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Pesquisa e indústria debatem o uso de resíduos em Workshop no IAC

Representantes da pesquisa científica e de vários setores da iniciativa privada estiveram reunidos para debater a destinação de resíduos urbanos e agrícolas com o objetivo de promover a reciclagem de nutrientes e a produção de energia, nos dias 31 de agosto e 1º de setembro de 2016, na Sede do Instituto Agronômico (IAC), em Campinas. O encontro se deu no 2º Workshop Bioeconomia: “Resíduos urbanos e agrícolas: energia, reciclagem de nutrientes e produção de fertilizantes”. O objetivo é somar as competências e criar soluções técnicas na área de uso de resíduos.
O evento reuniu cerca de 200 participantes, sendo 85% ligados à iniciativa privada, com a presença de empresas do setor que trabalham com compostagem de resíduos e biodigestores. O secretário-adjunto da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Rubens N. Rizek Junior, participou como debatedor no primeiro dia do Workshop e destacou a necessidade de os municípios buscarem políticas públicas para a reciclagem de resíduos e aproveitá-los para a geração de produtos e energia, com consequente criação de emprego e renda.
Rizek destacou a possibilidade dos usos rural e urbano, como no caso de parques e jardins das cidades. O secretário-adjunto também chamou a atenção para a necessidade de investimento em usinas de reaproveitamento, como por exemplo, as de biogás, produto que provém da decomposição bioquímica da matéria orgânica. Ele comentou ainda que depositar esses resíduos em aterros, apesar de ser o procedimento correto e previsto em legislação, é um desperdício das potencialidades de resíduos. “A RMC, por ser uma Região Metropolitana, pode fazer arranjos no mercado para caminhar para essas usinas de processamento”.
Este evento faz parte de uma série de 13 workshops que serão realizados pelo Agropolo Campinas Brasil, com o objetivo de agregar capacidades de instituições de Campinas para promover a inovação, por meio da aproximação entre a pesquisa, o setor privado e os usuários das tecnologias. “Desta forma, vamos promover a pesquisa responsável, que atenda às necessidades da sociedade”, diz o diretor-geral do IAC e presidente da Secretaria Executiva do Conselho Administrativo do Agropolo, Sérgio Augusto Morais Carbonell.
A temática do 2º Workshop, segundo Carbonell, mostra-se relevante tanto para o setor econômico como para a saúde pública, já que envolve a destinação de resíduos. “É um importante tema para as cidades e para a agricultura, estamos falando de como transformar lixo em produto que pode ser adotado para outros fins e como aliviar os aterros sanitários”, afirma.
Para Luís Augusto Barbosa Cortez, vice-presidente da Secretaria Executiva do Conselho Administrativo do Agropolo, resíduo é um tema de extrema importância para a bioeconomia, incluindo seus aspectos econômicos, as questões de reciclagem e de impacto ambiental. Cortez, que também é coordenador de Relações Internacionais e Institucionais da Universidade Estadual de Campinas, (Unicamp), ressaltou o grande interesse de empresas neste tema e o bom perfil dos participantes do 2º Workshop, que ofereceu várias apresentações de experiências e números relacionados às atividades. “Os assuntos não são fáceis de serem tratados, porém houve sinergia e durante esses dois dias teve uma interação entre pesquisadores e iniciativa privada”, avalia .
Segundo Carbonell, durante o evento foi possível notar que o setor tem mais desafios de caráter legal do que técnico. Ele ressalta a necessidade de legislação que sustente ou viabilize esta atividade economicamente. “”Muitas vezes, o resíduo não tem valor econômico alto, mas é extremamente importante quando observado do ponto de vista de saúde pública”, comenta.
Nesta mesma linha, o palestrante Fernando Carvalho Oliveira, da empresa Biossolo, defendeu a importância da pesquisa científica para mostrar todos os ganhos proporcionados pela técnica, incluindo os ambientais. “Os fertilizantes orgânicos têm outros benefícios que, por vezes, não são mensuráveis, por isso a importância da pesquisa”, diz Oliveira. Durante sua palestra, ele comentou que, no Brasil, entre os desafios da atividade de compostagem estão o custo, as questões relacionadas a licenciamento e investimento, o desenvolvimento de mercado e a comercialização de produtos, além de políticas públicas. Segundo Oliveira, na Europa, as plantas de compostagem contam com financiamentos públicos que cobrem 80% dos gastos.
De acordo com Oliveira, há mercado garantido no Brasil para esse produto. “A disponibilidade de fertilizante orgânico será sempre inferior à área agrícola; o desafio é produzi-lo”, diz.
A informação sobre esta demanda é confirmada por Fulvio C. Parajava, da empresa Corpus, que atua na área de saneamento ambiental na região de Campinas. Parajava, que foi debatedor no 2º Workshop, destaca que só na área de pastagens há 170 milhões de hectares com potencial para usar 1,7 bilhões de toneladas de compostagem, que podem ser produzidas.
A necessidade de encontrar usos alternativos para esses resíduos tem dimensão nacional. Segundo Parajava, menos de 4% dos municípios têm algum processo de compostagem. “A maior parte dos resíduos orgânicos é coletada sem separação e vai direto para a disposição final em aterros sanitários”. Ele afirma que a implantação de unidade de compostagem envolve uma série de fatores, incluindo a proximidade com a população, geração de odores e contaminação da área. A obtenção de licenciamento passa por todos esses aspectos.
A vinhaça — o resíduo mais importante da cultura da cana-de-açúcar tanto pela quantidade gerada, como pelo seu impacto — também foi abordada no evento. Para Rafaella Rossetto, pesquisadora da Secretaria, vinculada ao Polo APTA Centro Sul e ao Programa Cana IAC, dentre os benefícios do uso da vinhaça estão a possibilidade da aplicação como fertilizante, a melhoria da fertilidade do solo e a redução dos custos com adubação. “Atualmente, há soluções para a vinhaça que servem de modelos para outras culturas e também para outros países”, diz, Rafaella, que participou como debatedora.
Os dejetos de origem animal, incluindo suínos e aves, são outra fonte de nitrogênio, fósforo e potássio. O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Vinícius de Melo Benites, apresentou em sua palestra, no segundo dia do evento, um caso sobre esses resíduos orgânicos. De acordo com Benites, 25% do nitrogênio consumido no Brasil está disponível nesses dejetos, que também concentram 21% de fósforo e 12% de potássio. “Há margens grandes de ganhos ambientais pela mudança na forma de uso desses resíduos”.
Segundo o pesquisador, os grãos são grandes demandadores de fertilizantes. Só as culturas de soja e milho consomem metade desses produtos. Benites destacou que não há evidências científicas que comprovem a maior eficiência dos orgânicos minerais em relação aos fertilizantes minerais. Ele disse que é preciso ser cuidadoso ao afirmar sobre a eficiência agronômica dos orgânicos minerais para não correr o risco de fechar uma porta no futuro para esta tecnologia. 
O pesquisador da SAA, que atua no IAC, Heitor Cantarella, completou dizendo que os organominerais são uma maneira de dar destino aos resíduos. Cantarella, que é um dos coordenadores do evento, avalia que o Workshop foi um sucesso, com grande participação de empresas e pesquisadores. “O Workshop possibilitou a apresentação da visão empresarial sobre os temas, podemos afirmar que todos estão ansiosos para estabelecer parceiras e cooperações e aliar forças para alcançar os objetivos”, avalia. Para Cortez, o evento atendeu às expectativas dos organizadores que buscam estabelecer parcerias.
PPPBio
Esse Workshop é parte do Projeto de Políticas Públicas em Bioeconomia (PPPBio), conduzido pelo Agropolo e apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). O objetivo é, por meio de uma série de workshops, produzir um roadmap das pesquisas necessárias para o desenvolvimento dos diferentes setores da bioeconomia, produzindo riqueza para a região e para o país.
Por Carla Gomes (MTb 28156) e Mônica Galdino (MTb 47045)

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