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Pesquisa do IZ orienta a melhor forma de controle dos parasitas para que não haja resistência a tratamentos

O Instituto de Zootecnia (IZ-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, realizou pesquisa com 40 produtores de leite da região Noroeste do Estado de São Paulo para levantar a situação de controle do carrapato bovino, Rhipicephalus (Boophilus) microplus nos rebanhos leiteiros e de outros parasitas, como berne e bicheira. O estudo revelou que os produtores sabem pouco sobre a biologia do carrapato e há falhas no controle, o que podem levar à resistência genética do carrapato aos carrapaticidas.
O trabalho coordenado pelos pesquisadores do IZ, Cecília José Veríssimo, Keila Maria Roncato Duarte e Valdinei Tadeu Paulino, foi desenvolvido pela aluna do mestrado do IZ, Flávia Vasques. O estudo foi realizado em 40 propriedades, sendo 20 delas ligadas ao Projeto CATI Leite, nos municípios de Fernandópolis, Meridiano, Macedônia, Pedranópolis, São João das Duas Pontes, Estrela d’Oeste, Guarani d’Oeste, Ouroeste, Populina, Indiaporã, Aspasia, Votuporanga, Valentim Gentil e Cosmorama.
As informações geradas por meio da aplicação de um questionário, contendo 97 perguntas, são referentes a temas relacionados à caracterização do entrevistado, da propriedade e do rebanho, a área da pastagem e as espécies forrageiras, a adubação e o manejo de pastagem, além dos conhecimentos sobre a biologia e a resistência de carrapatos, a aplicação de carrapaticida e o controle de carrapato e a caracterização das propriedades quanto ao controle de outros parasitas.
De acordo com Cecília Veríssimo, as propriedades participantes do projeto CATI Leite têm uma vantagem a mais sobre as não participantes: utilizam muito bem as tecnologias indicadas para a produção leiteira sustentável, como manejo intensivo de pastagens, pastejo rotativo e adubação do pasto com ureia. “Contudo, a maioria dos produtores rurais ainda não realiza corretamente o controle de carrapatos com critérios técnico-científicos, fundamentando-se apenas na avaliação subjetiva da infestação nos animais, e, desta forma, aplica os carrapaticidas com grande frequência, às vezes a intervalos semanais”, explica.
Segundo a pesquisadora, a alta frequência de aplicação do carrapaticida favorece o estabelecimento da resistência genética dos carrapatos aos produtos comerciais, pois seleciona e propaga alelos de resistência por pressão de seleção.
O trabalho destacou que 55% dos produtores estão na atividade leiteira há mais de 20 anos, e que 17,5% dos criadores entraram na atividade há cinco anos. Segundo a pesquisadora do IZ, as propriedades apresentaram grande potencial para integração lavoura-pecuária-floresta, sistema que promove um excelente controle da fase de vida livre desse parasito.
Em 42,5% das propriedades, a média da produção leiteira é entre 200 e 500 litros de leite por dia e 87,5% utilizam a ordenha mecânica, caracterizando assim como pequena propriedade leiteira, mas que se utiliza de tecnologias.
De acordo com o estudo, 65% da região são de exploração mista – carne e leite –, sendo que em 52,5% das propriedades a bovinocultura leiteira é a principal fonte de renda, contribuindo com 30% na renda familiar. Além de 70% das propriedades estudadas terem criação de bovinos cruzados (Bos taurus indicus x Bos taurus).
Cecília salienta que os animais mestiços são importantes, por contribuírem para diminuição da infestação de carrapatos, pois os bovinos de raças zebuínas e mestiças são mais resistentes ao parasitismo. “Até mesmo os animais da raça Jersey e, principalmente, os da raça Nelore, são controladores biológicos do carrapato, pois além do menor número de fêmeas ingurgitadas caídas nas pastagens, ainda são de menor tamanho e põem menos ovos, de onde eclodirão menos larvas, sendo um fator decisivo para a diminuição da infestação das pastagens”, afirma.
“O carrapato depende apenas de um hospedeiro em seu ciclo de vida, preferencialmente os bovinos”, diz Cecília, ao explicar que o ciclo de vida do carrapato apresenta duas fases complementares: a de vida livre com a queda da fêmea ingurgitada nas pastagens até a eclosão das larvas e a de vida parasitária, que se inicia quando a larva se fixa no hospedeiro, com duração média de 21 dias. “A fase de vida livre depende muito da temperatura ambiente e da umidade relativa do ar, por isso, o conhecimento da biologia do carrapato, por parte do produtor rural, é um passo importante para o melhor controle do parasita”, explica.
Investigações já realizadas no país mostraram que a maioria dos produtores não conhece ou conhece parcialmente o ciclo biológico do carrapato. A consequência é a aplicação do em carrapaticida de forma incorreta, com equipamentos inadequados e com muita frequência.
“As consequências mais danosas do uso incorreto de carrapaticidas estão no rápido desenvolvimento da resistência aos acaricidas e o acúmulo de resíduos químicos nos animais e no ambiente”, destaca Cecília.
 Em 87,5% das propriedades visitadas não se utilizavam nenhuma alternativa de controle do carrapato, dependendo exclusivamente das drogas.
Existem alternativas ao uso dos carrapaticidas. O levantamento feito com os produtores da região Noroeste do Estado de São Paulo revelou que alguns produtores faziam uso de produtos homeopáticos. Estudos têm revelado que esta terapêutica pode contribuir para o controle do carrapato.
Outro fato importante no levantamento foi a observação por 92,5% dos entrevistados sobre a presença de inimigos naturais do carrapato, como a “Garça vaqueira”, galinhas e outras aves, que colaboram com o controle, ingerindo as fêmeas ingurgitadas ainda sobre os animais ou no solo.
Para a pesquisadora, o uso de tecnologias adequadas, o acompanhamento zootécnico do rebanho bovino, o planejamento financeiro e produtivo e a melhor aplicação dos recursos disponíveis, podem tornar a atividade leiteira mais rentável aos produtores rurais. “O IZ tem trabalhado na difusão de tecnologias, colaborando com os produtores, por meio de cursos e treinamentos com visita ao campo”, detalha.
A pesquisa revelou que 32% dos entrevistados buscam novas informações participando de cursos e palestras, enquanto 19% procuram informação com outros produtores, 12% buscam na internet, outros 12% por meio de livros e revistas e 11% em feiras e exposições. Cecília enfatiza que o trabalho dos técnicos na transferência do conhecimento sobre o controle do carrapato, ainda é a melhor ferramenta para diminuir as infestações e resistências dos parasitas.
O secretário da Agricultura e Abastecimento, Arnaldo Jardim, destaca a relevância da cadeia produtiva do leite para a economia brasileira, pois além de gerar empregos, tem importante papel social ao manter os pequenos e médios produtores de leite na zona rural, com qualidade de vida. “Os trabalhos de pesquisa e assistência técnica aos produtores é de suma importância para a sustentabilidade da cadeia produtiva, considerando o bem-estar animal, segurança ao produtor e, principalmente, ao consumidor final, pontos muito preconizados pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin para o agronegócio do setor”, enfatiza.
Perdas econômicas
O custo de produção de leite pode ser elevado decorrente do manejo sanitário, com destaque para o controle do carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus. Este é um dos parasitas mais nocivos a bovinos suscetíveis – de origem europeia e seus mestiços –, principalmente os da raça Holandesa, uma das mais suscetíveis do mundo a este carrapato.
O ectoparasita causa grandes prejuízos no desempenho produtivo e econômico dos sistemas de produção, decorrente de reduções no ganho de peso e na produção leiteira, diminuição na fertilidade, ocorrência de doenças, transmissão de patógenos, danos ao couro, estresse animal e perdas por morte.
A perda econômica causada por tal parasitose pode ultrapassar os U$ 3 bilhões ao ano no Brasil, segundo estimativas. Os gastos com antiparasitários no País são altíssimos, sem, no entanto, resultar em controle satisfatório. Essa situação pode ficar ainda pior com o aumento dos rebanhos de produtores de leite, já que a situação epidemiológica e o controle do carrapato pouco se modificaram ao longo dos anos.
No levantamento feito na região Noroeste do Estado de São Paulo, os produtores associaram ao carrapato os prejuízos decorrentes de doenças como Tristeza Parasitária Bovina (TBP), bicheira, perda de peso, queda na produção leiteira e mortalidade.
O carrapato Rhipicephalus microplus também é o principal transmissor dos agentes da TPB, Anaplasma e Babesia, e o aumento da infestação está relacionado à maior ocorrência de doença. Igualmente, o aumento da infestação por carrapatos está relacionado ao aumento de miíases pela mosca Cochliomyia hominivorax (mosca da bicheira) em bovinos.
Exames e tratamentos
O fato de o produto não ser eficaz é uma reclamação constante observada no campo. Por isso, a importância de se divulgar o exame biocarrapaticidograma. Este exame é realizado gratuitamente, ou a preços acessíveis por alguns órgãos de pesquisa e ensino no Brasil. O resultado do exame indica quais os melhores carrapaticidas a serem usados na propriedade.
No controle do carrapato, Cecília diz que, além de saber qual a melhor base de carrapaticida, é muito importante a forma da aplicação do produto. “Para quem utiliza bomba costal, é relevante observar a diluição da calda correta, de acordo com a informação do fabricante e calcular a quantidade de calda a ser dada a cada animal.”
O ideal é, no mínimo, três litros de calda por animal, banhando os animais, preferencialmente contidos, para que o jato possa ser dirigido para as regiões onde os carrapatos se concentram – períneo, base da cauda, vulva, virilha, barriga, barbela, pescoço, e dentro e fora das orelhas. O produtor deve pulverizar seguindo na direção de baixo para cima, a fim de conseguir ultrapassar a barreira dos pelos.
Alguns pesquisadores ressaltam a importância do tratamento sincronizado de todos os animais de uma propriedade, para uma estratégia de controle em intervalos pré-determinados, o controle estratégico.
Um exemplo é fazer seis banhos seguidos, com intervalos a cada 21 dias na entrada da primavera. Entretanto, recentemente, devido aos problemas com a resistência genética dos carrapatos aos carrapaticidas, está se estudando o controle seletivo ou tático.
“Tem sido estudado e utilizado com muito sucesso a aplicação do carrapaticida somente nos animais mais infestados, tanto em bovinos de corte, como em gado mestiço leiteiro”, destaca Cecília.
Potencial econômico
A bovinocultura leiteira é de extrema importância econômica e social no Noroeste Paulista, de acordo com o Levantamento Censitário das Unidades de Produção Agropecuária do Estado de São Paulo (LUPA).
Com um rebanho bovino de, aproximadamente, 1,240 milhões de cabeças, representando 23% no Estado de São Paulo, a região é caracterizada por uma bovinocultura mista, de pequenas propriedades rurais onde predomina a mão de obra familiar, solos de baixa fertilidade e monocultura da cana-de-açúcar.
Porém, devido à crescente demanda mundial do produto, o setor tem passado por modificações para atender as novas exigências em qualidade do leite e derivados, segurança, preço justo e produção sustentável.
O trabalho realizado pelo IZ demonstrou que as tecnologias aplicadas no Projeto CATI Leite que envolve o pastejo intensivo, rotacionado, adubado com ureia à saída dos animais do piquete, uso de escrituração zootécnica na propriedade e inseminação artificial, podem colaborar no controle do carrapato, se o produtor seguir algumas orientações, como a utilização de um gado mais resistente ao carrapato – gado mestiço e Jersey – e um carrapaticida eficaz de forma correta.
Por Lisley Silvério (MTb. 26.194)
Assessora de Imprensa – IZ
Secretaria de Agricultura e Abastecimento SP
(19) 3476.9841 | 99105.2453

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