Um projeto de consolidação da cadeia do biodiesel de macaúba com a agricultura familiar será desenvolvido no Pontal do Paranapanema (SP) pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ-USP), em parceria com o Polo Alta Sorocabana/APTA Regional da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios/Secretaria de Agricultura e Abastecimento, Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP) e associações de produtores. A proposta - uma iniciativa da Fundação de Estudos Agrários “Luiz de Queiroz” (FEALQ) – tem o objetivo de promover a geração de renda, segurança alimentar e o uso/conservação da biodiversidade local.
A macaúba é uma palmeira nativa de ampla ocorrência no Estado de São Paulo e se apresenta como uma alternativa par a agricultura familiar, diz o pesquisador Joaquim Adelino de Azevedo Filho, do Polo Leste Paulista/APTA Regional. Pode produzir mais de 5.000 kg de óleo por hectare, com baixo custo, devido sua ampla adaptação aos diferentes tipos de solos e condições ambientais. “Este patamar de produtividade pode permitir uma rentabilidade em pequenas áreas, o que seria inviável com culturas anuais como soja, girassol, mamona etc. Assim, permite que a agricultura familiar possa integrar a cadeia produtiva do biodiesel.”
O trabalho será realizado nas comunidades rurais de Teodoro Sampaio, Mirante do Paranapanema, Presidente Epitácio e Caiuá, localizadas no Pontal do Paranapanema, região sudoeste do Estado de São Paulo. O público beneficiado será composto basicamente de agricultores assentados, além de técnicos e pesquisadores de instituições parceiras.
Além de consolidar a produção da macaúba no âmbito da agricultura familiar, a idéia é articular a comunidade para o uso e o manejo da cultura em assentamentos rurais com vistas à extração de óleo para a produção de biodiesel, explica o pesquisador Nobuyoshi Narita, diretor do Polo Regional Alta Sorocabana, que vai conduzir o trabalho.
Outros propósitos são formar e instrumentalizar agricultores, técnicos e pesquisadores; intensificar e consolidar pesquisas sobre macaúba e outras oleaginosas com potencial na região; integrar políticas públicas de biocombustíveis com aquisição de alimentos; integrar parceiros que atuam na região; e gerar subsídios para propostas inovadoras de uso, ocupação, recuperação e conservação de áreas de preservação permanentes (APP) e reservas legais.
Entre as ações estratégicas, está prevista a implantação de 50 unidades técnicas de observação com agricultores familiares e o planejamento para uso e manejo comunitário das populações nativas de macaúba no Pontal.
A região do pontal é uma das maiores áreas de assentados do país, com aproximadamente seis mil famílias (112 assentamentos rurais divididos em 13 municípios), vivendo em área total de 150 mil hectares. As projeções são de assentamento de 50 mil famílias na região, em um total de um milhão de hectares de terras devolutas.
A região possui a maior floresta de mata atlântica ainda em pé longe do litoral, “apesar de a cana-de-açúcar estar comendo essas florestas paulatinamente”, mas também tem enorme carência de políticas públicas de incentivo ao uso da terra e fixação do homem no campo, observa o pesquisador Carlos Augusto Colombo, do Instituto Agronômico (IAC-APTA). Paralelamente, é a região de maior ocorrência da palmeira macaúba no estado, com centenas ou milhares de hectares com a espécie. São mais de mil plantas por hectare, que podem ser importante gerador de renda local.
No entanto, a exploração da espécie em seu ambiente natural requer normas ou boas práticas de manejo, que devem ser regulamentadas pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), assinala Colombo. Reunião realizada em junho passado, em Teodoro Sampaio, teve esse propósito, ou seja, dar início à preparação de um documento que oriente a exploração das plantas nativas de macaúba da região do pontal.
“Ao mesmo tempo, como resultado de nosso projeto FAPESP, selecionamos cerca de 40 matrizes ou plantas-elite (em função da produção de frutos e rendimento de óleo), cujas progênies serão avaliadas em três ambientes”, diz Colombo. Um desses projetos é justamente o do Pontal. “A idéia é avaliar o comportamento dessa plantas-elite naquela região com vistas à seleção dos melhores genótipos para plantio comercial e exploração sob bases mais competitivas.”
Pesquisas e tecnologias
Os estudos com a macaúba começaram em 2006 no IAC, por meio de projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e coordenado por Colombo. Este projeto envolveu duas dissertações de mestrado. A primeira, orientada pelo pesquisador Joaquim Adelino, focou o desenvolvimento de biblioteca de microssatélites para a espécie (basicamente, o seqüenciamento de regiões-alvo do genoma em busca de sequências repetidas para serem utilizadas como marcadores em estudos genéticos da espécie).
A segunda dissertação, orientada pelo pesquisador Ricardo Marques Coelho (IAC), buscou associar a diversidade observada em plantas de diferentes populações no Estado, em relação a dados de clima e física/química do solo. Este estudo revelou que regiões com maior fertilidade ou matéria orgânica apresentavam plantas mais produtivas, explica Colombo. “Esses dados sugerem que a espécie responde à adubação e que a seleção de genótipos elite para fins de multiplicação deve ser relativizada em função das características ambientais do local.”
A partir de 2009, com o melhor conhecimento dos locais de ocorrência da macaúba, “passamos a selecionar plantas e a acompanhar sua produção e determinação do teor de óleo e outros componentes”, explica Joaquim Adelino. Nesse sentido, o aluno de doutorado Luiz Henrique Chorfi Berton, com bolsa FAPESP, desenvolve o trabalho “Diversidade e estimativas de parâmetros genéticos em macaúba (Acrocomia aculeata), sob orientação de Colombo.
O segundo projeto FAPESP (2011), envolvendo dois alunos de doutorado, além de solicitação de bolsa para um aluno de pós-doc, tem o título “Diversidade Genética e Seleção de Matrizes com Testes de Progenies da Palmeira Macaúba para Produção Biodiesel”. De acordo com Colombo, nesse estudo, a seleção das plantas matrizes é conduzida a partir de dados “morfo-agronômicos”, de rendimento e composição do óleo dos frutos e de marcadores moleculares em plantas de maciços naturais em diversos ambientes do estado de São Paulo e áreas limítrofes no estado de Minas Gerais.
Paralelamente, são conduzidos protocolos de cultura de tecidos para multiplicação clonal de plantas-elite, estabelecimento de relações entre nutrição e regime de produção de frutos e estudos de anatomia de células produtoras de óleo frutos visando à identificação de indicadores para seleção precoce. Tudo isso, de acordo com Colombo, para fornecer suporte à adoção da espécie para produção de biodiesel sob bases competitivas, recuperação de áreas degradadas, plantio em áreas de reserva legal e geração de renda para agricultura familiar.
A palmeira macaúba apresenta grande potencial para se tornar uma cultura que venha a complementar a cadeia de biodiesel, demonstra o estudo “Seleção de matrizes de macaúba (Acrocomia aculeata) para produção de biodiesel”, do doutorando Luiz Berton, em parceria com os pesquisadores Joaquim Adelino, Cássia Regina Limonta de Carvalho, Walter José Siqueira e Carlos Colombo. Entre os anos-agrícolas 2009/10 e 2010/11, foram avaliados 274 genótipos de macaúba em 25 populações naturais da planta nos estados de São Paulo e Minas Gerais.
Para estimar a produção de óleo, foram feitas análises em campo a fim de avaliar a quantidade de cachos e frutos por planta. No laboratório, foram feitas análises de biometria dos frutos e teores de óleo do mesocarpo (polpa) e endosperma (semente ou castanha). Para a seleção de matrizes superiores, utilizou-se como critério uma seleção estratificada, contemplando assim os melhores genótipos dentro de cada população estudada. Os resultados do trabalho indicam que a estimativa de óleo a partir de genótipos superiores pode ser superior a dez mil quilos de óleo por hectare/ano.
Encanto da palmeira
De acordo com Colombo, a produção de óleo por hectare é “o que mais encanta nessa palmeira”. O óleo pode ser extraído da polpa como da semente ou castanha. O fruto é muito parecido com o coco da bahia (Cocus nucifera) em termos de anatomia (é bem menor), e tem uma parte fibrosa ou polpa que envolve a semente. No caso da macaúba, detalha Colombo, essa polpa tem tanto óleo que basta apertar com os dedos que ele escorre na mão e pinga no chão. Esse óleo, cujo conteúdo pode variar de 6 a 65% no mesocarpo (em base seca), é rico em ácido oléico, o que é bom para o biodiesel.
O óleo da amêndoa ou castanha (endocarpo) não varia muito (em torno de 53 a 57%) e é rico em ácido láurico, o que favorece o seu emprego na indústria de alimentos ou cosméticos, explica Colombo. “Conheço um empresário de Minas Gerais (Marcelo) que está vendendo o óleo de macaúba como subproduto. Isso porque uma empresa está comprando a parte dura da semente (que envolve a amêndoa) para produção de filtros. Nisso, o óleo acaba virando um segundo negócio.”
Sendo a macaúba a palmeira de mais ampla área de ocorrência no continente americano, significa que a espécie é adaptada a diferentes ambientes e pode ser cultivada sem maiores dificuldades em muitos locais, resume Colombo. Apresenta “enorme vantagem em relação a outras palmeiras, como o dendê, por exemplo, que necessita de grande volume de água para produzir”.
Além disso, acrescenta Colombo, a macaúba tem sido encontrada em ambientes marginais impróprios para culturas que demandam alta tecnologia de produção, terrenos acidentados ou margem de rios ou em pastagens, sugerindo que possa ser adotada para recuperação de áreas degradadas. “Por ocorrer em tamanha extensão territorial, isso contribui para que a espécie apresente grande diversidade para todas as características de interesse que temos observado: quantidade de espinhos, altura da planta, número de cachos, número de frutos por cacho, tamanho e coloração de frutos e, principalmente, rendimento de óleo, sobretudo do mesocarpo.”
A atual equipe de macaúba da APTA reúne ainda os pesquisadores Luiz Teixeira e Rose Marry Gondim Tomaz (IAC), Roseli Aparecida Ferrari (Instituto de Tecnologia de Alimentos-ITAL), Suelen Loesch (doutoranda FAPESP) e Stella Maris de Nucci (candidata a bolsa FAPESP pós-doc).
Acesse Ábum: http://www.flickr.com/photos/agriculturasp/sets/72157630619322538/
Assessoria de Comunicação da APTA
José Venâncio de Resende
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