Um telado antipulgões ou campo certificado e alguns dos brotos destacados da própria batata é tudo que o bataticultor precisa para produzir batata-semente mais barata e de forma sustentável. A tecnologia do broto/batata-semente, desenvolvida no Instituto Agronômico (IAC-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, conquistou, em 21 de novembro, a Instrução Normativa n.º 32 (IN32) do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Agora, é regulamentada oficialmente como material de propagação da batata sob igual aceitação dos convencionais tubérculos, micro-tubérculos ou minitubérculos e das plântulas geradas em laboratório de cultura de tecidos.
Com a norma, o agricultor que utilizar o broto da batata, subproduto da cultura, como material de propagação terá em suas mãos um produto certificado. A normatização oferece uma motivação a mais para os produtores, diz o pesquisador responsável pela tecnologia, José Alberto Caram de Souza Dias. “Quem descartar brotos, não souber ou quiser aproveitá-los, estará demonstrando desinteresse por um produto oficialmente considerado batata-semente. Queimar ou jogar fora brotos de tubérculos/batata-semente básicas é jogar fora negócios, oportunidades de empregos, é desprezar nova fonte de renda e de economia para sua produção.”
Dentre as vantagens da produção de batata-semente, a partir do broto, está a redução do risco de introdução de pragas do solo que podem estar na epiderme dos tubérculos de batata-semente, explica Caram. “Se comparado à plântula, originada de técnicas de cultura de tecidos in vitro, os brotos têm maior fidelidade genética. Quanto à sanidade, sendo os brotos destacados de tubérculos livres de vírus, estes estarão igualmente sadios.”
Menor custo
A tecnologia também possibilita aproveitar centenas de toneladas de brotos destacados de lotes de batata-semente básica que são descartados anualmente, diz o pesquisador do IAC. “Agora, os brotos poderão ser oficialmente aproveitados para produção de lotes adicionais de tubérculos/batata-semente certificada, reduzindo a dependência das importações.”
Além disso, países estabelecidos como exportadores de batata-semente da Europa e da América do Norte passam a contar com um produto a mais para a exportação de batata-semente livre de vírus, completa Caram. “A tecnologia garante redução de custos de frete internacional, pois o broto pesa de oito a 12 vezes menos que os tubérculos.”
Na produção certificada de batata-semente a partir do broto, o produtor precisa de um telado para o plantio e câmara fria para o armazenamento dos brotos e minitubérculos gerados. O custo de um telado de 300 a 600 m2 pode variar de R$ 15.000,00 a R$ 40.000,00. O investimento pode parecer grande, mas o retorno é promissor, uma vez que o custo da produção de minitubérculos/batata-semente, após a aquisição do telado, é menor.
O produtor pode vender mais barato e ainda assim ter lucro satisfatório, observa o pesquisador. “Ao invés de descartar o broto, o bataticultor pode utilizá-lo para a produção de um lote de tubérculo/batata-semente certificado, de alta sanidade e a baixo custo, pois não gastou com a compra do material de propagação.”
Segundo Caram, a certificação abriu novo nicho de mercado. O produtor poderá comercializar os brotos para a produção de batata-semente no sistema orgânico. “O broto, ao ser desconectado do tubérculo/batata-semente produzido no sistema convencional, é um representante fiel da genética da planta. Vindo portanto de um sistema natural e não laboratorial, os brotos, nas mãos dos produtores orgânicos, produzirão a semente básica, pura e orgânica, necessária para a produção de batata-semente orgânica”, esclarece.
A produção de material de propagação a partir do broto da batata também pode ser considerada sustentável. De acordo com o pesquisador, de um único produto, ou seja, um tubérculo/batata-semente de 35 a 60 centímetros de diâmetro, é possível destacar até quatro brotos. O resultado é o aumento da taxa de multiplicação em até 100%, pois cada um desses brotos plantados produz, em média, três novos tubérculos.
Aumenta-se a produção de batata-semente sem aumentar a área de cultivo, uma vez que os brotos são subprodutos naturais, e sem afetar a produtividade dos tubérculos, que rebrotam, afirma Caram. “Faz-se uso de recursos da própria atividade de produção, favorecendo o meio-ambiente e o agronegócio, que tem tido grande demanda na forma de agricultura sustentável.”
Norma federal
A Instrução Normativa n.º 32, do MAPA, define que brotos medindo de cinco a dez centímetros podem ser destacados de tubérculos produzidos dentro do sistema de telados. Se não forem destinados à produção orgânica, os brotos podem ser tratados com soluções descontaminantes e o contato com o solo do local da desbrota deve ser evitado.
O trabalho da desbrota deve ser realizado em ambiente fechado e livre de insetos. Os brotos devem ser armazenados em sacos plásticos fechados – tipo zipados – em câmera fria a 4 ºC, esplica Caram. “Para que o material seja certificado, o produtor deve solicitar ao MAPA a inscrição do telado conforme estabelecido na norma IN32.”
Responsável pelo desenvolvimento da tecnologia, o pesquisador do IAC forneceu as informações para a normatização do uso do broto como semente na produção de lotes certificados de batata-semente, livre de vírus e outros patógenos. A norma IN32 pode ser lida na íntegra no Diário Oficial da União (DOU), edição de 21 de novembro de 2012. O exemplar também está disponível no site da imprensa oficial (http://portal.in.gov.br).
Texto: Raquel Gomes Hatamoto (estagiária)
Assessoria de Imprensa do IAC
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