Quanto mais cedo se colhe, mais depressa o produtor rural consegue recuperar o que foi investido, pagar os financiamentos e lucrar. No caso do heveicultor, a extração do látex demora cerca de sete anos. Mas esse tempo caiu para cinco anos, graças às pesquisas paulistas que desenvolveram 15 novos clones de seringueiras precoces. Os clones foram desenvolvidos pelo Instituto Agronômico (IAC-APTA), de Campinas, com auxílio do Polo Regional Noroeste Paulista, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Começar a sangrar as seringueiras com tempo 30% menor significa antecipar ganhos para pagar o investimento. Todos os 15 novos clones selecionados pelo IAC têm também maior produtividade que o material mais plantado em São Paulo atualmente, o importado da Ásia RRIM 600, que produz em torno de 1.400 kg por hectare no ano. O novo IAC 500 – o mais produtivo dos selecionados – produz cerca de 2.000 kg de borracha seca por hectare, 40% a mais. São ganhos de cerca de 500 kg de borracha seca por ano. Os materiais foram expostos pela primeira vez na Agrishow 2013.
“Um clone precoce no qual o produtor pode sangrar mais cedo certamente possibilitará retorno financeiro do banco antecipado, para pagar o financiamento antes do prazo previsto”, comemora o pesquisador do IAC, responsável pelo Programa Seringueira do Instituto, Paulo Gonçalves. Os clones IAC 505, IAC 507, IAC 511 e IAC 512 apresentam alta precocidade e com cinco anos e meio mostraram que o perímetro do caule estava apto à abertura de painéis para a prática da sangria – extração do látex que dá origem à borracha natural –, quando o normal seria no sétimo ano. “Acreditamos que a precocidade deles está em função da possível divergência genética dos parentais utilizados”, explica o pesquisador do IAC.
A abertura de painel se dá quando as árvores alcançam perímetro do caule acima de 45 cm do solo e 1,5 m de altura. “Geralmente esse procedimento é feito quando mais de 50% das árvores do seringal apresentam essa média. Se o procedimento é feito antes dos sete anos, isso é muito bom para o produtor porque ele terá o retorno financeiro mais cedo”, afirma Gonçalves.
A produtividade é outro atrativo para os produtores rurais. A média de quatro anos de produção dos clones IAC 500 e IAC 502, por exemplo, mostrou-se alta em relação ao clone mais plantado no Estado, o RRIM 600, produzindo, por ano, 2.000 kg por hectare e 1.900 kg, respectivamente. Enquanto que o RRIM 600 produz cerca de 1.400 kg.
São Paulo possui os seringais mais produtivos do mundo, com produção média de 1.200 kg por hectare no ano. Na Tailândia, Indonésia e Malásia, a produção chega a 1.100 kg, 1.000 kg e 900 kg, respectivamente, por hectare, por ano. Para se ter ideia, o IAC 500 produz 52% a mais do que os seringais da Malásia.
Outra característica importante é a casca espessa existente nos clones IAC 503, IAC 500 e IAC 509. Essa característica diminui o risco de o seringueiro atingir o lenho do caule da árvore. Os três clones apresentam também maior número de anéis de vasos laticíferos, revelando que são bons produtores de látex. “Existe uma alta correlação entre o número de anéis de vasos laticíferos e a produção de borracha”, afirma Gonçalves.
Os clones IAC 505, IAC 507 e IAC 511 apresentam ainda maior incremento do caule na pós-sangria. Isso significa que, mesmo após serem submetidos à sangria, essas plantas apresentam crescimento. “Aqueles clones que não possuem esse caráter, geralmente crescem na pré-sangria e depois param na pós-sangria, tornando-se suscetíveis à quebra pelo vento”, explica Gonçalves.
Os clones IAC foram desenvolvidos para cultivo na região do Planalto, onde não há incidência da pior doença da seringueira na América Latina, o mal-das-folhas. Parte dos clones selecionados pelo IAC é tolerante à antracnose, doença causada pelo fungo Colletotrichum gloeosporioides, que atinge as folhas, mesmo na região do Planalto.
De acordo com os pesquisadores, os dois objetivos principais do melhoramento genético da seringueira estão relacionados ao aumento de produtividade das plantas e à resistência ao mal-das-folhas na região do litoral. “Com o objetivo de atender às peculiaridades próprias dessas regiões o programa de melhoramento do IAC levou em consideração o fato de o Planalto Paulista, pelo menos até agora, não ter mostrado ataques epidêmicos da doença. Nessa região, verifica-se um período seco na época de reenfolhamento das plantas”, explica Gonçalves. São Paulo é o Estado que mais produz borracha no Brasil — 90% dos seringais paulistas encontram-se no Planalto, justamente por conta da doença. A região produz mais de 70 mil toneladas de borracha seca por ano.
As avaliações dos clones foram feitas em Votuporanga e, por isso, a recomendação de plantio se limita à região de São José do Rio Preto. “Vários ensaios desta série estão sendo instalados em diferentes regiões do Estado para que no futuro alguns clones possam ser recomendados em larga escala para São Paulo”, diz o pesquisador do IAC.
Para um clone ser recomendado para plantio em grande escala é necessário que passe por três fases de estudos: avaliação, polinização controlada e avaliação/seleção, totalizando pelo menos 30 anos. “Os clones IAC 500, IAC 502, IAC 503 e IAC 506 são recomendados para plantio em pequena escala porque estão no início da terceira fase de avaliação”, explica Gonçalves.
Produção de látex em São Paulo
Existem cerca de 40 mil produtos disponíveis no mercado derivados da borracha. Os seringais paulistas são os mais produtivos do mundo e responsáveis pela maior parte da produção de borracha do País. São 90 mil hectares que geram mais de 15 mil empregos no campo, além dos postos nas indústrias, a movimentação resulta em aumento na arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), gerando mais recursos para o Governo de diversas cidades paulistas.
Por trás desses resultados existem mais de 30 anos de pesquisas desenvolvidas pelo Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, na área de heveicultura. O IAC desenvolve clones adaptados às diversas regiões do Estado e leva para os heveicultores a melhor forma de plantio e o manejo de seringueiras, incluindo a sangria.
Os resultados das pesquisas do IAC têm forte impacto na economia estadual. São três mil produtores, com rentabilidade anual em torno de R$ 7 mil reais por hectare.
Texto: Fernanda Domiciano
Assessoria de Imprensa – IAC