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Instituto de Pesca estuda Sistemas de Recirculação de Água, considerados a forma mais ecológica de produzir peixes em nível comercial

Adoção do sistema traz maior produtividade e rendimentos para o aquicultor, mas requer investimento e planejamento

Pesquisas realizadas pelo Instituto de Pesca (IP-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, buscam aperfeiçoar e expandir o uso de Sistemas de Recirculação de Água (SRA) na aquicultura. Passíveis de serem usados no cultivo de diversos tipos de organismos, os SRA causam menos impactos ambientais e ocupam menos espaço que outros meios de produção de organismos aquáticos.

“A aquicultura em SRA é essencialmente uma tecnologia de cultivo de organismos aquáticos por meio do reaproveitamento (ou recondicionamento) da água da produção”, diz Eduardo Ferraz, pesquisador do IP. “Geralmente estes animais são produzidos em maior densidade que os sistemas convencionais de criação”, agrega. Apesar de ainda estar ganhando espaço no Brasil, o pesquisador do Instituto afirma que a tecnologia vem se desenvolvendo expressivamente em vários países, “seja pela necessidade decorrente da falta de água disponível, seja pelo avanço de projetos e equipamentos”.

De acordo com Ferraz, neste tipo de sistema é necessário que a água seja continuamente tratada para remoção dos resíduos e micro-organismos e, também, deve haver um aporte constante de oxigênio para a manutenção dos animais. Isso é feito a partir do emprego de filtros mecânicos, químicos e biológicos, e o método pode, a princípio, ser usado para qualquer espécie cultivada na aquicultura (peixes, camarões, moluscos etc.) e em propriedades de quaisquer tamanhos. “O reaproveitamento da água de cultivo está cada vez mais presente na aquicultura”, afirma o especialista. “Os SRA estão sendo implantados em unidades de produção que variam de grandes plantas que geram muitas toneladas de peixes por ano para consumo, a pequenos sistemas sofisticados, usados na produção de alevinos, reprodução de peixes para repovoamento ou espécies ameaçadas, no cultivo de organismos ornamentais ou de animais de biotério para uso em laboratórios de pesquisa”, complementa.

Menos água e mais controle

Desde que implementados de maneira planejada, os SRA tendem a trazer muitas vantagens para a atividade aquícola e para o ambiente. De acordo com o pesquisador do IP, de fato a vantagem mais evidente é a economia de água devido à reutilização constante. “A quantidade limitada de água usada na recirculação é obviamente benéfica para o ambiente, pois o recurso se tornou escasso em muitas regiões. Além disso, torna-se muito mais fácil e barata a remoção dos nutrientes excretados pelos peixes, já que o volume de água descartado nos cursos d’água é muito menor do que aquele descarregado em uma piscicultura tradicional”, assegura Ferraz.

As vantagens, no entanto, não param aí. “Estes sistemas conservam o calor da água, devido a sua reutilização, o que leva a uma economia da energia necessária para a manutenção da temperatura”, ressalta o especialista. Além disso, ele lembra que os SRA ocupam muito menos espaço da propriedade - cerca de 1% da área que seria ocupada por um sistema convencional -, o que reduz o trabalho do produtor e possibilita a destinação de espaço para outras finalidades. “Os efluentes produzidos podem ser usados como fertilizante em terras agrícolas ou em estufas, ou ainda como base para produção de biogás”, lembra o pesquisador do IP.

Quanto à produção aquícola em si, o pesquisador garante que é possível ter um controle muito maior do processo usando um SRA, o que traz benefícios que se refletem em maior produtividade e melhor qualidade do produto final. “Há uma melhoria no controle das enfermidades que afetam os organismos, visto que no processo é possível a passagem de toda água do sistema por lâmpadas de ultravioleta ou sistemas de ozonização da água, que reduzem a valores muito baixos a quantidade de organismos patogênicos presentes na água do cultivo”, detalha Ferraz. Em função do maior controle sobre o processo, o pesquisador acrescenta que há um melhor desenvolvimento dos organismos, refletindo em maior produção por metro quadrado de instalação. “Adicionalmente, estes sistemas podem ser montados próximo aos mercados consumidores”, completa.

Apesar de todos os benefícios, Ferraz pondera que alguns fatores devem ser levados em conta antes de se instalar um sistema do tipo ou realizar uma transição para ele. “Os SRA exigem mais investimento que a maioria dos sistemas tradicionais: uma unidade de cultivo requer equipamentos de suporte, como geradores e sistemas inteligentes de gestão, que vão incidir nos custos de produção”, coloca o pesquisador do IP. Segundo defende, é preciso ter uma produção de pescado suficiente para que seja possível arcar com estes custos operacionais e manter a competitividade do negócio. Outro ponto a se levar em consideração é a necessidade de pessoal capacitado para gerenciamento da planta de produção.

“A aquicultura em SRA é particularmente mais dependente de um manejo correto e de ações precisas quando comparada a diversas outras formas de produção agrícola”, ressalta o especialista. Para ele, os erros na concepção do projeto e em seu manejo, uma vez implementado, são quase sempre a razão que leva à falta de sucesso da iniciativa. “O projeto do empreendimento, a correta aquisição de equipamentos e a construção da planta de SRA devem ter acompanhamento de profissionais da área com conhecimento profundo de todas as etapas envolvidas para seu correto funcionamento”, assevera.

Pesquisas do IP vão da escala laboratorial à grande produção

Além do uso voltado para produção de pescado para alimentação humana, a tecnologia de SRA tem bastante aplicabilidade também em escalas menores, podendo ser empregada para além do contexto do campo. Dentre as pesquisas com o tema desenvolvidas por Ferraz no IP, está o uso de sistemas de recirculação de menor tamanho para manutenção de espécies aquáticas utilizadas em experimentação científica. “Algumas espécies de peixes constituem importantes alternativas para o uso de mamíferos em experimentação animal”, menciona o especialista. Segundo ele, espécies como zebrafish (Danio rerio) ou lebiste (Poecilia reticulata), são atualmente bastante utilizadas em testes de ecotoxicologia ou mesmo de medicamentos veterinários, o que gera a necessidade de se criar os animais no próprio laboratório. “Estamos desenvolvendo um modelo vertical de recirculação voltado para essa finalidade, que seja mais barato e possa ser reproduzido por outros pesquisadores e laboratórios”, elucida Ferraz. Por serem estruturas de menor tamanho e que exigem menos investimento quando comparadas à piscicultura de corte, os sistemas verticais estudados encontram espaço também no universo da aquariofilia e na produção de peixes-ornamentais. “Tanto lojas, pet shops e expositores podem utilizar o sistema na manutenção de seus aquários, quanto os criadores comerciais das espécies ornamentais”, afirma.

De acordo com o especialista, o Instituto tem procurado, por meio de diversas pesquisas, combinar a tecnologia de SRA a outras, visando ao aumento da produtividade e renda do produtor e ao uso racional de recursos naturais. “Existem algumas propostas interessantes, como o uso da tecnologia SRA aliado à produção agrícola, os chamados sistemas de Aquaponia, que permitem a produção de vegetais a partir dos nutrientes oriundos da criação de peixes”, exemplifica Ferraz. Outra alternativa são os Sistemas de Bioflocos, onde há zero renovação de água, e que pode ser usado para espécies como camarão e tilápias. “Outro sistema interessante que se baseia em reaproveitamento de água é o Sistema Multitrófico, no qual diferentes espécies de organismos aquáticos são criadas em compartimentos separados, mas que possuem interligações entre si para que haja benefícios comuns para todos organismos cultivados”, finaliza o pesquisador do IP.

Imagens: Eduardo Ferraz

 

Por Gustavo Almeida
Assessoria de Imprensa APTA
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