Data da postagem: 05 Janeiro 2006
A ranicultura brasileira, a mais desenvolvida tecnicamente do mundo, está baseada na criação da rã-touro, Rana catesbeiana (Shaw, 1802), originária da América do Norte e que se adaptou perfeitamente nas nossos condições climáticas. Por ser mais precoce, com alta taxa de reprodução e pelo seu tamanho, ocupou, com inúmeras vantagens, o lugar das rãs nativas como produto zootécnico.
A rã-touro pode ser considerada um animal resistente, pois sobrevive muito bem nas condições, estressantes que são observadas nas criações confinadas, desde que sejam aplicadas as boas práticas de criação animal. Mas erros graves nos manejos zootécnicos, alimentar e sanitário podem levar a situações de perdas de animais.
Estas situações são inúmeras, vistas como responsáveis por falhas na sanidade da criação. A sanidade esta baseada na limpeza; na qualidade nutricional; na criação da ração viva; no ambiente físico; nos funcionários; no manejo físico; nos produtos desinfetantes; no clima e temperatura e na qualidade da água. O uso de antimicrobianos/remédios quando da existência de uma doença/mortalidade, não é nada fácil quando se trabalha com uma população de milhares de animais. O tratamento de uma doença acarreta aumentos de custos, mudança de rotina, perda de ração e atrasos no desenvolvimento, por isto não é prático e nem recomendado.
Para isso, o melhor remédio é a prevenção, baseada nas boas práticas de criação animal.
Os problemas encontrados na ranicultura possuem diversas causas, convertendo para o ponto comum que é a criação intensiva. A não observância de medidas básicas de sanidade é uma das principais causas de perdas de animais, pois favorece a contaminação de alimentos, das instalações e da água, além de deficiências nutricionais, água de má qualidade e alimentos de origem duvidosa que podem trazer doenças às rãs. Traumatismos causam lesões de pele proporcionando a entrada de microorganismos, levando à morte. Fatores estressantes, representados pelas reações orgânicas negativas ao animal, tais como temperaturas extremas, má qualidade alimentar, medo, fome, barulho, aglomerações, disputas pelo espaço, abrigo e alimento, podem causar desequilíbrio da resistência animal, levando à instalação de processos mórbidos e à mortalidade.
Ocorrem doenças/mortalidade causadas por agentes bacterianos e por fungos; pelas falhas do manejo alimentar, que causam canibalismo, obstrução intestinal, intoxicação, enterotoxemias, aflatoxicoses, deficiência protéica, edema generalizado, presença de gases nos intestinos, avitaminoses, manchas na pele e o não crescimento adequado. Além das causadas pela má qualidade da água e do ambiente e por temperaturas fora do limite de bem estar do animal e por consangüinidade.
Outras doenças/mortalidade ocorrem por traumatismos, lesões de pele; envenenamento por desinfetante; má-formação de membros; edema localizado; míiase bucal; parasitismo por vermes, protozoários e microcrustáceos. A presença viral em rãs é objeto de estudo, sendo observada a presença de vírus dos grupos herpes, paramixo, toga, irido e retro.
Hoje, o principal fator de perda da produtividade está ligado ao aspecto nutricional, envolvendo a ração para a rã-touro, existindo controvérsias sobre as inúmeras formulações próprias ou adaptadas de outras espécies, como as fornecidas para peixes. Um dos entraves está na qualidade e origem de seus componentes, quanto na quantidade de aminoácidos presentes, principalmente os que seriam de maior valor biológico para a rã. A má qualidade do alimento ou um mal manejo nutricional levam a alterações bioquímicas no metabolismo hepático e a graves lesões do fígado, comprometendo de modo marcante o desenvolvimento do animal e até causando sua morte.
Outras situações são observadas quando do abate, que não causam a morte dos animais, como nódulos, petéquias, manchas escuras na musculatura, traumatismos e avulsão de plexo nervoso cervical, mas comprometem a qualidade da carcaça e impedem sua comercialização.
Através de contatos com os criadores e dos exames realizados pelos laboratórios especializados do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Animal pode-se chegar a um diagnóstico do quadro mórbido ou de mortalidade, procurando estabelecer as diretrizes de um programa sanitário para proporcionar uma criação sadia, competitiva e lucrativa.
Marcio Hipolito
Médico Veterinário, Pesquisador Científico, Doutor
Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Sanidade Animal
Instituto Biológico
hipolito@biologico.sp.gov.br
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