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Mel vira sistema de alarme contra poluição

A colméia não é apenas a casa das abelhas: pode ser também um detector sofisticado e relativamente barato de poluentes dos mais variados tipos, indica uma pesquisa feita por cientistas da USP e da Unesp de Bauru, no interior paulista. Acontece que o mel produzido pelos insetos traz um registro espantosamente preciso das substâncias presentes no ambiente que os cerca, trazendo informações sobre, por exemplo, o uso de pesticidas nas flores que elas visitam. O trabalho de campo que chegou a essas conclusões foi coordenado por Marcos Vinicius Almeida, mestrando da USP de São Carlos. Almeida e seus colegas usaram como "voluntárias" as abelhas de um conjunto de colméias experimentais, que fica na Reserva Campo Novo Vargem Nova, em Bauru. Trata-se de uma área de mata nativa perto do campus da Unesp da cidade. Embora morem perto da floresta, as abelhas domésticas (da espécie Apis mellifera) da reserva também visitam as regiões vizinhas, que incluem plantações de milho, pomares com mangas, pastos, uma área industrial e uma pista de kart. Almeida explica que a grande quantidade de indivíduos em cada colméia de abelhas ajuda a fazer uma cobertura bastante ampla da região - é quase como se elas fossem milhares de pequenos sensores, conseguindo amostras de todo o ambiente. Essas amostras podem vir de quase todo o tipo de substrato, diz o pesquisador: "Os poluentes que encontramos podem vir da seiva das plantas, da água que as abelhas usam ou mesmo pelo ar, via dispersão atmosférica". O resultado é que o mel obtido em Bauru contém nada menos que 48 pesticidas diferentes. Alguns deles pertencem ao grupo dos organoclorados, especialmente tóxicos e proibidos no Brasil desde a década de 1980. Isso, no entanto, não é necessariamente motivo de preocupação, ressalva Almeida. "A maioria dos poluentes que achamos estão na faixa dos ppbs, ou partes por bilhão", conta ele. "Só um, o melation, aparece dentro da faixa dos ppms, ou partes por milhão." Os níveis, por si sós, não são preocupantes para quem queira consumir o mel, por exemplo. Mas o trabalho é uma prova de princípio de que o doce produto do trabalho das abelhas pode ser usado como um indicador de qualidade ambiental. "Seria um sistema de alerta", diz o pesquisador da USP. Fábricas poderiam simplesmente instalar colméias em seus arredores e depois mandar analisar o mel, em vez de instalar aparelhos complicados. A única desvantagem é a análise do mel, que é relativamente complexa devido à composição do material.

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