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Pesquisadores testam técnicas que reduzem as perdas da uva cv. Niagara

Trabalho com tecnologias pós-colheita alcançou bons resultados É fácil identificar a uva cv. Niagara, principalmente nesta época do ano. Com uma safra muito concentrada – entre os meses de novembro e fevereiro – ela é facilmente encontrada durante as festas e abundante em muitas mesas durante Natal e passagem de ano. Mas, se a concentração atribui à fruta a identificação com um período, também traz dificuldades aos produtores. “Eles perdem muito dinheiro, porque a concentração da produção gera uma quantidade enorme de uva para ser vendida. Assim, o produtor se vê obrigado a vender a um preço muito baixo, que às vezes nem paga o custo de produção. Mas, com tecnologia, é possível reverter este quadro”, revela a pesquisadora do Grupo de Engenharia e Pós-colheita (GEPC-ITAL) Sílvia Valentini. A isso, alia-se o fato de que as uvas, em geral, têm uma vida de pós-colheita muito curta quando não refrigeradas e a cv. Niagara, especificamente, tem alternativas limitadas para o seu processamento – caracterizando o seu consumo como prioritariamente in natura. A necessidade do uso de tecnologias para melhorar o preço para o produtor e o escoamento da produção se mostra, deste modo, ainda mais premente. Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL-APTA, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento) participaram de trabalho que testou tecnologias capazes de ampliar a vida útil da fruta e que são viáveis para implantação imediata e obtiveram bons resultados. A pesquisa fez parte do projeto Redução das perdas de uva de mesa cv. Niagara através de manejo pré e pós-colheita, coordenado pelo pesquisador Maurilo Monteiro Terra, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC-APTA, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento), com financiamento do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). O trabalho envolveu ainda o Instituto de Economia Agrícola (IEA-APTA, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento) e a Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo). Ao ITAL coube a avaliação de tecnologias capazes de prolongar a vida útil da uva após a colheita. “Estudamos a degrana e podridões, que são os principais fatores de perda da cv. Niagara”, sintetiza Sílvia, que coordenou o trabalho no Instituto. A degrana pode ser descrita pela queda das bagas do cacho, defeito que é motivo de rejeição pelo consumidor. Sílvia conta que os produtores não empregam nenhuma tecnologia para a conservação da uva cv. Niagara – o que não acontece com outras uvas, consideradas finas e destinadas à exportação, como ‘Itália’ e ‘Benitaka’ – acarretando uma perda ainda maior. Ainda assim, a cultivar possui vantagens com relação às chamadas finas, como menor custo de produção, características de rusticidade que exigem um número menor de pulverizações de defensivos agrícolas e a excelente aceitação pelo mercado consumidor. Essas peculiaridades explicam o mercado já significativo da cultivar. Segundo o IEA, o Estado de São Paulo é o maior produtor nacional de uva para mesa, apresentando 2.089 unidades produtoras com aproximadamente 39 milhões de plantas e produção anual de 189,7 mil toneladas. As cultivares de uva comum, representada principalmente pela ‘Niagara Rosada’, correspondem a 89,1% do total de plantas e 49,1% da produção de uva no Estado. A pesquisa se concentrou em três municípios de destaque neste cenário: Jundiaí e Louveira (do Escritório de Desenvolvimento Rural - Campinas) e Jales (Escritório de Desenvolvimento Rural - Jales), em que se verificou nos últimos anos um aumento expressivo no cultivo dessa variedade. Para aliar os benefícios característicos da cv. Niagara às potencialidades de tecnologias pós-colheita, foram testadas as seguintes técnicas: o cloreto de cálcio (CaCl2) e o ácido naftalenoacético (ANA), aplicados no campo até alguns dias antes colheita e combinados com técnicas de pós-colheita como o uso de sistemas de embalagens, a refrigeração e a irradiação ultravioleta (UV-C). As tecnologias foram escolhidas pelas experiências bem-sucedidas de sua aplicação em outras frutas e hortaliças. A irradiação UV-C, por exemplo, vem se destacando no controle de podridões pós-colheita em diferentes frutas, é germicida e tem propriedades de indução de resistência a doenças, além de ser uma alternativa ao emprego de produtos químicos. “Já o manejo da temperatura é tão importante no controle de doenças pós-colheita que todos os outros métodos têm sido descritos como complementares à refrigeração”, explica Sílvia. Com a aplicação do ácido naftalenoacético (ANA) antes da colheita houve redução significativa da degrana e de podridões nos três experimentos realizados nas regiões de Louveira e Jales. No ensaio de armazenamento refrigerado, as uvas estocadas a 1,5ºC tiveram sua vida útil estendida por até 28 dias, seguido de transferência por mais três dias a 25ºC (simulando-se o período de comercialização). Os cachos de uva armazenados sem refrigeração – a 25ºC – apresentavam acentuada perda de qualidade no sétimo dia de armazenamento. Quanto às embalagens – associadas ao armazenamento refrigerado – as que apresentaram melhores resultados foram: caixa de papelão aberta, bandeja de poliestireno recoberta com filme de PVC e embalagem PET com perfurações. A irradiação UV-C também se mostrou bastante eficiente na redução da incidência de microorganismos nas uvas ‘Niagara Rosada’ – principalmente do causador da Podridão da Uva Madura (Colletotrichum gloeosporioides) – em infecções superficiais e de ferimento, com menor efeito sobre as infecções de campo ou latentes. Segundo as pesquisadoras Eliane Benato (GEPC-ITAL) e Patrícia Cia (IAC), responsáveis pelos estudos de controle de doenças pós-colheita nas uvas, são imprescindíveis um bom manejo da cultura e tratamento fitossanitário adequado no campo para que as tecnologias aplicadas na pós-colheita conservem a qualidade da fruta por mais tempo e consigam controlar efetivamente as doenças. “O emprego dessas técnicas é viável. A refrigeração é a que exige mais investimentos, mas é possível os produtores formarem um grupo para possibilitar a compra de câmaras frias e do sistema de transporte refrigerado. Eles precisam se associar para montar uma estrutura; é vantajoso, é economicamente viável e com retorno em curto prazo”, ressalta Sílvia. A pesquisadora conta que, no desenvolvimento do trabalho, os profissionais estiveram em contato permanente com os produtores, os quais acompanharam a evolução e forneceram a matéria-prima.

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