Plantio De Sementes Ilegais Impulsiona A Soja Transgênica
Data da postagem: 24 Novembro 2005
A produção brasileira de soja transgênica na safra 2005/06 deverá crescer até 44,6% em área e 252% em volume em relação ao ciclo passado. Boa parte desse avanço, contudo, ocorrerá com o uso de sementes ilegais ou salvas, embora o comércio de sementes certificadas esteja legalizado desde março, com a aprovação da Lei de Biossegurança, cuja regulamentação foi publicada ontem.
As conclusões fazem parte de um estudo inédito realizado pela consultoria Céleres e servirão de base para o levantamento anual divulgado pelo Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA). Pelo levantamento, que estima "pisos" e "tetos" para o plantio, a área deve atingir até 8 milhões de hectares e a produção, até 18,2 milhões de toneladas. Assim, a produção transgênica deve responder por até 30% da safra de soja. A Abrasem (que reúne as indústrias sementeiras), estima que esse índice ficará em até 25%.
Conforme a Céleres, a área plantada recuará no Rio Grande do Sul e crescerá no Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. "O Rio Grande do Sul reduziu a área plantada devido aos prejuízos da última safra, mas a produção será maior", prevê Leonardo Sologuren, da Céleres. A consultoria prevê redução de até 9,2% na área gaúcha. No Paraná, a expansão pode chegar a 174,7%.
O analista observa que o avanço da soja transgênica não foi tão rápido como na Argentina devido à falta de sementes adaptadas às condições de clima e solo do Centro-Oeste. "Além disso, o pagamento de royalty é apontado como um fator limitador no Brasil. Na Argentina, os produtores não pagam a taxa", lembra.
Segundo representantes do setor, muitos produtores economizaram com a adoção de sementes contrabandeadas ou salvas da safra passada. O resultado é que sobram sementes legais no mercado. Miyamoto estima que das 3 milhões de sacas de sementes legais de soja transgênica ofertadas nesta safra, 10% ficarão nos armazéns das indústrias.
No Rio Grande do Sul, 30% das 600 mil sacas produzidas pelas indústrias estão sobrando, segundo Narciso Barison Neto, presidente da Apassul (reúne as sementeiras gaúchas). "A liberação pelo governo federal do uso de sementes próprias com financiamento dos bancos limou as vendas de sementes certificadas", diz Neto. A autorização do Ministério da Agricultura aconteceu em setembro, devido à falta de sementes legais no Estado, que deve consumir 6 milhões de sacas para o plantio de 4 milhões de hectares.
No Paraná, das 300 mil sacas ofertadas pelas indústrias, 20% não foram vendidas, segundo a Apasem (associação das sementeiras paranaenses). Eugênio Bohatch, presidente da entidade, diz que agricultores preferiram usar sementes salvas da safra anterior por conta da demora na definição sobre a cobrança dos royalties, fechada em setembro.
A sobra de sementes transgênicas certificadas produzidas pelas indústrias no Mato Grosso chega a 30%. Segundo a Fundação Mato Grosso, as sementeiras do Estado estão ofertando 600 mil sacas de sementes transgênicas. No Mato Grosso do Sul, onde o uso de sementes transgênicas deve atingir 60% da área total de soja, conforme a associação dos produtores de sementes (Aprossul), a venda de sementes modificadas deve atingir 1,4 milhão de sacas. Do total, as indústrias ofertaram 250 mil, e dois terços não foram vendidos, segundo Carmélio Roos, presidente da entidade. Para ele, o uso de sementes legais deve crescer no futuro, com o lançamento de variedades adaptadas ao Centro-Oeste.
Miyamoto acredita que, com a regulamentação da Lei de Biossegurança, as indústrias submeterão pedidos de liberação para pesquisa e lançamento de sementes adaptadas à diferentes regiões. Embrapa, Fundação Mato Grosso e Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec), têm projetos de lançamentos de variedades para Centro-Oeste e Sudeste em 2006/07. A Coodetec também inaugura na próxima semana um centro de pesquisas em Goiás e implantará um laboratório em Minas em 2006.