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II Mutirão Agroflorestal no Vale do Paraíba: tecnologias para conciliar agricultura e recuperação ambiental

Incentivar a adoção de sistemas agroflorestais (SAFs), para a restauração ambiental no Vale do Paraíba do Sul, é o propósito do “II Mutirão Agroflorestal do Vale do Paraíba”, que acontece nos dias 9 e 10 de fevereiro em Pindamonhangaba (SP). O evento, que visa articular a criação da “Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba”, será realizado pelo Polo Vale do Paraíba/APTA Regional em parceria com a CATI Pindamonhangaba, ambos vinculados à Secretaria de Agricultura e Abastecimento. 
O assunto foi discutido em 2011 durante o “I Mutirão Agroflorestal do Vale do Paraíba” que reuniu um público de 30 pessoas, entre produtores rurais, pesquisadores, educadores, estudantes de curso técnico agropecuário, gestores ambientais de unidades de conservação, empresários e organizações não-governamentais (ONGs). Fruto do evento, foram implantadas duas novas unidades de vivência, que podem servir de referência para a recuperação de mata ciliar e da reserva legal no Vale do Paraíba, com possibilidade de geração de renda ao produtor e redefinição do uso do solo, neste caso, de uma área de cultivo de pupunha abandonada convertida em SAF.
Desenvolvimento regional
A contribuição ao desenvolvimento regional passa pela recuperação da cobertura florestal de Mata Atlântica,  seja por meio das matas ciliares e da reserva legal, utilizando os  SAFs como indutores dessa restauração ambiental, diz o pesquisador Antonio Carlos Pries Devide, um dos organizadores do mutirão. Ele cita ainda o SAF como alternativa à monocultura do eucalipto, por meio da obtenção de produtos agrícolas e florestais simultaneamente (conservação de solo e água), bem como mecanismo de ligação de fragmentos remanescentes de Mata Atlântica (conservação de habitats naturais, fixação da mão de obra no campo e agregação de valor à terra).
O Vale do Paraíba do Sul é uma das regiões com solos mais desgastados do Brasil, por onde passou o ciclo do café, observa Devide. Isto gerou “um quadro de empobrecimento das terras e de fragmentação da floresta Atlântica, convertida em pastagens extensivas que muitas vezes ocupam áreas ciliares, morros e encostas íngremes, onde a aptidão do solo o indicaria à preservação permanente, agroflorestas ou silvicultura”.
Como a Mata Atlântica é a matriz florestal, a situação ganha tons de desastre ambiental, devido à importância desse bioma para o planeta, explica. Trata-se de “uma das cinco regiões mais ricas em biodiversidade, principalmente para a fauna e a população que dependem das águas do rio Paraíba do Sul, atualmente assoreado, com diversas ocupações irregulares e a extração de areia ao longo de sua calha”.
Os SAFs podem tornar-se uma das formas mais sustentáveis de restauração da Mata Atlântica, prossegue o pesquisador, convertendo o ecossistema degradado em outro, com destino e uso distintos, mais produtivo e com baixo uso de recursos externos e de capital. “Os sistemas agroflorestais podem recuperar a capacidade produtiva dos solos, reduzindo os processos erosivos, aumentando a recarga hídrica, abastecendo os aqüíferos subterrâneos, melhorando a paisagem, agregando valor à terra e conservando habitats naturais. Pode ser um dos vetores de ligação entre os fragmentos florestais remanescentes, melhorando o fluxo de animais silvestres e com isso beneficiando, também, a diversidade biológica.”
Tecnologias disponíveis
Entre as tecnologias disponíveis para os produtores, Devide cita o cultivo do guanandi como opção para os solos de terras baixas, “geralmente cultivados com o alto uso de insumos químicos como acorre com o arroz nas várzeas e a olericultura em terras baixas, gerando a contaminação do solo e da água”.  Além disso, ele aponta a redefinição do uso do solo, ou seja: “no caso de pomares degradados, áreas de produção de pupunha abandonadas, pastagens abandonadas, temos um protocolo de manejo estabelecido e ainda o estamos melhorando com vistas à recuperação da fertilidade química, física e biológica por  meio dos SAFs. Isto está sendo pesquisado por meio de módulos instalados no Pólo Regional e é um processo de contínuo aprendizado. Cada etapa gera um rol de recomendações e procedimentos de  manejo”.
Outro exemplo é a introdução de cultivares resistentes às doenças, como é o caso da bananeira IAC 2001, avaliada desde 2011, e da BRS Conquista (recém introduzida). Também é recomendado o manejo de espécies arbóreas leguminosas nativas tolerantes ao encharcamento do solo e com alta capacidade de fixação biológica do nitrogênio, como Sesbânia (Sesbania sp.), ingá (Inga sp.) e anjico preto.
Devide cita relatos de produtores que estão em processo de conversão em sistemas agroflorestais, bem como de agricultores que já tem o sistema consolidado. Em Jacareí, dois produtores fazem o manejo de SAFs. Um deles é Geni Modollo, produtora orgânica há mais de 15 anos, que está convertendo em SAFs áreas de pupunha que estavam em processo de declínio, infestadas por braquiária, aplicando os conhecimentos gerados no I Mutirão Agroflorestal. Ela recupera a mata ciliar com produção de maracujá em SAF.
Em Cunha, há relatos de SAFs introduzidos por organização não-governamental (ONG), como maneira de recuperar o ambiente e fixar a mão de obra no campo. Em Taubaté, o produtor João Leite vem convertendo seu bananal em SAF, com a introdução da palmeira juçara (espécie em risco de extinção) para a  coleta dos frutos e produção da polpa, entremeada à bananeira. Também vem manejando as árvores que são semeadas naturalmente entre os pés de banana.
Na Serra da Mantiqueira (São Francisco Xavier, São Bento do Sapucaí, Santo Antônio do Pinhal e Campos do Jordão), diversos  produtores praticam, sem saber, os SAFs. Eles mantêm a Araucaria angustifolia (pinheiro brasileiro) entremeada às áreas de produção de banana (Silvibananeiro) e pastagens (Silvipastoril), realizando a coleta e a comercialização do pinhão (há inúmeros registros de iniciativas locais).
Rede agroflorestal
O Projeto LUPA da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) não faz essa diferenciação para os SAFs, explica Devide. “Então, não temos informações precisas da área em produção, em conversão, das iniciativas locais. Estabelecer um levantamento abrangente para o Vale do Paraíba é importante em função dos problemas ambientais existentes: mineração de areia nas várzeas; supressão da Mata Atlântica desde o ciclo do café, impedindo o fluxo das espécies no Corredor da Serra do Mar-Mantiqueira; ocupação de áreas sem aptidão agrícola (Domínio de Mar de Morros), o que gera danos ambientais; e, recentemente, a monocultura do eucalipto, que vem sendo alvo de ações da Defensoria Pública estadual, visando estabelecer critérios rígidos para essa exploração, sem que isto cause mais danos ambientais, riscos à segurança alimentar e aumento do êxodo rural.”
Assim, uma rede agroflorestal possibilitará o melhor planejamento, explica Devide, “para focarmos as atividades científicas de maior demanda, para atender às questões mais importantes, como vem ocorrendo com o guanandi, onde a Fazenda Coruputuba (1911), além do seu cultivo, realiza o fomento ao plantio dessa espécie na região. Como isso ocorre em áreas sujeitas à inundação, é muito importante converter essa produção em SAF, uma vez que a espécie apresenta o crescimento mais lento, aproveitando melhor o solo e os demais fatores de produção (água, luz e nutrientes)”.
Com a rede estabelecida, acredita Devide, “além da circulação mais rápida da informação, podemos realizar projetos conjuntos visando garantir benefícios maiores, tanto para o produtor, que precisa estar organizado para comercializar sua produção, quanto para o meio ambiente, melhorando a ligação entre remanescentes da vegetação nativa”.
As pesquisas e a transferência de tecnologias agroecológicas no Polo Regional Vale do Paraíba ocorrem desde 2005, relata Devide. “E foi por meio do Projeto Vitrine Agroecológica que a geração participativa e a transferência das tecnologias para o público em geral foi consolidada. Os SAFs fazem parte dessa vitrine.” Uma referência é o dia de campo, bem como a oficina de sistemas agroflorestais, realizado em 2010, onde 40 participantes visitaram um SAF e interagiram para o planejamento e a montagem de um módulo agroflorestal.
O mutirão será realizado no Setor de Fitotecnia do Polo Vale do Paraíba/APTA Regional, Av. Antônio Pinheiro Junior nº 4009, Ponte Alta (km 97,5 Rod Dutra) – Pindamonhangaba (SP). Mais informações podem ser obtidas por meio do e-mail npd-vp@apta.sp.gov.br e do telefone (12)3642-1823. A programação está disponível em: http://www.apta.sp.gov.br/cursos_eventos1.php?id=1580
Assessoria de Comunicação da APTA
José Venâncio de Resende
Eliane Christina da Silva (estagiária)
(11) 5067-0424

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