A Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) realizará o Curso de Inseminação Artificial em Búfalas, de 24 a 28 de março de 2015, na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento da APTA, em Registro, interior paulista. O objetivo do curso é fornecer informações básicas da técnica de inseminação artificial em bubalinos, orientando e treinando os produtores rurais, para tornarem-se aptos no emprego da tecnologia. Segundo o pesquisador da APTA, Nelcio Antonio Tonizza de Carvalho, a utilização continuada da inseminação artificial é imprescindível para as pequenas e médias propriedades de criação de bubalinos, pois possibilita ganhos diretos e indiretos, melhorando as condições socioeconômicas dos criadores. A APTA é ligada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
“O curso contribui para a difusão tecnológica da inseminação artificial e para o treinamento dos criadores, funcionários e técnicos envolvidos com a atividade. Esperamos, com isso, promover a utilização dessa tecnologia para os produtores do Vale do Ribeira, maior região produtora de búfalos do Estado”, afirma o pesquisador da APTA. Apesar de vantajosa e bastante difundida entre os criadores, a técnica é ainda pouco utilizada pelos produtores brasileiros. Aproximadamente, 0,5% do rebanho de búfalas é inseminado no Brasil, enquanto na Índia, por exemplo, esse índice é de 60%.
A inseminação artificial consiste na deposição de material genético masculino no sistema reprodutivo feminino. O objetivo da técnica é promover o melhoramento genético do rebanho, tanto na produção de carne quanto na produção de leite. Carvalho explica que os resultados dependem muito do doador de sêmen. “Se o touro utilizado tiver potencial de transmitir mais de 300 litros de leite na lactação, sua filha produzirá, na média, mais 300 litros do que sua mãe produziu. Isso é chamado de diferença esperada na progênie (DEP)”, explica o pesquisador da APTA. O mesmo ocorre na produção da carne, que depende do potencial do touro em produzir bezerros mais pesados no nascimento ou na desmama.
Segundo Carvalho, a inseminação é imprescindível para o melhoramento genético dos bubalinos, trazendo benefícios diretos e indiretos para os criadores. Diretamente, os ganhos estão na característica genética passada para a progênie. “Os maiores ganhos, no entanto, não são obtidos de maneira direta. Esta técnica requer estruturação da propriedade, com melhorias no ambiente, nutrição e sanidade do rebanho, além da melhora na organização e registros de dados importantes do animal, o que os beneficia para expressarem seu potencial genético. Por isso, dizemos que traz benefícios, principalmente, para os pequenos e médios criadores”, afirma.
O custo da inseminação artificial, cerca de R$ 80,00 por prenhez, é considerado baixo. “Geralmente, fazemos o seguinte cálculo: para a técnica ser economicamente viável, a inseminação deve custar menos do que uma arroba do animal. Como o valor da arroba do búfalo, hoje, está ao redor de R$ 120, o custo para o emprego da tecnologia é bastante atraente”, explica Carvalho. O retorno do investimento começa já com o nascimento do bezerro.
O processo de inseminação artificial em búfalas é bastante parecido com o de bovinos, diferindo em apenas algumas peculiaridades. Nas búfalas, o sistema genital é um pouco menor e mais musculoso, do que nas vacas. O protocolo de sincronização da ovulação também tem pequenas diferenças nos horários de aplicação dos fármacos e no momento da inseminação.
A inseminação artificial é considerada uma técnica de fácil execução, sendo necessária apenas, dependendo da situação, de duas pessoas no trabalho. A principal dificuldade recai sobre a observação do cio para a realização do processo. Em búfalas, essa observação é mais difícil do que nos bovinos, principalmente por conta das fêmeas terem baixíssimo comportamento homossexual, ou seja, poucas búfalas tem o hábito de montarem sobre as outras. Segundo Carvalho, a aceitação da monta indica que o animal está no cio e é comum no caso das vacas. “Por conta dessa dificuldade, foram realizados inúmeros estudos para o desenvolvimento de protocolos de inseminação artificial em tempo fixo (IATF). Hoje, os protocolos já estão estabelecidos e, dessa forma, não existe mais nenhuma dificuldade para o emprego da técnica nas propriedades”, afirma Carvalho.
Curso de inseminação em búfalas
O curso de inseminação em búfalas, realizado pela Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento da APTA de Registro, está em sua 25ª edição. Um dia antes do início do curso, que este ano será em 24 de março, é realizado o Seminário de Produção e Reprodução Animal. O objetivo é orientar os pecuaristas sobre as melhores opções de manejo reprodutivo e nutricional, divulgar pesquisas na área e reunir pesquisadores para troca de informações com produtores, técnicos e estudantes.
Os eventos serão realizados pela APTA, em parceria com a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI – EDR de Registro), a Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP) e o Serviço de Aprendizagem Rural (SENAR), por intermédio do Sindicato Rural do Vale do Ribeira.
APTA possui uma das poucas unidades de pesquisa brasileira exclusiva para estudos com bubalinos
A APTA é uma das poucas instituições de pesquisa brasileira que mantém uma Unidade exclusiva para realizar estudos com bubalinos, desde 1986. A Unidade de pesquisa está localizada em Registro, interior paulista. A Agência participa de projeto de pesquisa inovador na transferência de embriões produzidos in vitro. Por meio da técnica, é possível reduzir em mais de 50% o tempo que seria necessário para o melhoramento genético do rebanho bubalino. O trabalho é realizado em parceria com o Departamento de Reprodução Animal da FMVZ/USP, a empresa In Vitro Brasil S. A e o Sítio Paineiras do Ingaí.
A pesquisa paulista também contribuiu para o desenvolvimento de protocolos de sincronização da ovulação, que possibilitam a inseminação artificial das búfalas durante o ano todo. Há 15 anos, as búfalas se reproduziam apenas na estação reprodutiva considerada favorável à espécie, no outono e inverno, período em que as fêmeas bubalinas produzem o hormônio melatonina, responsável pela produção e liberação de outros hormônios envolvidos com a reprodução. Por esse motivo, os animais concentravam a produção de leite em determinado período do ano, o que é ruim para todo o setor produtivo. Com o trabalho da APTA, hoje existe a possibilidade de tornar mais linear a produção de leite, pois, por meio da administração de fármacos, seguida da IATF, as búfalas podem parir e entrar em lactação durante todos os meses do ano.