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Importância do pulgão na transmissão do vírus do mosaico das nervuras do algodoeiro

O algodoeiro, Gossypium spp., é conhecido mundialmente como uma das plantas que mais enfrenta problemas com pragas, sendo que estes organismos podem reduzir a produtividade e a qualidade das sementes e fibras (SANTOS, 1999). Dentre esses, destacam-se os pulgões, pois além de sugarem a seiva, interferindo no desenvolvimento das plantas (CALCAGNOLO & SAUER, 1954; GODFREY et al., 2000), são eficientes vetores de vírus fitopatogênicos (PEÑA-MARTÍNEZ, 1992; COSTA et al., 1997). De acordo com BLACKMAN & EASTOP (1984), as espécies de pulgões que podem ocorrer na cultura do algodão em nível mundial são: Aphis maidiradicis Forbes, 1891; Rhopalosiphum rufiabdominalis (Sasaki, 1899); Macrosiphum euphorbiae (Thomas, 1878); Aphis craccivora Koch, 1854; Aphis fabae Scopoli, 1763; Smynthurodes betae Westwood, 1899; Acyrtosiphon gossypii Mordvilko, 1914; Myzus persicae (Sulzer, 1776) e Aphis gossypii Glover, 1877 (Figura 1). Segundo STOETZEL et al. (1996), as espécies que ocorrem em algodoeiro nos Estados Unidos, são as mesmas citadas por BLACKMAN & EASTOP (1984), exceção feita à espécie Acyrtosiphon gossypii. No Brasil, as espécies comumente encontradas são A. gossypii e M. persicae (COSTA, 1972). MICHELOTTO & BUSOLI (2003a) realizaram levantamento de espécies de pulgões que ocorrem em algodoeiro no município de Campo Verde (MT) e registraram a ocorrência de A. gossypii (89,5% do total amostrado), Aphis spiraecola Patch, 1914 (9,2%) e Rhopalosiphum padi (Linnaeus, 1758) (1,3%). VENDRAMIM & NAKANO (1981) observaram que o ataque de A. gossypii em plantas de algodão em cultivo protegido provocou redução na altura e no peso de matéria seca, mesmo com infestação apenas nos primeiros 15 dias após a emergência das plantas (DAE). Em condições de campo, a incidência dos pulgões foi verificada até os 60 DAE, com pico populacional ocorrendo aos 35 DAE na cultivar IAC-17. O ataque provocou redução da ordem de 24,09% no peso do algodão em caroço, bem como atraso na maturação das plantas. São encontrados na literatura relatos de pelo menos 250 patógenos associados ao algodoeiro em todo o mundo, dentre eles, mais de 16 vírus. No Brasil, os vírus que ocorrem são: Mosaico Comum, Mosaico Tardio, Vermelhão ou Antocianose e o Mosaico das nervuras do algodoeiro (VMNA) (CIA & ARAÚJO, 1999). O VMNA, “doença azul” ou “enfermidad azul” foi constatado pela primeira vez em 1937. Em 1962/63, foi detectada uma estirpe mais virulenta em algodoeiros do município de Ribeirão Bonito, e posteriormente nos municípios de Dourado, Boa Esperança e Bocaina, no Estado de São Paulo, com alto potencial destrutivo (COSTA et al., 1997). Atualmente, com a introdução no país de cultivares suscetíveis, o VMNA tem sido detectado com maior freqüência causando, em determinados casos, sérios prejuízos no Brasil (Região Centro-Oeste) e no Paraguai (CIA & SALGADO, 1997). Em outras regiões algodoeiras do mundo, ocorre uma doença virótica conhecida como mosaico azul, enfermidade azul ou doença azul (África e Paraguai), podendo tratar-se da mesma doença. Na África, o foco de origem da doença azul foi a República da África Central onde foi relatada primeiramente em 1949 e posteriormente observada em outros países (Tchad, Camarão, Zaire, Benin, Ivory Coast) (CAUQUIL, 1977). Os sintomas do VMNA consistem na rugosidade e curvatura dos bordos foliares para baixo (Figura 2), principalmente nas folhas mais novas, clareamento das nervuras, formando mosaico, seguido de escurecimento das folhas mais jovens, encurtamento dos internódios, reduzindo assim o porte da planta (Figura 3). A estirpe Ribeirão Bonito provoca sintomas mais acentuados, reduzindo drasticamente o porte e desenvolvimento das plantas. Quando a inoculação do vírus ocorre em plantas novas não ocorre produção de algodão. Em inoculações mais tardias, a produção também é afetada, mas de forma menos intensa. Em estudos realizados na Argentina, BONACIC et al. (199?) acreditam que em função das características de sintomatologia e forma de transmissão, o inseto vetor e o agente causal (vírus), “maladie bleue” na África, mosaico das nervuras forma Ribeirão Bonito no Brasil e “enfermidad azul” (“mal das misiones”) na Argentina se referem à mesma doença. Os autores ainda questionaram a possibilidade do vírus do mosaico das nervuras ser um membro da família Luteoviridae. Uma característica típica dos vírus pertencentes à família Luteoviridae é a alta especificidade com o vetor, existindo uma ou poucas espécies de pulgões capazes de transmiti-los (MATTHEWS, 1991). A transmissão dos membros dessa família se dá através de pulgões vetores, sendo esta de maneira persistente, circulativa e não propagativa (SMITH, 1968; HARRISON, 1999; HERRBACH, 1999; HULL, 2002). Como regra, após tornarem-se infectados, os pulgões vetores são capazes de transmitir as partículas virais por semanas, na qual passam pela parede do intestino, indo em direção à hemolinfa e retornando para as glândulas salivares, tornando-os infectivos (COSTA, 1998). Normalmente, o tempo de aquisição das luteoviroses é de várias horas, seguido por um período mínimo de latência de 12 horas, sendo transmitidas por um período de inoculação de 15 a 30 minutos. É capaz de transmitir por vários dias (HULL, 2002). Em experimentos, para uma transmissão eficiente dos luteovírus, recomendam-se períodos de 24 horas de aquisição e inoculação (MATTHEWS, 1991). Os luteovírus possuem como características as formas isométricas, restrição ao floema e transmissão de maneira persistente por pulgões. Além disso, uma característica dos luteovírus é a de elevar a concentração de açúcares em tecidos foliares, como por exemplo, o aumento do teor de amido em folhas infectadas pelo vírus do enrolamento da folha da batata (Potato leafroll virus - PLRV), pelo vírus do nanismo amarelo da cevada (Barley yellow dwarf virus - BYDV) e pelo vírus do amarelecimento foliar da cana-de-açucar (Sugarcane yellow leaf virus - ScYLV) (ORLOB & ARNY, 1961; BARROSO et al., 1995). O mesmo foi verificado por BARROSO et al. (2003) ao constatarem, em plantas de algodoeiro infectadas pelo VMNA, aumento do grau brix (sólidos solúveis) nos pecíolos e no teor de amido em folhas de algodoeiro infectadas. Testes moleculares com o objetivo de identificar a doença foram realizados por TAKIMOTO (2003) utilizando “primers” universais para o PLRV e teste DAS-ELISA utilizando antissoros policlonais do BYDV, PLRV e ScYLV apresentaram resultados negativos. Recentemente, CORRÊA et al. (2005) realizaram novos testes moleculares e em função da alta percentagem de identidade e filogenia da capa protéica e seqüência parcial do RNA dependente RNA-polimerase (RdRP) confirmaram a natureza viral e atribuíram o vírus à família Luteoviridae. Relatam ainda que, como foi a primeira vez que se comprovou que esta doença é realmente de origem viral sugeriu-se que fosse denominada “Cotton leafroll dwarf vírus” – CLRDV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS HERRBACH, E. Vector-virus interactions. In: SMITH, H.G.; BARKER, H. The Luteoviridae. Wallingford: CABI, 1999, p.85-146. HULL, R. Matthews’ Plant Virology. San Diego: Academic Press, 2002. 1001 p. MATTHEWS, R.E.F. Plant Virology. San Diego: Academic Press, 1991. 835p. MICHELOTTO M.D.; BUSOLI A.C. Efeito da época de inoculação do vírus do mosaico das nervuras por Aphis gossypii Glover (Hemiptera: Aphididae) no desenvolvimento e na produção do algodoeiro. Neotropical Entomology, Vacaria, v. 35, n. 2, p. 251-256, 2006. MICHELOTTO, M.D.; BUSOLI, A.C. Diversidade de pulgões na cultura do algodoeiro no município de Campo Verde (MT). Bragantia, v.62, n.1, p.75-79, 2003a. MICHELOTTO, M.D.; BUSOLI, A.C. Eficiência de ninfas e adultos de Aphis gossypii Glov. na transmissão do vírus do mosaico-das-nervuras do algodoeiro. Bragantia, v.62, n.2, p.255-259, 2003b. ORLOB, G.B..; ARNY, D.C. Some changes accompanying infection by barley yellow dwarf virus. Phytopathology, Saint Paul, v.51, p. 768-775, 1961. PEÑA-MARTINEZ, R. Identificación de afidos de importância agricola. In: URIAS-M, C.; RODRÍGUEZ-M, R.; ALEJANDRE-A, T. Afidos como vectores de virus en México. México: Centro de Fitopatologia, Montecillo, 1992. v.2, cap.1. p.1-135. SANTOS, W.J. Monitoramento e controle das pragas do algodoeiro. In: CIA, E.; FREIRE, E.C.; SANTOS, W.J. (Eds.). Cultura do algodoeiro. Piracicaba: Potafós, 1999. cap.9, p.134-179. SMITH, K.M. Transmission by vectors. In: ______. Plant Viruses. London: Methuen, 1968. cap. 8, p. 72-86. STOETEZEL, M.B. et al. Aphids (Homoptera: Aphididae) colonizing cotton in the United States. Florida Entomologist, Winter Haven, v.79, n.2, p.193-205, 1996. TAKIMOTO, J. K. Estudo da relação vetor-patógeno-hospedeiro para a doença azul do algodoeiro. 2003. 97 f. Dissertação (Mestrado em Agricultura Tropical e Subtropical) – Instituto Agronômico de Campinas, Campinas, 2003. VENDRAMIM, J.D.; NAKANO, O. Avaliação de danos de Aphis gossypii Glover, 1877 (Homoptera: Aphididae) no algodoeiro cultivar “IAC-17”. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, Jaboticabal, v.10, n.1, p.89-96, 1981. ___________________________________________ Texto produzido pelos pesquisadores científicos Eliane Gomes Fabri e Paulo Eduardo da Rocha Tavares, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios - APTA - Pólo Regional da Alta Paulista - UPD Adamantina, um órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Mais informações através do e-mail efabri@aptaregional.sp.gov.br, ptavares@aptaregional.sp.gov.br

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