Algumas práticas agrícolas, apesar de simples, parecem ser esquecidas pelos produtores ao longo do tempo. Exemplo é a semeadura, em abril, de cultivares de trigo de ciclo longo. Na ânsia de semear materiais de ciclo precoce em sucessão com a cultura da soja, os agricultores acabam esquecendo a importância de materiais de ciclo longo que também são recomendados para a sucessão. “A semeadura de cultivares de ciclo longo no início da safra reduz o risco causado por adversidades climáticas”, afirma o pesquisador do Instituto Agronômico (IAC-APTA), de Campinas, João Carlos Felício. A incidência das doenças das espigas, como a giberela e a brusone, ocorrem com mais intensidade nas cultivares precoces, quando semeadas no início da safra. Isso porque quando as chuvas chegam, em junho e julho, as espigas do trigo não estão mais protegidas pelas bainhas das folhas, necessitando de proteção química que, de acordo com Felício, geralmente não são muito eficazes para o controle, quando o período de chuva excede a 72 horas.
Além de diminuir o rendimento do cereal, a giberela causa outro grande problema: os grãos infectados ficam tóxicos devido à presença de micotoxinas, que podem causar vários tipos de doenças. Durante a XIII Reunião Técnica de Cereais de Inverno, a ser realizada pelo IAC e pelo Polo Regional Sudoeste Paulista, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, os pesquisadores vão abordar a ocorrência da doença e mostrar variedade de trigo de ciclo longo desenvolvido pelo IAC. O evento será realizado em 11 de setembro de 2013, em Capão Bonito, interior paulista. Será apresentada ainda a variedade de triticale IAC-6 Pardal, lançada em setembro de 2012.
Os materiais considerados de ciclo longo são colhidos com 135 dias, da germinação à colheita, e os de ciclo precoce, em 110. “Pode parecer pouca diferença, mas no campo esses 25 dias são de extrema importância para evitarmos a giberela. Não atrapalha a semeadura da soja ou do milho, que começa em outubro, se semearmos variedades de ciclo longo”, afirma Felício. O pesquisador do IAC lembra que essa prática é recomendada, mas que os produtores deixaram de se atentar a esse detalhe de diversificação de ciclo. “Na Argentina, por exemplo, os produtores inicialmente semeiam as cultivares de ciclos longo e, posteriormente, as de precoce (templano), mas no Brasil, chegam a semear nas diferentes épocas recomendadas os materiais precoces”, afirma.
De acordo com Felício, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) intensificou a legislação referente à quantidade de micotoxina nos alimentos. A partir de 2014, a farinha que contiver alta quantidade de micotoxinas não poderá ser comercializada. “Os moinhos, no geral, estão preocupados com a incidência da giberela porque se o trigo estiver infectado não poderá ser comercializado”, explica o pesquisador do IAC.
A doença é de difícil controle químico, pois, de acordo com Felício, a aplicação do fungicida nem sempre é bem sucedida, não produzindo o controle esperado nos períodos de chuva intensa. Existem materiais resistentes a essa doença, porém apresentam baixa qualidade de farinha. “A farinha é vendida por qualidade, dessa forma, a comercialização fica em segundo plano destas cultivares resistentes”, afirma. Daí a importância de fazer a semeadura, em abril, de materiais de ciclo mais longo.
Uma técnica adotada no programa de melhoramento genético do IAC, para evitar a doença é a seleção de cultivares com espigas laxas, isto é, com maior espaçamento entre as inflorescências. “Com esse espaçamento maior, o vento tende a secar mais rapidamente as espigas, como consequência, a ocorrência da giberela tende a ser menor”, explica o pesquisador.
Durante a XIII Reunião Técnica de Cereais de Inverno, Felício vai mostrar aos produtores o trigo IAC 385 Mojave. O material, além de ter ciclo longo, é considerado de tipo melhorador e apresenta alto potencial produtivo. Outras cultivares em uso no Estado de São Paulo produzem em média 20% a menos, exceto o IAC 370 que tem rendimento idêntico ao Mojave. “Esses resultados podem variar de acordo com a região e as condições de clima e solo, mas em condições ideais o produtor consegue atingir altos rendimentos”, explica Felício. O material do IAC apresenta espigas grandes com alto potencial de inflorescência – responsável por gerar os grãos.
A aplicação de defensivos agrícolas nas lavouras do IAC 385 Mojave pode ser reduzida em pelo menos 30%, pois possui moderada resistência à ferrugem da folha, às manchas foliares causadas por helmintoporiose e à brusone. As três são consideradas as principais doenças do trigo.
O IAC 385 Mojave tem características de trigo melhorador e é utilizado para a fabricação de pães especiais – como pão de forma e panetone – e para melhorar outras farinhas de qualidade inferior. São cinco as classes de farinhas existentes: melhorador, pão, doméstico, básico e outros usos.
De acordo com o pesquisador, os moinhos dão preferência na compra de cultivares que apresentem a farinha na cor branca, a comercialização é mais rápida. A variedade do IAC também possui esta característica. O aparelho que classifica a cor, chamado Minolta, registra variações de zero (cor preta) a 100 (cor branca). O IAC 385 Mojave tem classificação 94, o que lhe garante alto potencial para coloração branca. “Entre 92 e 94 na escala, o trigo é branco. Menor que 92 a farinha já é um pouco avermelhada.
A variedade desenvolvida pelo IAC já está presente em cerca de 1.200 hectares no Estado de São Paulo, nas principais regiões produtoras – Capão Bonito e Assis – além do Rio Grande do Sul. “Essa quantidade é grande, pois como o material é recente, ainda leva um tempo para ser adotado pelo setor. Todas as sementes produzidas por nós foram comercializadas”, comemora Felício.
Triticale IAC-6 Pardal
Durante o evento, o IAC também vai mostrar aos produtores a variedade de triticale IAC-6 Pardal, lançado em setembro de 2012. O material é resistente às principais doenças da cultura – brusone, oídio e ferrugem das folhas – o que reduz em mais de 60% a aplicação de defensivos agrícolas, e melhora o rendimento. O triticale resulta do cruzamento do trigo com o centeio, bastante usado para a produção de ração e com boa qualidade de proteína, podendo ser superior a 16%, enquanto o trigo varia de 6% a 16%. Com coloração branca, serve para clarear a farinha de trigo e é utilizado na mistura para a produção de massa de pizza e quibe. A variedade desenvolvida pelo IAC tem produtividade média de 4.905 kg por hectare, 6% a mais do que a IAC 3 e IAC 5, que produzem cerca de 4.618 kg por hectare.
O triticale é bastante utilizado para a produção de ração para aves e suínos por conter lisina – substância que auxilia no crescimento. “Além da ração, o triticale possui múltiplos propósitos na alimentação animal na forma de forragem verde e feno”, afirma. O grão é ainda utilizado como complemento à farinha de trigo, plantado na entressafra em substituição ao milho e à soja e na formação de cobertura vegetal para proteção do solo.
A mistura da farinha de triticale com farinha de trigo é bastante utilizada. Na indústria, a mistura de farinha para panificação com até 20% de triticale é usada para quebrar a força do glúten. Isso ocorre quando se tem uma farinha muito forte e há necessidade de outra que tenha menos força. “A mistura é usada para o clareamento, quando o trigo apresenta coloração que tende para o amarelo, e na suplementação de proteína a farinha de trigo”, afirma Felício.
Evento
A XIII Reunião Técnica de Cereais de Inverno será realizada em 11 de setembro, a partir das 8h, em Capão Bonito, interior de São Paulo. O evento é promovido pelo IAC e pelo Polo Regional Sudoeste Paulista. Além da apresentação de Felício, a pesquisadora da APTA, Vera Lúcia Paes de Barros, vai ministrar a palestra “Pesquisa com aveia preta na Região Sudoeste do Estado de São Paulo”. Nelson Montagna, do Moinho Anaconda, vai palestrar sobre “Comercialização do trigo em 2013”. No período da tarde, haverá visita aos campos demonstrativos e experimentos de trigo, triticale, aveia branca e preta e cevada. O evento tem como público-alvo produtores rurais, engenheiros agrônomos, pesquisadores e demais interessados no cultivo de cereais de inverno.
Serviço
XIII Reunião Técnica de Cereais de Inverno
Data: 11 de setembro de 2013
Horário: 8h
Local: Polo Regional Sudoeste Paulista
Endereço: Rod. Sebastião Ferraz de C. Penteado, SP-250, Km 232, Capão Bonito – SP
Texto: Carla Gomes (MTb 28156) e Fernanda Domiciano
Assessoria de Imprensa – IAC
19 – 2137-0616/0613