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Ótima engorda com uso de feno da rama de mandioca na alimentação de ovinos

As ramas de mandioca que seriam descartadas e ainda poderiam sobrar para o ambiente digeri-las agora podem ser aplicadas na alimentação de ovinos, com ganhos de peso que superam os obtidos com a pastagem em até 115%. Soma-se a isso a possibilidade de usar resíduos de farelos de soja para engordar os animais com maior rapidez e qualidade de carne. Esse é o resultado de uma pesquisa da APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios) - vinculada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento -, desenvolvida na região do Médio Paranapanema, onde estão concentrados 65% da produção de mandioca do Estado de São Paulo, que responde por 35% de toda a mandioca brasileira. A tecnologia vem beneficiar também a ovinocultura, crescente no território paulista, onde há cerca de 400 mil cabeças. O desenvolvimento do setor depende da qualidade da carne e é nesse sentido o objetivo da pesquisa: propiciar o ganho de peso dos animais, com padrão de carcaça exigido pelo mercado, por meio do uso do feno da rama de mandioca como volumoso combinado com alimentos concentrados, formando uma dieta balanceada para engorda rápida. A pesquisa traz o aproveitamento de um subproduto da planta que seria descartado e agora contribui para valorizar os ovinos. Segundo o pesquisador da APTA Romeu F. Nardon, o feno da rama de mandioca tem, em termos nutricionais, a mesma qualidade de uma boa pastagem. Combinado com alimentos concentrados, esse volumoso proporcionou ganho de peso aos animais que corresponde a mais que o dobro do obtido em pastos de condição média. O concentrado de feno de mandioca com o farelo de soja resultou em engorda de 215 gramas/dia por animal. Ao substituir o farelo pelo resíduo de soja, esse ganho foi para 171 gramas/dia por animal. Essa diferença de 44g/dia é explicada porque o resíduo do beneficiamento não é tão bom como o farelo de soja. Ainda assim, esse resultado supera o obtido em pastagem média, que é de 100 gramas/dia por ovino. Essa engorda tem reflexos também na resistência do animal a doenças. De acordo com Nardon, o principal objetivo da pesquisa foi usar um volumoso que não prejudicasse o consumo da ração adicionada ao material, pois há volumoso pouco palatável que faz o animal reduzir o consumo da ração. "O feno foi bem aceito pelos animais e é um material muito disponível na região. Esse é um destaque da pesquisa, além do ganho de peso, que é importante para valorizar a carne", resume o pesquisador da APTA. O pesquisador ressalta que o trabalho foi focado no padrão de carcaça, característica importante que favorece a comercialização do produto por manter sabor e aparência esperados pelo consumidor. "O confinamento visando melhorar a carcaça traz o padrão de qualidade exigido no mercado", diz. Na avaliação do coordenador da APTA, João Paulo Feijão Teixeira, essa pesquisa poderá trazer nova fonte de renda para outras regiões produtoras de mandioca, além do Médio Paranapanema. "Para o ovinocultor, os benefícios são vários, já que a gordura da carcaça, além de dar sabor, favorece a refrigeração e a armazenagem da carne", diz Feijão. Quando falta pasto, tem mandioca Outro benefício dessa tecnologia é a disponibilidade da mandioca justamente no período em que os pastos caem em quantidade e qualidade, de junho a outubro. Com esse recurso, o produtor pode retirar parte do rebanho do pasto, recolhendo-a em confinamento. Assim, a pastagem pode ser melhor aproveitada pelos animais que ficam em menor número. Nardon explica que o pasto não tem proteína e energia suficientes em determinada fase, daí a necessidade de confinar o animal. E, em confinamento, uma parte do alimento tem que ser volumoso, que em geral são as silagens de milho, sorgo, capim ou cana-de-açúcar. Nesta pesquisa da APTA, testou-se o uso do feno da rama de mandioca como volumoso, combinado com concentrados à base de farelo de soja, algodão e milho. "Como ocorre a perda das folhas da mandioca de maio a junho, o produtor pode aproveitar esses restos da parte aérea da planta", diz. O pesquisador afirma que se trata de tecnologia específica para pequenos produtores, pois o processo é essencialmente manual. Nardon esclarece que a adoção dessa tecnologia não acresce custos ao mandiocal, já que os restos da cultura seriam descartados. A diferença é que, após retirar do campo, ao invés de jogar fora, a planta é secada ao sol e usada no volumoso. O único custo é o da picagem do feno. Mas, segundo o pesquisador, essa despesa ainda é muito menor do que se o produtor fosse plantar uma cultura especificamente para produzir silagem ou feno. "A pesquisa mostra quais são os teores com o feno da mandioca", diz produtor Para Hélio Villani, produtor de ovinos da região do Médio Paranapanema, o resultado da pesquisa traz nova fonte de renda para o produtor de mandioca e alternativa de alimentação "mais em conta" para os animais. "Sou produtor de ovinos e tenho interesse que tenha mais uma opção de alimentação na região", diz Villani, que há três anos usa a raspa de mandioca para alimentar os ovinos, mas que nunca tinha usado a rama. "É uma opção barata em relação a outras fontes de energia", afirma. O pecuarista e agrônomo destaca que esse recurso é importante "principalmente agora", relatando o aumento de 30% nos insumos e de cerca de 60% no sal mineral. Com o conhecimento de quem está há 20 anos nessa área, Villani assegura que a ovinocultura é crescente e que a demanda é ainda maior. "Sessenta por cento do consumo de ovinos é importado", diz. Experimentação inédita e tecnologia simples A pesquisa, concluída em outubro de 2007, é inédita no Estado de São Paulo. Segundo o pesquisador da APTA, Romeu Nardon, a experimentação é novidade - nunca antes houve recomendação de procedimento, fornecimento ao animal e avaliação de resultados. Em estados do Norte e Nordeste, há algumas pesquisas com uso de feno para ovinos. Nos experimentos, buscou-se balancear uma ração, usando o feno da rama de mandioca associado a concentrados para ovinos. O desafio era agradar os animais, para manter o consumo, e engordá-los. Era preciso também substituir o farelo de soja por resíduo de beneficiamento - as impurezas resultantes da limpeza do grão. Essa foi uma demanda da indústria regional, que tem interesse no resultado dessa substituição. A avaliação agrada a todos - os animais ganharam peso e os produtores têm a certeza científica de poder contar com subproduto da mandioca. Esse estudo resultou de solicitações dos agricultores da região, que buscaram junto ao Pólo APTA Médio Paranapanema, em Assis, informações sobre como utilizar melhor a cultura, que é farta na região. A região tem ovinocultura crescente, mas esbarra na inexistência do abate fiscalizado, que deverá propiciar o aumento do consumo e da produção. Enquanto está em encaminhamento o funcionamento de um frigorífico na região, a APTA, como geradora de ciência e tecnologia, já está desenvolvendo e disponibilizando ferramentas que possam contribuir na evolução dessa cadeia produtiva. Por Carla Gomes (MTb 28156), da Central de Comunicação APTA

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