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Com preço em alta plantio da soja beira recorde

A cana-de-açúcar, a cultura agrícola que mais atrai a atenção no momento no Brasil, volta a ter um concorrente de peso nos próximos anos: a soja. Após três anos de dificuldades, os produtores da oleaginosa voltam a ampliar a área, que encosta no recorde da safra 2004/2005, quando o país semeou 23,3 milhões de hectares. O plantio de soja volta a crescer porque os preços internacionais atuais garantem novo patamar de rentabilidade aos produtores. Os preços praticados na Bolsa de Chicago para o próximo ano são o sexto maior da história da soja. Na avaliação de analistas, esse é um retorno firme e está assegurado por pelo menos quatro anos. Por ora, não haverá a incorporação de áreas novas na produção, mas um reaproveitamento dos espaços abandonados durante a recente crise. O volume a ser produzido será conseqüência dessa retomada de áreas abandonadas e do desempenho do clima. Juntos, esses dois fatores podem levar o país a uma safra recorde de 63,3 milhões de toneladas no próximo ano. É o que mostra a primeira avaliação da safra 2007/2008 feita pela Agência Rural, de Curitiba (PR). Na avaliação do diretor da empresa, Fernando Muraro, a área plantada com soja cresce para 22,8 milhões de hectares, um percentual 7% superior ao do ano passado. Os números de Muraro não diferem dos de outros analistas do setor. José Pitoli, da Coopermibra, uma cooperativa agrícola do noroeste do Paraná, prevê uma safra de 62,7 milhões de toneladas. Se o clima for favorável, essa produção poderá superar os 65 milhões, diz ele. Anderson Galvão, da consultoria Céleres, de Uberlândia (MG), também estima que a soja volte a ocupar 22,7 milhões de hectares, com produção de 62,7 milhões de toneladas. A empresa deve soltar uma estimativa nas próximas semanas. A alta dos preços da soja permite que até os produtores de fronteiras venham a obter rentabilidade, embora em patamares menores do que os do Sul. Segundo Muraro, a boa rentabilidade no Sul é um dos motivos de o plantio atingir uma área recorde na região. Os produtores do Sul vão dedicar 9,1 milhões de hectares para a soja nesta safra de verão. Na região Sudeste, mesmo com o avanço da cana-de-açúcar, há uma recuperação de área da soja de 5%. No Centro-Oeste, também há recuperação, com avanço de 8% sobre o espaço dedicado ao produto no ano passado. A área a ser plantada nessa região, no entanto, ainda é 4% inferior à de 2005/2006. A certeza de aumento de área está no bom volume de negociações já feitas antecipadamente. Muraro estima que 10 milhões de toneladas da produção da próxima safra já tenham sido comercializados com antecipação. Os negócios foram feitos de US$ 12 a US$ 13 por saca em Sorriso (MT), de US$ 14 a US$ 15 em Rio Verde (GO) e de US$ 16 a US$ 16,5 no Paraná. Apesar desse novo ânimo, o câmbio continua sendo o grande limitador de novos investimentos. Os produtores continuam pagando grande parte das contas em reais e vendendo a soja com base no dólar, cada vez mais desvalorizado ante o real. "A conta em dólares é maravilhosa nesse cenário de preços internacionais, mas é bastante cinzenta quando transformada em reais", diz Muraro. A grande questão é se "a alta de Chicago preserva a queda do câmbio", afirma Galvão. Outra garantia de aumento de área é a antecipação de compra de sementes e de adubos e fertilizantes. Eduardo Daher, diretor-executivo da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), mostra os números recordes de entrega de adubos e fertilizantes no primeiro semestre: 9,4 milhões de toneladas. Desse volume, de 1,4 milhão a 1,6 milhão de toneladas é antecipação de compra para a safra de verão, segundo ele. "O cenário é bom, mas não é espetacular", diz, referindo-se ao setor de adubos e fertilizantes. A logística e o crédito são os grandes inibidores de uma evolução ainda maior, afirma. Para Galvão, os sinais indiretos, como venda de sementes, realmente apontam para uma expansão de área. Mas o produtor vai ter alguns custos bem mais elevados do que os da safra 2003/2004. E o grande vilão tem sido os preços administrados. O diesel vai custar, em dólares, 78% a mais nesta safra do que na de 2003/2004. No período, o salário mínimo subiu 112%, também em dólares. A planilha de custos de Galvão indica que os insumos estão atualmente 14% mais elevados do que os de 2003/4, em dólares. Fertilizantes (27%) e sementes (58%) estão entre os principais fatores de pressão, enquanto os defensivos recuaram 11% no período. Outro item de peso no bolso do produtor serão os aumentos com transporte, que estão 90% mais elevados nesta safra. Apesar dessa elevação de custos e do câmbio, Galvão diz que os produtores vão ter rendimento na safra 2007/8. Considerando apenas os custos diretos, os produtores de Primavera do Leste (MT) podem obter US$ 278 por hectare. Esse valor supera os US$ 40 do ano passado, mas ainda são inferiores aos US$ 307 de 2003/04.

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