Em virtude das alterações climáticas globais, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, em parceria com a universidade estadunidense Texas Tech University, desenvolve estudo para avaliar a saúde reprodutiva dos peixes e melhorar o entendimento da diferenciação sexual e gametogênese.
O convênio, firmado pela Pasta, por meio da Unidade de Pesquisa de Campos do Jordão, da Agência Paulista de Tecnologias dos Agronegócios (APTA Regional), com a instituição americana foi realizado por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). A parceria visa otimizar as tecnologias aplicadas atualmente na reprodução em duas espécies de peixe: no zebrafish, ou paulistinha, que é uma espécie de pequeno porte e com um ciclo de vida curto, e na truta arco-íris, espécie de grande porte e com um ciclo de vida mais longo.
De acordo com o pesquisador da FAPESP, que realiza seus trabalhos na unidade da APTA, em Campos do Jordão, Ricardo Shohei Hattori, o aumento da temperatura causado pelo aquecimento global também é um problema para a reprodução dos peixes. Associado ao fotoperíodo, a temperatura é um dos principais fatores que controlam a maturação dos gametas (ovócitos e espermatozoides) e, por isso, é capaz de impactar a saúde reprodutiva dos reprodutores. “O aquecimento global pode causar sérias alterações no ciclo reprodutivo, como adiantamento ou retardamento da produção de gametas. Também pode causar diminuição drástica na capacidade de produção de gametas e em casos extremos, a esterilidade”, diz.
A pesquisa vai analisar como estressores ambientais químicos e físicos podem causar algum tipo de repercussão na reprodução de peixes. “Estamos buscando entender como o aumento da temperatura pode impactar na diferenciação sexual e na produção de gametas”, afirma Hattori, que faz parte do Programa Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes, da FAPESP, e realiza pesquisas na APTA de Campos do Jordão desde 2014.
Estressores ambientais físicos são parâmetros relacionados ao ambiente natural, como temperatura, luminosidade ou ruído. Já os químicos correspondem às substâncias químicas liberadas no ambiente, como rejeitos domésticos, agrotóxicos ou aqueles oriundos da atividade industrial. “Os estressores que serão tratados como compostos capazes de causar alguma disfunção endócrina, ou seja, alteração no funcionamento ou síntese de hormônios”, explica o pesquisador.
Estudos recentes sugerem que a ação dos estressores sobre o eixo reprodutivo seja mediada por perturbações nos hormônios da tireoide. Não estão bem esclarecidas, porém, as interações entre os hormônios tireoidianos e o eixo hipotálamo-hipófise-gônada (HHG). “O eixo HHG é uma cascata da qual fazem parte o hipotálamo, a hipófise e as gônadas, sendo que a hipófise é capaz de regular o ciclo de maturação das gônadas, órgão onde são produzidos os gametas”, explicou o pesquisador.
Outros dois hormônios que influem sobre a reprodução dos peixes são o cortisol, também conhecido como hormônio do estresse, e a melatonina, de grande importância na regulação do ciclo reprodutivo.
As tecnologias desenvolvidas pela APTA de produção estão em todas as regiões produtoras onde há truticultura no Brasil, como São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Por ano, a Agência produz cerca de dois milhões de ovos e alevinos de truta disponibilizados a cerca de 80 truticultores, contribuindo para melhorar a produtividade e a qualidade da truta comercializada.
“As instituições de pesquisa ligadas à APTA têm soluções para os diversos produtos do agronegócio paulista. A truticultura é uma atividade importante. Nossos trabalhos buscam agregar renda aos produtores paulista e transferir tecnologia de ponta para melhorar a produção, uma determinação do governador Geraldo Alckmin”, afirma Arnaldo Jardim, secretário de Agricultura e Abastecimento.
A parceria
A parceria surgiu por meio da universidade japonesa Tokyo University of Marine Science and Technology, a qual Hattori atuou como o pesquisador, ao lado de Reynaldo Patiño, da Texas Tech University e parceiro do estudo. “Temos desenvolvido trabalhos em comum com os professores da Tokyo University of Marine Science and Technology, Carlos Augusto Strüssmann, Goro Yoshizaki e Yoji Yamamoto”, diz Hattori.
O pesquisador, que atua na APTA, irá realizar um total de quatro visitas técnicas para a Texas Tech University, sendo duas por ano. O professor da universidade dos Texas, também fará intercâmbio na unidade da APTA em Campos do Jordão, com o mesmo propósito, realizando um total de quatro visitas técnicas, duas por ano. Além da supervisão de projetos em colaboração, serão realizados reuniões e seminários científicos com integrantes de ambos os grupos.
Esta é a segunda parceria internacional firmada entre a unidade da APTA, em Campos do Jordão com universidades do exterior. Em 2015, a Agência firmou convênio de dois anos com a Universidad Nacional de General San Martin (UNSAM), na Argentina para estudar as células germinativas da truta arco-íris, peixe rei e medaka, este último muito usado como modelo experimental.
Por Giulia Losnak (estagiária) e Fernanda Domiciano
Mais informações
Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo
Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios
(19) 2137-8933