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Integração lavoura-pecuária-floresta: sistema adaptável ao perfil de produtor e de região

Um sistema maleável que se adapta a várias situações, podendo ser adotado por um pecuarista (leite e corte), um produtor de grãos ou um silvicultor em qualquer região do Estado de acordo com as suas aptidões agrícolas. Esta é uma das características do projeto de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), desenvolvido há três anos na região noroeste do Estado de São Paulo pela APTA Regional da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA).
A meta é a adoção da tecnologia por pelo menos 10% dos produtores da região, diz Wander Luis Barbosa Borges, pesquisador do Polo Regional Noroeste Paulista e coordenador do trabalho. O projeto - iniciado em 2009 e com previsão de término em 2017 - é importante para o desenvolvimento regional por incentivar a diversificação de fontes de renda. A área de abrangência do Polo Regional (71 municípios nas regiões de Votuporanga, Jales e Fernandópolis) destaca-se pela produção de leite e carne, soja, milho e sorgo na safrinha.
O sistema ILPF tem-se mostrado ótima alternativa para a produção, na mesma área (em consórcio, rotação ou sucessão), de grãos, madeira e forragem, de acordo com resultados parciais do projeto. Quatro produtores da região já estão utilizando o sistema, numa área de aproximadamente 50 hectares. Para Borges, é importante a instalação de unidades demonstrativas do sistema em áreas de produtores, pois facilita a difusão da tecnologia. “Quando um produtor vê o vizinho fazendo e percebe que deu certo, ele tende a acompanhar e adotar a tecnologia.”   
Os trabalhos começaram em maio de 2009 em área de pastagem degradada (10 hectares) de aproximadamente 10 anos. No primeiro ano, após preparo do solo com aração e gradagens, foi semeado milheto para formação de palhada, destinada à semeadura direta da soja, e plantados dois híbridos de eucalipto (Urograndis H-13 e Grancam 1277) sobre os terraços, em sistema de linha simples.
No segundo ano, após a colheita da soja, semeou-se Crotalaria juncea como planta de cobertura e, em dezembro, plantou-se o milho em sistema de semeadura direta, juntamente com a forrageira Urochloa brizantha cv Marandu na entrelinha do milho sem a presença do eucalipto. A colheita foi realizada em abril de 2011 e, em setembro, as áreas de ILPF e ILP receberam bovinos de corte mestiços recém-desmamados, que serão mantidos em sistema de pastejo contínuo até o momento do abate. Futuramente, serão avaliados o desempenho e a sanidade dos animais. 
Entre os resultados obtidos até agora, o desempenho do híbrido de eucalipto Grancam 1277, com melhor desempenho em altura, diâmetro e DAP (diâmetro à altura do peito, convencionado como o diâmetro do tronco a 1,3 m de altura), permitiu antecipar a entrada do gado no sistema. Além disso, a produtividade do milho, em consórcio com a forrageira Urochloa brizantha, nos sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) e ILPF, foi semelhante à produtividade de milho solteiro (acima de 8 mil kg por hectare), cultivado em sistema de plantio direto. Assim, estes sistemas conservacionistas podem ser recomendados para a região noroeste paulista.
Porém, Wander Borges lembra que há diferenças entre o sistema experimental implantado no Polo Regional, em ambiente controlado, e as adaptações feitas por produtores.
Produtor de Riolândia 
Há um ano, o produtor Hélio Tamada, de Riolândia, aderiu ao sistema ILPF, implantando uma unidade de demonstração na Fazenda Porto Brasil. Na safra de verão 2010/11, ele plantou 6,5 hectares de soja e, em março do ano passado, colheu o grão e introduziu fileiras de eucalipto sobre os terraços, com espaçamento de 18 metros entre linhas e 2 metros entre as árvores (que já estão com cerca de 4 m de altura e 6 cm de diâmetro).
Na propriedade de Tamada, a principal atividade é a produção de grãos, em sistema de plantio direto. Assim, o produtor não fez preparo convencional do solo (ou seja, queimou etapa), explica Flávio Sueo Tokuda, técnico da Casa de Agricultura de Riolândia. Depois da colheita da soja, o produtor deixou a área em pousio na safrinha e plantou milho na safra de verão 2011/12. Agora, com a colheita do milho, deixa de novo a área em pousio e, no verão de 2012/13, volta a plantar milho talvez consorciado com capim braquiária, o que propiciará, cerca de 60 dias após a colheita do milho, ter a pastagem formada.          
A expectativa é de que em seis anos o produtor faça um desbaste do eucalipto (ou seja, corte metade das árvores de maneira que o espaçamento aumente para 4 m). Esta prática, explicam Flávio e Wander, diminui o sombreamento da pastagem; gera alguma renda para o produtor (o eucalipto pode ser vendido para carvão, mourão, estaca etc.); favorece o crescimento das plantas remanescentes (no prazo de 10 a 12 anos, vão atingir “diâmetro de serraria”, ou seja, na metade do tempo do sistema convencional).    
Tamada colheu cerca de 300 sacas de soja na safra 2010/11, ao aproveitar a área toda já que ainda não havia introduzido o eucalipto. Esse sistema do produtor tem caráter comercial, mas também é uma unidade demonstrativa, explica Flávio. “Por estar na beira da rodovia Belmiro Cavalin, tem a vantagem da visibilidade. O produtor desperta a curiosidade de outros produtores.”
Peculiaridades
As linhas de eucalipto foram plantadas sobre terraços, tanto no projeto do Polo Regional quanto na unidade demonstrativa do produtor Hélio Tamada. A diferença está nas distâncias entre as linhas que, no Polo Regional, é de 12 a 15 metros e na área do produtor está na faixa de 16 a 19 metros. Segundo Wander Borges, o espaçamento maior traz mais insolação sobre a pastagem, mas tem menos árvores por área a serem exploradas e menor sombreamento para os animais. 
Outra diferença é que a desrama (tirar galhos das árvores para melhorar a qualidade da madeira, para evitar a presença de nós que deprecia o produto de venda) foi feita no Polo Regional aos seis meses, aos 10 meses, ao 1,4 ano e aos dois anos, mas ainda não chegou ao sítio de Tamada. “O risco de se fazer a desrama tardiamente é que, na eventualidade de formação de nós, eles não vão ficar concentrados na parte central da árvore.”
Uma vantagem da desrama é facilitar a movimentação dos animais, sem que sejam incomodados pelos ramos. “Essa desrama deve ser feita com critério, ou seja, abranger apenas um terço da altura da copa para não prejudicar o desenvolvimento do eucalipto.”
No sistema ILPF do Polo Regional, após a colheita da soja, foi introduzida a Crotalaria juncea como planta de cobertura, enquanto Tamada optou por deixar a área em pousio. “O pousio pode favorecer o aumento de plantas daninhas”, observa Borges.
No Polo Regional, os animais foram introduzidos no segundo ano do projeto (depois de duas safras de grãos), após o plantio do eucalipto. Já no Sítio de Tamada os animais só vão entrar no terceiro ano. “Se o produtor for pecuarista, o ideal seria antecipar a entrada dos animais (cerca de dois anos)”, observa o pesquisador.
“O sistema não é fechado, não existe receita de bolo”, enfatiza Borges. Exemplo é a pecuarista Vanda Bazzo, de Votuporanga, que plantou uma safra de grãos e já entrou com os animais após a colheita do milho. Outra opção é o sistema silvipastoril adotado pelo produtor de leite Nilson Matsumori, do município de Aspásia. Ele plantou o eucalipto e já fez a semeadura da pastagem, sem o cultivo de grãos, utilizando o sistema de pastejo rotacionado e irrigado.
A pastagem de Matsumori é de capim mombaça, mais adequado ao gado de leite. Já no Polo Regional e na propriedade de Vanda foi utilizada a Urochloa brizantha (braquiarão).            
Borges recomenda que se faça inicialmente o preparo convencional do solo, para depois entrar no sistema plantio direto, em caso de pastagem degradada, com a presença de “sulcos de erosão” (provocados pelo caminhamento dos animais), compactação subsuperficial (em camadas mais profundas) e solo descoberto. É o que ocorreu no Polo Regional. “A vantagem é que o produtor consegue padronizar sua área para a produção de grãos.” 
Outra observação de Borges é quanto ao momento do desbaste, que varia de caso para caso, de acordo com o desenvolvimento do eucalipto que é diferente em cada sistema, influenciado por fatores como irrigação (Matsumori), espaçamento (Tamada) e adubação (vale para todos os casos citados).
Para Wander Borges, o produtor de grãos tem maior facilidade de adotar o sistema de ILPF do que o pecuarista, porque ele dispõe do maquinário adequado (semeadora, colhedora e pulverizador). “Um fator de incentivo ao pecuarista pode ser a nova linha de crédito ABC, com juros subsidiados, do Banco do Brasil, para a aquisição dessas máquinas.”
Custo de produção
Os custos (gastos diretos) de implantação e manutenção (durante um ano e oito meses) do sistema de ILPF, no Polo Regional Noroeste Paulista, foram estimados em R$ 1.254,08 por hectare para a soja (incluem despesas de comercialização), de R$ 1.793,99 para o milho (não incluem despesas de colheita, transporte e comercialização), de R$ 238,02 para a pastagem e de R$ 1.087,60 para o cultivo de eucalipto. Para chegar a estes números, os pesquisadores utilizaram a metodologia de custo operacional de produção (COE) do Instituto de Economia Agrícola (IEA-APTA), que considera despesas diretas como insumos (sementes, fertilizantes, defensivos etc.) e serviços de mecanização (mão-de-obra e operações com máquinas) e despesas indiretas (depreciação de máquinas, encargos sociais, encargos financeiros etc.).         
Nestes custos, a aquisição de insumos correspondeu a 67,72%, 83,63% e 81,92% do COE, respectivamente, para soja, milho e pastagem. Já os gastos com fertilizante representaram 38,57% do COE da soja; 63,92%, do milho; e 42,01%, da pastagem braquiarão. Portanto, esses insumos são os custos mais expressivos do COE de cada atividade.
Os autores informam que estes resultados devem ser considerados como uma fase preliminar do estudo econômico do sistema. “A avaliação dos reais benefícios econômicos ou da rentabilidade da ILPS (ou F) exigirá a obtenção de mais informações e análises, em função da complexidade das atividades de um sistema integrado.”
Além disso, “seria importante avaliar os benefícios da ´sinergia´ gerada pelo sistema ILPS (F), seja pelo aumento de produtividade das atividades participantes do sistema ou pela redução de custos de produção (por dispensar, p. ex., controle de pragas e doenças, plantas daninhas). A análise deve medir as vantagens do sistema integrado em relação às atividades isoladas (lavouras de soja e de milho, em rotação ou sucessão; engorda de bovinos ou outros animais, produção da silvicultura)”. Segundo Borges, oportunamente, estes custos serão atualizados.     
Próximos passos
Em setembro passado, 32 bezerros recém-desmamados (cerca de 8,5 arrobas) foram introduzidos na área do projeto experimental de ILPF do Polo Regional, onde vão permanecer até o momento do abate dos animais. Neste período, está sendo avaliado o ganho de peso (desempenho) dos animais; o status parasitológico (comportamento da verminose, de carrapato e de mosca-do-chifre); e o desempenho da pastagem neste sistema, em relação à área sem eucalipto, de acordo com a pesquisadora Giane Serafim da Silva. Na parte de fitotecnia, continuam as avaliações de desenvolvimento dos eucaliptos (altura e diâmetro à altura do peito) e alterações químicas e físicas do solo.     
Além de Borges e Giane, a equipe do projeto ILPF na região noroeste paulista é formada pelos pesquisadores Rogério Soares de Freitas e Adelina Azevedo Botelho, bem como o técnico de apoio Wilson Luis Strada, todos do Polo Regional Noroeste Paulista; Solidete de Fátima Paziani (Polo Regional Centro Norte); Maria Luiza Franceschi Nicodemo e Carlos Eduardo da Silva Santos (Embrapa Pecuária Sudeste); Antonio Aparecido Carpanezzi e Vanderley Porfírio da Silva (Embrapa Florestas). Além da parceria APTA-SAA e Embrapa, o projeto recebeu o apoio financeiro da Fundação Agrisus. 
Mais informações podem ser obtidas com o pesquisador Wander Borges pelo e-mail wanderborges@apta.sp.gov.br.  

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José Venâncio de Resende
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