A cadeia da tilápia se organiza
Data da postagem: 11 Agosto 2008
Por Antônio Carlos Simões
Como se previu no início de 2007, o ano não foi fácil para quem produz tilápias. A taxa cambial não favoreceu a exportação e o custo de produção cresceu muito com a alta dos grãos, sobretudo soja e milho, ingredientes da ração. Além disso, o Brasil abriu portas para a importação de filés de tilápia da China. Quem fala sobre isto é o pesquisador Fábio Rosa Sussel (sussel@apta.sp.gov.br), do Pólo APTA Médio Paranapanema, em de Assis (SP), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
O ano apresentou muitos contratempos para a atividade, que, no entanto, melhorou a organização da cadeia produtiva, pois os lucros dependem dessa estruturação e da definição do foco da atividade de cada segmento, explica Sussel.
Segundo o pesquisador, merece destaque o avanço da tilapicultura na região Nordeste brasileira, a ponto de ter despertado o interesse das indústrias de rações, que ora se organizam para atender melhor a esse mercado. Naquela região, o clima quente e constante favorece a produção de peixes, mas o custo é elevado pela falta de logística no fornecimento de rações. Agora, porém, não será surpresa se o Nordeste vier a se destacar no mercado. O potencial, talvez até maior, da região Norte também poderá surpreender, se resolvida a mesma limitação: a falta de logística no fornecimento de rações.
Sussel explica que não houve retração na demanda mundial por tilápia. Esta se mantém em crescimento, mas a exportação brasileira de filé para os Estados Unidos continua inviável, em razão da desvalorização do dólar. Como não há perspectiva de mudança na taxa de câmbio para 2008, pode-se descartar a possibilidade de exportação para aquele país, o maior mercado comprador.
A China ocupa uma fatia de 85% do mercado americano de filé de tilápia congelado. Parte dos 15% restantes é suprida por outros países asiáticos, como Filipinas, Formosa (Taiwan) e Tailândia, também com filé congelado. A última parte consiste em filé fresco, proveniente da Costa Rica, Equador e Honduras. A participação do Brasil já foi maior, mas atualmente é insignificante.
A produção brasileira concorre no mercado internacional de filé fresco. Ainda que pareça pouco em termos percentuais, é um volume considerável frente ao volume produzido no País, muito inferior ao da China. Nesse mercado, o maior fornecedor é o Equador. Lá o cultivo é feito em antigas propriedades que produziam camarões.
A produção equatoriana do crustáceo foi praticamente dizimada por doenças, mas vem se recuperando graças ao cultivo simultâneo com a tilápia. O custo de produção do peixe é relativamente baixo, pois os produtores estão focados no camarão. Por isso, a exportação de tilápia pelo Equador é economicamente viável.
Perspectivas
O ano de 2008 começa com um desafio para a tilapicultura brasileira: driblar o alto custo dos ingredientes das rações. Mas os elos da cadeia de produção estão mais fortalecidos. Além do mais, há a possibilidade de uma supersafra americana de grãos e isto pode ocasionar uma queda no preço das matérias-primas a partir do início do segundo semestre, quando comumente se anuncia a safra.
As expectativas e os desafios permitem vislumbrar um cenário otimista para a atividade. Os elos da cadeia produtiva já estão suficientemente fortalecidos para que se inicie um promissor crescimento da tilapicultura, revela Fábio Sussel. Já está na hora de deixarmos de ser o eterno País do Potencial Aqüícola, assinala o pesquisador. Não se trata de excesso de otimismo, mas sim de visão clara da realidade. As peças estão no tabuleiro; cabe aos jogadores todos os envolvidos com a atividade explorar as melhores estratégias para que se vença o jogo de conquistar e manter mercados, complementa.
A íntegra do estudo está disponível no site do Instituto de Pesca (www.pesca.sp.gov.br), item Textos Técnicos (Tilápia).
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