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Biodegradação = benefício ao meio ambiente. Será?

Pesquisadores buscam quebrar paradigma e fornecer informações corretas sobre a utilização de polímeros biodegradáveis O marketing verde correto é uma ferramenta publicitária que permite a diferenciação de um determinado produto em relação aos seus concorrentes através da utilização de benefícios ou menores danos ambientais. Nem sempre, porém, esse tipo de marketing possui uma base técnica e é calcado em informações corretas. O uso da biodegradação, que criou entre os consumidores uma idéia de que o produto biodegradável seria, por si só, benéfico para a natureza, é um exemplo disso. Mas, pesquisadores do Centro de Tecnologia de Embalagem (CETEA) demonstram que a supervalorização de materiais plásticos degradáveis é um equívoco. O pesquisador Guilherme Castilho de Queiroz explica que, embora o processo possa dar a aparência de que uma embalagem deixe de ser um problema de resíduo sólido, pode emitir para o ar substâncias que contribuem para o aquecimento global, a redução do oxigênio disponível na água, entre outras implicações. Queiroz localiza as origens do engano do consumidor em campanhas publicitárias segundo as quais o detergente bom era o biodegradável, em função de uma captação e tratamento de esgoto adequados. Esse conceito é correto para produtos que necessariamente vão para a água, como o detergente, xampus, amaciantes etc. “No entanto, em função desse histórico, o consumidor absorveu a idéia. Então, algumas empresas que querem atender um mercado específico, lançam um produto nesse sentido, como se também fosse uma solução adequada para resíduo sólido, aproveitando uma cultura que foi criada”, conta o pesquisador. Queiroz esclarece, ainda, que outra causa dessa valorização excessiva de embalagens degradáveis é um deslocamento daquele que deveria ser o foco principal da discussão acerca do gerenciamento dos resíduos sólidos. “Fomos educados ouvindo que é um problema que os produtos ficam tantos anos na natureza. Esqueceram de dizer que não era para jogar na natureza”, afirma. Isso quer dizer que, antes da biodegradação – que em casos específicos realmente pode gerar benefícios – outras condutas mais eficientes e benéficas devem ser estimuladas. A primeira delas é a redução da geração dos resíduos sólidos. A Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, realizada em 2000 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que a quantidade de lixo produzida diariamente no Brasil naquele ano chegava a 228.413 toneladas. Segundo o pesquisador do CETEA, diminuir essa quantidade passa pelo conceito de consumo sustentável, que deve ser aplicado tanto pelo consumidor quanto pela indústria no sentido de minimizar e, se possível, eliminar o desperdício. Entre as possibilidades benéficas para melhorar a destinação dos resíduos sólidos está a reciclagem. “Muito mais interessante que a biodegradação é reciclar e investir para que seja feita a separação e a coleta. Deve-se cuidar para que esse material seja usado o máximo possível para evitar que sejam tirados recursos não renováveis da natureza”, explica Queiroz. Isso não quer dizer, porém, que os materiais biodegradáveis não tenham sua função, mas ela fica restrita a fins muito específicos. “No mínimo, é preciso saber que ser biodegradável não quer dizer ser bom para o meio ambiente”, alerta o pesquisador. A biodegradação pode ser interessante, por exemplo, quando além da diminuição da geração de resíduos e da reciclagem dos materiais, é implantado um sistema de compostagem do lixo orgânico (restos de alimentos). Mas, como essa não é uma realidade significativa no Brasil, não justifica a cultura do biodegradável. Caso o plástico degradável seja deixado em aterros, por exemplo, pode, ao contrário, tornar-se maléfico para a natureza. Há, inclusive, a possibilidade de emitir metano na atmosfera, o que pode provocar explosões e contribuir para o agravamento do efeito estufa. Aproveitar esse metano como recurso energético poderia ser uma alternativa, mas isso também quase não ocorre no País hoje de maneira eficiente, com a revalorização via recuperação energética com eficiência ambiental e econômica, como a venda de energia. O oxigênio consumido na degradação também pode diminuir a taxa de oxigênio em rios e causar a morte de peixes. Além disso, se ela começar a ocorrer assim que a embalagem passa pela extrusão, as cadeias do polímero começam a ser quebradas, o que facilita a migração do material da embalagem para o produto. Isso poderia ser prejudicial, principalmente, quando se pensa numa probabilidade de contaminação acidental de alimentos. Assim, mais do que uma alternativa “milagrosa”, como a biodegradação passou a ser vista, o que pode realmente trazer benefícios ao meio ambiente é um Gerenciamento Integrado do Resíduo Sólido voltado para aspectos como a redução, reutilização, reciclagem e recuperação energética. Qualquer coisa fora dele pode confundir o consumidor e prejudicar a educação ambiental em prol de uma propaganda que, muitas vezes, não se baseia em conhecimentos técnicos.

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