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Unidades de pesquisas da APTA vencem Prêmio Josué de Castro

“Antes tínhamos na mesa arroz, feijão e mandioca. Agora temos peixe”. A frase foi dita por um dos quilombolas do município de Eldorado, no Vale do Ribeira, ao pesquisador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Antonio Fernando Leonardo, e à Ana Eliza Baccarin Leonardo, analista de desenvolvimento agrário da Fundação Instituto de Terra do Estado de São Paulo (ITESP). Se o depoimento do pequeno produtor já tinha incentivado os integrantes do projeto “Criação em pequena escala de tilápia do Nilo em comunidade remanescente de quilombo no Vale do Ribeira”, a notícia de que a pesquisa foi agraciada com o Prêmio Josué de Castro mostra mais uma vez a relevância do trabalho. A pesquisa foi realizada pela APTA, em parceria com o ITESP.
Na edição deste ano, unidades de pesquisa da APTA, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, venceram nas duas categorias existentes do Prêmio Josué de Castro. O trabalho de transferência de tecnologia a quilombolas do Vale do Ribeira, do Polo Regional Vale do Ribeira da APTA, é o vencedor na categoria Pesquisa Científica, e o programa para o desenvolvimento da mandioca de mesa IAC 576-70, do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, é a agraciada na categoria Programas de Políticas Públicas. O Prêmio Josué de Castro é concedido pelo governo do Estado de São Paulo, por meio do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (Consea). A premiação será feita no Dia Mundial da Alimentação, em 16 de outubro, às 10h, em São Paulo, na Sede da Secretaria de Agricultura.
A honraria premia iniciativas voltadas à formulação de soluções concretas para o combate à fome e a promoção da segurança alimentar “É um grande reconhecimento para a APTA ser vencedora nas duas categorias do prêmio. Mostra que estamos no caminho certo, ajudando no desenvolvimento do agronegócio para o pequeno, médio e grande produtor rural”, comemora Orlando Melo de Castro, coordenador da APTA. A Agência desenvolve anualmente cerca de 1.500 projetos de pesquisa e é considerada a maior instituição de pesquisa estadual do Brasil e a segunda maior do País.
A região do Vale do Ribeira, no sul do Estado de São Paulo, é conhecida por possuir uma das últimas áreas preservadas da Mata Atlântica do Brasil. A atividade econômica dominante é a agricultura, com grandes produtores de banana. Entretanto, existem também comunidades tradicionais, como os caiçaras, as aldeias indígenas e as comunidades remanescentes de quilombolas. “Esses grupos coexistem com a rica biodiversidade da Mata Atlântica, onde desenvolveram suas atividades culturais e econômicas”, afirma Leonardo.
 O Vale do Ribeira abriga a grande maioria das comunidades quilombolas paulistas: 30, das 35 existentes. Os pesquisadores da APTA, em parceria com os técnicos da Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP), começaram, em 2005, a realizar um projeto com as comunidades. O objetivo foi buscar alternativas econômicas que respeitassem a identidade cultural desses grupos e o uso sustentável dos recursos naturais, para que elas permanecessem na região.
 A equipe técnica do projeto realizou a limpeza e a readequação dos viveiros de 50 metros quadrados existentes no município de Eldorado. Depois disso, ensinaram 27 famílias quilombolas como deveria ser feito o monitoramento e a alimentação dos peixes. Na primeira despesca, os produtores conseguiram retirar 263 kg de tilápia, sendo que 155 kg foram comercializados, 81 kg distribuídos entre as famílias e 39 kg usados como pagamento às pessoas que trabalharam na despesca e não faziam parte do grupo.
“O custo de produção na primeira despesca foi de R$ 1,82 e a venda a R$ 3 reais, ou seja, mais de R$ 1 real de lucro por quilo”, comemora Leonardo. Segundo o pesquisador da APTA, a piscicultura familiar é uma alternativa para complementar a receita das pequenas propriedades e é também fonte de proteína em comunidades mais pobres. “Das 20 famílias entrevistadas, 35% raramente consumia peixe, 10% consumiam semanalmente e 55%, mensalmente. Após o início da criação dos peixes, as famílias que raramente consumiam passaram a comer o alimento semanalmente ou mensalmente. O consumo de peixe aumentou de 35% para 65%”, afirma Leonardo.
Por conta do sucesso, o projeto foi expandido para outras quatro comunidades. “Antes esses quilombolas trabalhavam com mel, gado, roças tradicionais visando à subsistência e o artesanato. Agora eles complementaram a renda e têm peixe no prato, que é uma importante fonte de proteínas”, explica o pesquisador da APTA.
O projeto foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O trabalho teve como tripé a produção economicamente correta, socialmente justa e ecologicamente viável. “Conseguimos trabalhar harmonicamente nesses três setores. Buscamos agora aumentar a área produtiva, reduzindo cada vez mais os impactos gerados na atividade”, afirma Leonardo. 
Mandioca IAC 576-70
O programa “A variedade de mandioca de mesa IAC 576-70 como agente transformador da segurança alimentar de populações de baixa renda, pequenos agricultores e patrimônio genético”, desenvolvida pelo IAC, também será agraciada com o Prêmio Josué de Castro, na categoria Programas de Políticas Públicas. O premiação foi conquistada gr aças a trabalho conjunto de gerações de pesquisa e assistência técnica. 
A mandioca IAC 576-70, conhecida também como amarelinha, tem alto desempenho agrícola, produtividade elevada, resistência a doenças e se adapta bem as exigências da comercialização. Por ser de cor amarela, a variedade tem mais vitamina A do que as anteriores, aproximadamente 220 unidades internacionais por cem gramas. A mandioca IAC 576-70 está presente em quase 100% dos campos paulistas de mandioca e está em ampla difusão em Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, Goiás e Distrito Federal.
“Esse prêmio é um reconhecimento e estímulo ao nosso trabalho. A mandioca, apesar de importantíssima, não é uma cultura muito reconhecida no Brasil. Cada vez que somos premiados, há um estímulo não só ao IAC, mas a todas as pessoas que trabalham com a cultura”, afirma Teresa Losada Valle, pesquisadora do IAC e coordenadora do Programa de Mandioca do Instituto. A mandioca, segundo Valle, é considerada a “menina dos olhos” da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) para a erradicação da fome entre as populações tropicais de baixa renda, principalmente na África. A FAO também considera a mandioca importante por ser uma cultura com alto potencial de desenvolvimento da agricultura sustentável.  
A IAC 576-70 é fruto do programa de melhoramento de mandioca de mesa do IAC, que iniciou seus trabalhos ainda na década de 1930. Desde o começo, os pesquisadores priorizaram o desenvolvimento de variedades de mesa com características capazes de impactar o mercado consumidor. “A IAC 576-70 é fruto desse trabalho ininterrupto de várias gerações de pesquisadores do Instituto Agronômico”, afirma a pesquisadora do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Em 2012, Valle foi agraciada com o Prêmio Péter Murányi.
O material do IAC é resultado do cruzamento das variedades IAC 14-18, de raiz branca, com a SRT 797 ou Ouro do Vale, de raiz amarela. Buscou-se com esse cruzamento uma variedade que associasse bom desempenho agrícola, como produtividade e resistência a doenças, com raízes amarelas. “Produtores e consumidores têm preferência pela mandioca de mesa de raiz mais amarela. Além de estética, a cor amarela é indicativa de maior teor de carotenoides precursores de vitamina A”, explica a pesquisadora.
Com a IAC 576-70 pronta, foi preciso trabalhar para implantar a nova mandioca de mesa nos campos e quintais do Estado. A Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) se encarregou desse trabalho. A variedade foi logo aceita pelos pequenos agricultores comerciais, visto que o cultivo da IAC 576-70 possibilitou considerável aumento na renda, e pelos agricultores de subsistência, que viram suas roças de quintais cada vez mais produtivas. Hoje, a variedade é maioria esmagadora no campo e representa quase 100% das mais de 160 mil toneladas de mandioca de mesa produzida anualmente no Estado de São Paulo. 
Prêmio Josué de Castro
De acordo com o site institucional, o prêmio Josué de Castro é uma oportunidade de conhecer projetos públicos ou da iniciativa privada, que promovam a segurança alimentar e o bem estar da população paulista. Neste ano, as universidades e instituições de pesquisa públicas ou privadas, além dos órgãos públicos municipais e estaduais de São Paulo puderam se inscrever em duas categorias: Melhor pesquisa científica e Melhor programa ou projeto de políticas públicas. As duas categoriais tiveram como vencedoras unidades de pesquisas ligadas à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo.
Josué de Castro foi médico, professor, geógrafo, sociólogo, escritor, político e intelectual que fez da luta contra a fome a sua bandeira de vida. Autor de dezenas obras, algumas delas traduzidas para 25 idiomas, publicou Geografia da Fome – seu livro mais conhecido – em 1946, época em que se tornou referência internacional no tema e um dos maiores estudiosos das causas da miséria no Brasil e no mundo.
Serviço
Dia Mundial da Alimentação e Cerimônia de entrega do Prêmio Josué de Castro
Data: 16 de outubro de 2013
Horário: 10h
Local: Salão Nobre da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo
Endereço: Av. Miguel Stéfano, 3.900, Água Funda, São Paulo.

Texto: Fernanda Domiciano
Assessoria de Imprensa - APTA

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