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Tecnologia do plantio direto poupa insumos em época de petróleo caro

Por José Venâncio de Resende O constante aumento no preço do barril de petróleo tem reflexos diretos na agricultura, que se utiliza de seus derivados como combustível, plásticos e fertilizantes e nem sempre consegue repassar ao preço final o maior custo do produto, afirma o pesquisador Luis Felipe Villani Purquerio, do Centro de Horticultura do Instituto Agronômico (IAC-APTA) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento. “O combustível é utilizado em máquinas agrícolas para preparo de solo, colheita e outras operações, bem como em geradores e motores utilizados para o bombeamento de água. O plástico é utilizado em embalagens, caixas, filmes para cobertura de estufas agrícolas e em encanamentos utilizados para irrigação, entre algumas de suas aplicações. E os fertilizantes são utilizados para o fornecimento de nutrientes, essenciais para a produção agrícola.” Assim, Luis Purquerio considera que a adoção e a utilização de tecnologias poupadoras de insumos devem ser priorizadas na agricultura por parte de produtores, técnicos da extensão e da pesquisa. Uma destas tecnologias é o sistema de plantio direto, que é poupador de fertilizantes e combustíveis e pode ser muito útil neste novo contexto da economia mundial. Este sistema reduz o desperdício dos fertilizantes colocados no solo, pelo controle das perdas dos nutrientes por erosão, explica a pesquisadora Isabella Clerici De Maria, do IAC-APTA. “Com o sistema bem conduzido, com boa produção de palha para cobertura, rotação de culturas e adubações equilibradas, com base na análise do solo, os teores de nutrientes no solo, como fósforo e potássio tendem a aumentar. O produtor pode conseguir elevar o nível de fertilidade do solo e, sempre de acordo com a análise do solo, reduzir a aplicação de fertilizantes”, diz Isabella. Entre as razões que explicam a crescente adoção de sistemas de manejo conservacionista como o plantio direto, Isabella cita a sensível redução no custo de produção (72 % de redução no consumo de diesel); o excelente controle da erosão (redução em 90% das perdas de terra); o melhor aproveitamento da água no solo (sistema colhe e plante) e a minimização dos impactos ambientais. O dispêndio energético total no plantio direto é 30% menor que no sistema convencional, mostra estudo recente sobre o uso de diferentes tecnologias na produção de milho, realizado pelos pesquisadores Marli Dias Mascarenhas Oliveira, Silene Maria de Freitas e Carlos Eduardo Fredo do Instituto de Economia Agrícola (IEA-APTA). Porém os dispêndios energéticos, apenas nas operações de pulverização, plantio/adubação e capina, são superiores no plantio direto. É que as operações de preparo do solo do sistema convencional (que são eliminadas no plantio direto) representam 50,3%, provocando forte impacto na contabilização geral, dizem. Grande parte dos insumos envolvidos na cultura do milho é, ainda, proveniente de energia fóssil, configurando grande dependência e vulnerabilidade dos sistemas de produção, observam os pesquisadores do IEA. Por isso, eles concluem: “Avanços na redução do custo energético deverão ser provenientes da substituição dos nutrientes químicos por adubos orgânicos, rotação e/ou consórcio de leguminosas, bem como pelo uso do biodiesel”. Outro estudo na mesma linha, que analisa a eficiência energética da cultura do milho-safrinha no Médio Paranapanema, indicou que “a eficiência energética do sistema de média tecnologia é superior ao da alta tecnologia, porém os indicadores econômicos mostram que o sistema de alta tecnologia é mais viável”. O estudo foi apresentado no XXXVI Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola, em 2007, pelos pesquisadores Marli Mascarenhas Oliveira e Alfredo Tsunechiro (IEA) e Fernanda de Paiva Badiz Furlaneto e Aildson Pereira Duarte (Pólo APTA Médio Paranapanema). Os pesquisadores da APTA concluíram que as origens das fontes energéticas na cultura do milho precisam ser revistas para que a atividade se mantenha sustentável a longo prazo. “Uma das alternativas é a adoção de adubação orgânica e de combustível de origem biológica como por exemplo o biodiesel. A viabilidade da cultura do milho-safrinha sempre deve ser analisada do ponto de vista energético e econômico, pois se observou que a eficiência positiva do indicador energético não correspondeu aos resultados econômicos apresentados pela cultura, levando em consideração a produtividade, o preço de venda e o custo de produção”, afirmam os pesquisadores. Além do plantio direto que possibilita economia de combustível pela menor movimentação do solo, Luis Purquerio cita a utilização de análise de solo para o balisamento das fertilizações, já que muitas vezes são realizadas em excesso pela falta de critério. Ele também aponta a utilização de adubos verdes, adubação orgânica, compostagem e outros insumos já conhecidos na linha de agricultura sustentável, que substituam os fertilizantes solúveis. “Ressalta-se que para o manejo adequado de qualquer sistema de produção é necessário o conhecimento técnico multidisciplinar encontrado junto a engenheiros agrônomos e profissionais da cadeia produtiva agrícola”, conclui. Histórico “O sistema plantio direto é uma técnica relativamente recente como técnica de manejo na exploração agrícola. As primeiras experiências no Estado de São Paulo ocorreram na região do Médio Vale do Paranapanema na década dos setentas”, diz Isabella . Trata-se de sistema de manejo conservacionista adotado em 95 milhões de hectares em nível mundial. No Brasil, estimam-se mais de 23 milhões de hectares com alguma modalidade de manejo conservacionista do solo. O IAC e demais instituições da APTA têm longa experiência em pesquisas desenvolvidas em ensaios instalados em áreas de agricultores e estudos mais detalhados realizados em suas unidades experimentais. Os primeiros resultados foram obtidos em ensaios sobre o controle da erosão estabelecidos na década de 70, mostrando as vantagens do sistema para a conservação do solo e para a economia de combustíveis. “A erosão é muito menor quando o sistema de manejo do solo é plantio direto. Essa é, aliás, a primeira motivação para a adoção do sistema: o plantio direto perde menos terra, água e nutrientes por erosão em relação aos sistemas convencionais (arados ou grades) de preparo do solo. As razões para isso são a não-desagregação do solo e a manutenção de cobertura vegetal e palha na superfície do solo”, explica Isabella De Maria. Outro exemplo dessa experiência no sistema plantio direto foram os primeiros ensaios com plantio direto no Médio Vale do Paranapanema, iniciados em 1985 e instalados em propriedade particular no município de Palmital. Os resultados desse trabalho geraram conhecimentos (rotação de culturas, fertilidade, dinâmica da água e qualidade do solo) em plantio direto para a região, que foram divulgados para os agricultores. Atualmente, Palmital é um dos municípios com maior porcentagem de lavouras em plantio direto no Estado de São Paulo, segundo Isabella De Maria. “O levantamento das necessidades de pesquisas em plantio direto nas diversas regiões do Estado de São Paulo tem sido feita em reuniões de trabalho entre pesquisadores, técnicos e produtores.” Na região do Complexo Cristalino, apontaram-se, entre outros, dois problemas relacionados com a produção agrícola: a conservação do solo em terras de alta declividade e o desenvolvimento de sistemas de produção com sustentabilidade, que tem no plantio direto uma solução. Recentemente, no Médio Vale do Paranapanema, dificuldades enfrentadas por agricultores na operação de semeadura sobre palha de milho foram contempladas com um trabalho destinado a desenvolver modificações no sistema de corte de palha e haste sulcadora em uma semeadora-adubadora de plantio direto. O objetivo é minimizar os problemas de embuchamento no plantio sobre palha. No oeste paulista, a integração lavoura-pecuária com plantio direto tem sido a principal opção para o manejo sustentável, com diversos ensaios buscando soluções sobre o sistema estão em andamento. E, para a cana-de-açúcar, informações sobre o sistema de plantio direto estão sendo obtidas em solos arenosos e argilosos. Segundo Isabella De Maria, a maioria das áreas de exploração agropecuária do Estado está localizada em regiões de baixa altitude e com inverno seco, onde os agricultores têm enfrentado algumas dificuldades no estabelecimento do sistema de plantio direto. “Em São Paulo, as áreas com plantio direto ainda estão restritas à produção de grãos, embora o potencial de expansão seja grande, considerando as áreas de reforma de canaviais (mais 500 mil hectares) e pastagens (sete milhões de hectares), as quais se configuram como as duas fronteiras agrícolas paulistas para produção de grãos, fibras e matérias-primas para biodiesel.” A pesquisadora também destaca as regiões de Guaíra, Casabranca e Holambra II, onde existem as maiores concentrações de agricultores irrigantes, que utilizam o sistema de plantio direto com freqüência. “Também em algumas regiões o plantio direto no cultivo de hortaliças está se expandindo”, observa De Maria. As particularidades do ambiente de produção e da ocupação do solo nessas regiões exigiram que se gerassem e transferissem tecnologias regionalizadas para a consolidação desta prática conservacionista em todo o Estado de São Paulo, diz De Maria. “Ao mesmo tempo, é necessário resolver os problemas que estão aparecendo nas áreas onde o sistema já está consolidado. Os Institutos de Pesquisa e os Pólos Regionais da Agência Paulista de Tecnologia para os Agronegócios (APTA) têm pesquisadores atuando em áreas multidisciplinares e com competência para desenvolver tecnologias para o sistema plantio direto.” Este trabalho do grupo de pesquisa da APTA, com vistas a integrar e organizar as ações, bem como aumentar da eficiência do processo de geração e difusão de tecnologias, está sendo consolidado no Programa de Pesquisa em Plantio Direto (SPDireto), conclui Isabella De Maria. Assessoria de Comunicação Social da APTA (11) 5067-0424

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