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Projeto de educação ambiental em bacia hidrográfica promove geração de conhecimento e de tecnologias

Alta sintonia entre pesquisa científica e educação ambiental em bacia hidrográfica. Estudos de monitoramento da água, reflorestamento por nucleação, manejo do solo, recuperação de nascentes e levantamento das espécies nativas geram novos conhecimentos e tecnologias, que auxiliam na capacitação de educadores e em visitas monitoradas de alunos das redes pública e particular de ensino. As informações geradas são aplicadas em sala de aula e transferidas às comunidades locais, promovendo nas novas gerações uma visão integrada de desenvolvimento econômico-social sustentável.
O Polo Centro Norte/APTA Regional, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, herdou da antiga Estação Experimental do Instituto Agronômico (IAC-APTA), em Pindorama, a preocupação com agricultura orgânica e com a manutenção da integridade do solo (não-utilização de herbicidas, por exemplo). Grande parte dos trabalhos de conservação de solos do IAC foi conduzida nesta unidade, lembra o pesquisador Antonio Lucio Mello Martins.
Quando assumiu a direção da unidade em 1987, Antonio Lucio introduziu práticas mais modernas de conservação como, por exemplo, terraço em desnível, canais, escoadouros, caixas de retenção e plantio em faixas. Em 1995, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) aprovou projeto de recuperação da unidade de Pindorama, coordenado pelo pesquisador Sidnei Rosa Vieira, do IAC.
O estudo, que durou três anos, permitiu a recuperação de voçoroca existente na unidade, levantamento de nível dos carreadores (caminhos de terra), construção das bacias de retenção e encaminhamento da água para canais de escoamento e início de monitoramento de vazão de nascentes. Além disso, viabilizou a aquisição de equipamentos para uso em conservação de solo.
Este trabalho melhorou as condições e despertou a oportunidade de se apresentar projetos ao Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FEHIDRO), diz Antonio Lucio. É o caso do trabalho de educação ambiental, iniciado em 2005, que contempla atividades de pesquisa conduzidas em vários projetos, ou seja: irrigação localizada na pupunha (uso racional/econômico); benefícios do uso da borracha natural e coleta de látex; plantio direto (educadores e alunos passam a conhecer os benefícios do sistema); sanidade vegetal (uso de transgênicos, controle biológico de pragas e doenças etc.) e trabalhos na área de meio ambiente (recuperação de mata ciliar, conservação de solos, sistemas agroflorestais etc.).
O projeto, desenvolvido no âmbito da Bacia Hidrográfica dos Rios Turvo e Grande, já está em sua terceira fase. Os resultados de educação ambiental são expressivos até agora: 57 capacitações entre técnicas e pedagógicas; 185 educadores e técnicos capacitados; dois encontros de educação ambiental; o primeiro workshop da Microbacia do Córrego da Olaria e um encontro comemorativo. “Estas ações são uma forma de popularizar os conceitos técnico-científicos acerca do uso e ocupação do solo e da água de uma bacia hidrográfica e da preservação de recursos hídricos”, resume a bióloga Maria Conceição Lopes. “Os eventos de difusão realizados como atividades do projeto apóiam a transferência de tecnologia, pois divulgam os trabalhos da instituição de pesquisa para a sociedade, além de articular as ações ambientais na bacia, contribuindo para melhor gestão dos municípios envolvidos.”
Monitoramento da água
O monitoramento da água teve início em 2009 na Microbacia Hidrográfica do Córrego do Olaria – área de 11 km2 situada no Polo Regional -, como parte do segundo projeto de educação ambiental financiado pelo FEHIDRO. O propósito era saber se as práticas adotadas (plantio de mata ciliar, instalação de sistemas agroflorestais etc.) influem positiva ou negativamente na qualidade e na quantidade da água da bacia hidrográfica.
As atividades do monitoramento consistem em avaliar a interferência de reflorestamento na qualidade dos recursos hídricos em margens de quatro açudes, assim como realizar mensalmente coleta de água em oito pontos da microbacia previamente definidos. A coleta, explica Antonio Lucio, implica verificar a qualidade da água (parâmetros químicos e físicos), com a realização de análise in loco, utilizando equipamentos de campo, e também no laboratório. A medição da vazão é realizada com o uso do linígrafo, em quatro pontos da rede de drenagem.
Até agora, os resultados indicam que, “em termos de qualidade, estamos dentro dos parâmetros da classe 2, segundo CONAMA 357/2005, considerados adequados para irrigação de hortaliças e biota aquática, ou seja, as práticas agrícolas não afetam a qualidade da água”, revela Antonio Lucio. “Com este estudo, pretendemos verificar se haverá aumento da quantidade de água e se irá melhorar a qualidade, por meio das práticas conservacionistas e da adequação à lei ambiental.” Como práticas ambientais, ele cita os métodos mecânicos (plantio em nível, terraços etc.) e os métodos culturais (plantio direto, utilização de roçadeira etc.) que levam à menor mobilização do solo. “Estamos iniciando a estória de dados hidrológicos nesta Microbacia e esperamos uma reposta em pelo menos cinco anos. É importante registrar que a Bacia do Turvo Grande está carente de estudos como estes.”
Outro trabalho que está em sintonia com a educação ambiental é a recuperação de nascentes, que teve início também em 2010. A ideia é recuperar as seis nascentes do Córrego da Olaria, com mudas adquiridas com recursos do FEHIDRO e também produzidas no Polo Regional, relata Antonio Lucio. “Recuperamos e modernizamos o viveiro da unidade, com a introdução de irrigação, adequação para tubetes (antes era saquinho), que passa a ter capacidade para mais de 100 mil mudas.”
As nascentes do Córrego da Olaria foram georreferenciadas, o que permite que sejam localizadas de maneira precisa, conta Antonio Lucio. “Aproveitamos para georrefenciar toda a unidade.” Inclusive, um dos itens de capacitação de educadores é o georreferenciamento, atividade desenvolvida em parceria com a Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho (UNESP) e o Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro (IFETM).
A capacitação de educadores no âmbito da Bacia Hidrográfica dos Rios Turvo e Grande é uma das atividades mais visíveis do projeto de educação ambiental, assinala Antonio Lucio. Um dos itens da capacitação é demonstrar ao grupo de educadores a elaboração do diagnóstico ambiental, utilizando-se de Sistema de Informação Geográfica (SIG), e confeccionar maquetes. Todo ano, o grupo de educadores do projeto constrói uma maquete da Microbacia do Córrego da Olaria. Já foram utilizados diferentes tipos de material. O Polo, por exemplo, ganhou uma maquete de papel panamá, de isopor e, este ano, de EVA (Etil Vinil Acetato). Esta ideia está sendo repetida nos municípios como, por exemplo, Ariranha (SP), que inovou ao construir uma maquete de alvenaria em área de 4m2 na escola para funcionar como sala de aula.
Manejo conservacionista
A partir dos conhecimentos acumulados na área de solos, foram elaborados três projetos de pesquisa, buscando aplicar técnicas do manejo conservacionista (plantio direto, cultivo mínimo etc.) e estudar seus efeitos no tipo de solo “argissolo”, conta o pesquisador Everton Luis Finoto. “Hoje, conhecemos bem a caracterização do solo, o que permite o manejo com base nessas informações. Sabemos que mais ou menos 80% do solo predominante na região é argissolo (solo muito propenso à erosão, daí a importância do trabalho de manejo conservacionista). Os três projetos focam a avaliação dos sistemas de manejo do solo em diferentes culturas comerciais.”
O primeiro projeto vem avaliando, desde a safra 2003/04, os sistemas de plantio (convencional, cultivo mínimo e plantio direto), em parceria com o Polo Centro Leste/APTA Regional. Os pesquisadores Everton Finoto, Denizard Bolonhezi e Antonio Lucio testam três tipos de manejo, com base na caracterização do estado do solo. Ao longo desses anos, foram introduzidas diferentes culturas a cada safra (amendoim e duas vezes mamona, milho e soja), utilizando-se o mesmo manejo. “Neste caso, o tratamento é o manejo, ou seja, os sistemas de manejo de solo são mantidos”, explica Everton.
O segundo projeto, implantado em 2010, destina-se ao estudo de culturas de cobertura e formação de palhada no plantio direto. Além de Everton, os pesquisadores Sandro Brancaleão (IAC) e Antonio Lúcio (do próprio Polo Regional) estão testando pousio, milheto, crotalária, nabo forrageira e braquiária, de forma a avaliar, nos próximo dois anos agrícolas, a situação do solo (estrutura, fertilidade etc.) e o comportamento das culturas nos diferentes tratamentos.
Já o terceiro projeto, denominado “Rota Cana”, foi iniciado em 2010, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). A ideia é avaliar dois sistemas de manejo do solo (convencional e plantio direto) e duas culturas de sucessão (soja e amendoim) em áreas de reforma de cana crua. No caso do Polo Centro Norte, o foco é o “argissolo” já que a Embrapa desenvolve o mesmo projeto em outros tipos de solos.
“No longo prazo, nosso objetivo é verificar o impacto dos sistemas de manejo nas propriedades químicas e físicas do solo”, conclui Everton.
Sistemas agroflorestais
A indicação de sistemas agroflorestais (SAFs) para pequenas propriedades, em reserva legal e área de preservação, ocorreu em função de o Polo Regional ser unidade de conservação e da própria demanda dos produtores (legislação estadual número 12927/2008 que permitiu o uso de culturas comerciais como seringueira e fruteiras). A principal demanda é por módulo comercialmente viável que, ao mesmo tempo, atenda à necessidade ambiental de preservação, conta a pesquisadora Maria Teresa Vilela Nogueira Abdo.
A necessidade de atenção especial à exigência de intercalar agricultura com nativas resultou em vários projetos. Um deles é o grupo temático de modelos econômicos, fruto de parceria entre a unidade de pesquisa do Polo Regional, em São José do Rio Preto, a Secretaria do Meio Ambiente, a UNESP e a Secretaria de Administração Penitenciária.
Com início em 2008, o projeto busca implantar SAFs e outros modelos de desenvolvimento sustentável no entorno da Reserva Ecológica do Noroeste Paulista, em São José do Rio Preto. Na primeira fase, foram plantadas 12 mil mudas de nativas e, na segunda fase, já foram elaborados modelos de SAFs para área de preservação permanente (APP) e reserva legal, que aguardam implantação. Esses modelos deverão ser transferidos para produtores, explica Maria Teresa.
Outro projeto é o SAF para recomposição de matas ciliares em açudes, cuja equipe coordenada por Maria Teresa reúne os pesquisadores Antonio Lucio, Everton Finoto e Maria Beatriz Soares, além da bióloga Maria Conceição (Polo Centro Norte); Eliane Gomes Fabri (IAC); Denyse Chabaribery (Instituto de Economia Agrícola – IEA/APTA); engenheira agrônoma Angela Cristina Bieras (Prefeitura Municipal de Pindorama) e os professores Sérgio Valiengo Valeri e Teresa Cristina Tarlé Pissarra (UNESP Jaboticabal). O trabalho, que abrange quatro açudes da Microbacia Hidrográfica do Córrego da Olaria nas fronteiras do Polo Regional, começou em 2011 e prevê o manejo diferenciado na implantação das matas ciliares.
A ideia é avaliar o custo de implantação de mata ciliar (espécies nativas, seringueira, urucum e acerola, com e sem culturas agrícolas intercaladas ou entre linhas como feijão e mandioca) e o retorno econômico das culturas nos modelos adotados, explica Maria Teresa. “Serão adotados modelos de plantio e de manejos e condução da área (herbicida, roçadeira, grade etc.) .”
Já o projeto “Levantamento fitossociológico de fragmentos da Reserva Biológica”, de 2009, resultou em tese de doutorado de Maria Teresa (UNESP-Jaboticabal) e gerou uma listagem de espécies nativas das matas da região. Uma das conclusões do trabalho é que existe algum grau de perturbação (desequilíbrio) da mata, o denominado efeito de borda (causado pelas ações no entorno da mata) que determina se há (ou não) preservação. “Este efeito de borda pode ser minimizado com trabalho de recuperação ambiental na área do entorno e adequação de manejo dessas áreas.”
Outro resultado foi a identificação de 572 indivíduos de 108 espécies nativas de 33 famílias, sendo que 30 espécies são comuns aos dois fragmentos de matas avaliados, com base em tipo de solo. “É o primeiro levantamento feito na região que se conhece, sendo bastante representativo da flora e das espécies arbóreas”, diz Maria Teresa. O estudo vai servir de suporte técnico para a elaboração de projetos de restauração.
A coleta de sementes é um dos objetivos do projeto “Produção de mudas de espécies florestais e recuperação ambiental”, iniciado no ano passado em parceria com a ONG CAPIN e financiado pelo FEHIDRO. Também estão previstos a reformulação do viveiro de mudas, contratação de monitor para produção de mudas e curso de capacitação para produtor (mudas e implantação de reflorestamento).
Este projeto já resultou em três capacitações de técnicos de prefeituras, organizações não-governamentais, usinas de açúcar e álcool e proprietários rurais. Também foram doados este ano oito mil mudas, de total previsto de 30 mil mudas, para a recuperação de nascentes georreferenciadas dos municípios que pertencem ao programa SOS São Domingos. O rio corta Pindorama, Catanduva, Santa Adélia, Catiguá, Uchoa, Tabapuã, Cedral e Ariranha.
Nucleação
De 2010 para cá, já se percebe a visitação de aves e outros animais em áreas agrícolas e de pastagem nas dependências do Polo Regional, em áreas de mata ciliar na cidade de Catanduva e em área “desnuda” no campus do Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva (IMES-Catanduva). “Uma constatação, porém, é que em áreas próximas de locais barulhentos (poluição sonora) tem pouca visitação por parte dos animais”, explica a professora Angela Bieras, coordenadora científica do projeto “O uso da técnica de nucleação na restauração de áreas degradadas”.
A ideia é testar a técnica de nucleação em diferentes situações ambientais (áreas com cultura agrícola, pastagem, mata ciliar e com solo “desnudo”, ou seja, onde houve extração de terra), explica Angela. O trabalho é fruto de parceria entre o Polo Centro Norte e o IMES-Catanduva, com apoio financeiro do FEHIDRO (TG 349/2009), e tem a participação da pesquisadora Maria Teresa, da bióloga Maria Conceição, de alunos e estagiários, além de técnicos das prefeituras de Pindorama e Catanduva.
A técnica de nucleação consiste na formação de diversos núcleos de biodiversidade (poleiro artificial, enleiramento de galharias, plantio de mudas em grupo de “Anderson”, transposição de solo e de chuva de sementes). Grupo de “Anderson” refere-se ao plantio bem adensado de árvores (frutíferas nativas da região, por exemplo) de crescimento rápido, para sombrear e servir de abrigo ou alimento para a fauna. “Diferente do plantio convencional (que a princípio recupera apenas o extrato arbóreo), a técnica de nucleação visa recuperar a biodiversidade do local como um todo (vegetal, animal, microrganismos etc.)”, explica Angela.
Para conduzir a pesquisa, cada área foi padronizada em 3.600 metros quadrados. Na área de pastagem, por exemplo, foi escolhido um quadrado de 60 x 60m dentro do qual já se colocou, aleatoriamente, quatro poleiros, quatro galharias e oito grupos de “Anderson”.

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Assessoria de Comunicação da APTA
José Venâncio de Resende
Camila Amorim/Eliane Christina da Silva (estagiárias)

(11) 5067-0424

 

  

  


   
                    
          
                 
 

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