A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio do Instituto de Pesca, desenvolve o projeto "Estratégias alimentares para a produção da garoupa-verdadeira (Epinephelus marginatus) em sistema de recirculação de água salgada". O trabalho é realizado pelo pesquisador Eduardo Gomes Sanches, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), com a participação do pesquisador Paulo Cesar Falanghe Carneiro, da Embrapa Tabuleiros Costeiros, de Aracaju (SE) e estudantes de mestrado e doutorado orientados pelo pesquisador do IP-APTA, Sanches.
De acordo o pesquisador do Instituto, a pesquisa é relevante por ser a piscicultura marinha ainda bastante incipiente no Brasil, apesar da intensificação dos estudos nessa área na última década, e também do fato de a garoupa-verdadeira ser uma espécie de peixe marinho com grande aceitação comercial, por tratar-se de iguaria na gastronomia de frutos do mar.
Sanches explica que a tecnologia de produção dessa espécie em cativeiro, bastante complexa, vem sendo desenvolvida no Brasil pelo Instituto de Pesca desde 2005. Já foi possível obter a produção de formas jovens em cativeiro, passo que desata um dos nós para a implantação de cultivos comerciais. O conhecimento sobre o manejo da espécie em cultivos de engorda ainda precisa ser aprimorado.
Trabalhos sobre práticas de manejo alimentar com a garoupa-verdadeira são raros, tornando ainda incerto o sucesso da engorda da espécie em cativeiro, o que inibe o investimento na atividade. Considerando que a alimentação corresponde a mais de 60% do custo de produção de peixes marinhos, estudos nessa área são essenciais para viabilizar o segmento da maricultura na cadeia produtiva pesqueira.
Nos sistemas de recirculação de água salgada, é quase nula a exportação de efluente, há maior controle sanitário, manutenção dos parâmetros ambientais ideias da espécie e possibilidade do empreendimento de cultivo ser implantado em áreas distantes da zona litorânea. “Isso torna possível a interiorização da produção de peixes marinhos no Brasil, uma vez que o mar é zona de conflitos de interesses e as terras no litoral são caras”, afirma o pesquisador do Instituto de Pesca.
O pesquisador afirma que nos estudos em que busca o desenvolvimento de uma ração mais adequada para a nutrição da garoupa-verdadeira, esbarrou-se na ausência de informações de como fornecer adequadamente essa ração (o que se denomina de manejo alimentar) e de como esse manejo afeta a performance zootécnica do peixe. “É preciso encontrar o melhor ajuste entre as condições de cativeiro e o comportamento alimentar da espécie na natureza”, explica.
A prática usual dos criadores é fornecer ração uma ou, no máximo, duas vezes ao dia. No estudo em desenvolvimento, testa-se fornecer o alimento em até 24 vezes ao dia, utilizando alimentadores automáticos, uma nova tendência na aquicultura. Os resultados, ainda que parciais, demonstram melhora significativa no crescimento dos exemplares de garoupa-verdadeira quando se aumenta o número diário de vezes em que se oferece a ração, mas em quantidades menores por vez. “Esta prática favorece a fisiologia digestiva acarretando melhor conversão alimentar (ganho de peso) e, paralelamente, gera menos problemas na manutenção da qualidade da água. Já temos um bom retorno inicial no ajuste do manejo alimentar da espécie, fator que afeta a viabilidade econômica dos empreendimentos e implica maior ou menor impacto ambiental das pisciculturas”, diz Eduardo Sanches.
Paralelamente, o especialista avalia que o sistema de recirculação de água salgada instalado no Laboratório de Piscicultura Marinha do Instituto de Pesca, em Ubatuba, com praticamente zero de troca de água, tem propiciado um cultivo de baixo impacto e sem ocorrência de doenças, garantindo parte da sustentabilidade do cultivo de garoupa-verdadeira. “É nossa intenção disponibilizar brevemente tal sistema de produção, possibilitando a criação de peixes marinhos distante do litoral, ou seja, abrindo para o segmento produtivo mais uma alternativa de negócios”, finaliza o especialista da Secretaria de Agricultura e Abastecimento paulista.
Por: Antonio Carlos Simões
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Instituto de Pesca