode comprometer a qualidade do cereal, conforme pontuou Flávia Moura, da Fimat Futures, a cotação média do cereal subiu 5,57% no mês passado em relação a agosto, ampliando os ganhos no ano para 28,78% e nos últimos doze meses, para 26,61%. "O Iraque demonstrou interesse em importar trigo, o que também ajudou a dar suporte às cotações". O milho também subiu, segundo os critérios do Valor Data. Na comparação com agosto, o preço médio de setembro foi 3,84% superior. No ano, há valorização de 20,16%, e nos últimos doze meses, de 17,89%. Paulo Molinari, da Safras&Mercado, lembrou que a demanda adicional gerada pela demanda para a produção de etanol segue oferecendo suporte, e que o último relatório de oferta e demanda do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) mostrou queda nos estoques finais do grão. Para a soja, finalmente, a ausência de novidades deixou os preços à mercê dos rumos de outras commodities e do índice CRB, conforme Seneri Paludo, da Agência Rural. O indicador recuou, e o cenário de gordos estoques globais prevaleceu. A queda em setembro foi de 1,64%, o que elevou as perdas no ano para 7,39% e nos últimos doze meses para 5,34%.

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