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Livro traz informações inéditas sobre o relacionamento de pesquisadores com a imprensa

O livro A percepção dos pesquisadores sobre a importância de divulgar a ciência por meio da imprensa foi lançado no dia 11 de dezembro de 2018, pela "Estande Labjor", e está disponível para download gratuito em http://www.estante.labjor.unicamp.br/ . A obra é fruto do mestrado de Carla Gomes, assessora de imprensa do Instituto Agronômico (IAC), em Divulgação Científica e Cultural, feito no LABJOR/UNICAMP, e reúne informações interessantes de uma pesquisa inédita — os cientistas nunca tinham sido ouvidos sobre este tema no Brasil. O livro estreia a "Estande Labjor", que reunirá livros digitais de acesso livre sobre divulgação científica.

Além de informações sobre o relacionamento entre jornalistas e cientistas no exterior e no Brasil, a publicação traz a percepção de pesquisadores paulistas sobre os benefícios, desafios e dificuldades nessa interação. A população da pesquisa foi composta por 623 cientistas da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), com retorno de 215 pesquisadores. A APTA reúne os seis institutos — Instituto Agronômico (IAC), Instituto Biológico (IB), Instituto de Economia Agrícola (IEA), Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), Instituto de Pesca (IP) e Instituto de Zootecnia (IZ) —, e 11 polos de pesquisa agropecuária.

A escolha da população foi feita com base na relevância da ciência agropecuária brasileira e pela representatividade da APTA nessa área: é a maior instituição de ciência e tecnologia agropecuária paulista e também a maior dentre as 17 Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (OEPAs) do Brasil.

Os resultados da pesquisa proporcionaram surpresas quanto à aceitação dos cientistas em se relacionar com jornalistas e como aqueles profissionais avaliam a qualidade do trabalho destes. São posicionamentos que apontam para a desmistificação da ideia preconcebida sobre o comportamento dos cientistas no relacionamento com a mídia. As respostas surpreendem quanto à análise dos benefícios ao ter sua pesquisa divulgada na imprensa e quanto à avaliação da atuação dos jornalistas nesta área e da qualidade das veiculações.

A questão sobre qual seria a percepção dos pesquisadores sobre a importância de divulgar a ciência por meio da imprensa constituiu o motor do estudo. Em torno dela, foram elaborados o objetivo da pesquisa e a trajetória metodológica que pudesse levar às respostas capazes de elucidar como é o relacionamento dos cientistas com jornalistas que atuam na divulgação da ciência e, dentro deste cenário, levantar informações relevantes para o aprimoramento das atividades das assessorias de comunicação e imprensa das instituições de C&T e também dos profissionais da mídia.

Os dados e informações obtidos por meio do questionário respondido por 34,5% dos pesquisadores da APTA mostraram uma percepção favorável dos respondentes com relação à divulgação da ciência por meio da imprensa. Outro indicador bastante positivo na percepção dos pesquisadores é a concordância da grande maioria sobre o fato de a divulgação científica fazer parte das atribuições do cientista. A manifestação de mais de 70% dos respondentes acerca dos benefícios decorrentes da veiculação de notícias sobre o seu trabalho é bastante profícua. Esse posicionamento revela importante abertura para um diálogo que pode e deve ser continuamente renovado entre comunicadores e pesquisadores.

Outra análise bastante positiva, que surpreende se comparada com as opiniões emitidas no cotidiano, é sobre a qualidade dos profissionais da imprensa. Mais da metade dos respondentes afirmou que o jornalista tem ideia do assunto abordado nas entrevistas. Considerando os cortes nas equipes das redações jornalísticas e a consequente situação restritiva em que a maioria trabalha, é louvável ter essa avaliação positiva por parte dos entrevistados, sobretudo porque os assuntos dentro do tema ciência nem sempre são de fácil compreensão.

Os aspectos negativos também foram indicados, embora tenham aparecido nas respostas às questões em frequências menores, reforçando a percepção favorável dos pesquisadores em relação à divulgação de seus trabalhos na imprensa. Os erros cometidos pela mídia, que podem comprometer a imagem do cientista e da instituição, o não encaminhamento do texto para aprovação do entrevistado e o curto tempo com o qual os jornalistas solicitam retorno estão no rol de apontamentos negativos dos pesquisadores sobre o trabalho dos jornalistas.

O retorno sobre possíveis prejuízos foi bem baixo. Junto ao pequeno número de respondentes que se manifestou nesse sentido, é possível inferir que essa ideia está relacionada à possível repercussão negativa sobre o trabalho realizado e ao fato de a atividade de divulgação não ser valorizada pela instituição onde o pesquisador atua, além de não ser considerada para fins de promoção na carreira.

Embora os pesquisadores da APTA em suas respostas tenham se mostrado dispostos a falar com a imprensa, ainda existe no Brasil um gargalo no atendimento aos jornalistas. Daí se nota que a dificuldade comentada por estes no dia a dia das redações pode estar relacionada à ausência de estratégias nacionais de divulgação científica, em especial de jornalismo científico.

Em verdade, é necessário ainda que os gestores públicos, os diretores de instituições e financiadoras, além dos cientistas ligados às associações de C&T tenham a consciência da enorme relevância da divulgação científica para a própria manutenção da ciência. E mais do que acreditar, é preciso agir nesse sentido. A ciência e os cientistas nacionais passam por um período em que a necessidade de comungar seus conteúdos com outros públicos, além dos círculos de seus protagonistas, nunca foi tão urgente. Pelo andar da carruagem no Brasil, é preciso falar agora. Embora o timing da ciência seja outro, na atual situação o deadline está mais curto do que o das redações da imprensa.
A autora é mestra em Divulgação Científica e Cultural pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo - LABJOR/UNICAMP, especialista em Jornalismo Científico, pelo LABJOR/UNICAMP, graduada em Comunicação Social - Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e em Direito pela PUC-Campinas. Tem experiência em jornais diários e assessorias de comunicação e marketing. É assessora de imprensa do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, desde 2001.


Por Carla Gomes (MTb 28156)

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