Em 13 de julho, a Vigilância Sanitária de São Paulo interditou cautelarmente o comércio e consumo de moluscos bivalves, como ostras, mexilhões, mariscos e berbigões produzidos no Estado e provenientes dos Estados de Santa Catarina e Paraná. A medida foi adotada após a confirmação de um evento inédito na costa paulista, popularmente conhecido como Maré Vermelha, que compromete a qualidade desses animais para o consumo humano. Devido ao fato, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA) mobilizou pesquisadores e técnicos do Instituto de Pesca (IP), da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) e da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA) para monitorar a situação no litoral paulista.
A Maré Vermelha, de acordo com o pesquisador Hélcio Luís de Almeida Marques, ligado à APTA, é ocasionada pela alta concentração de micro-organismos protistas dinoflagelados do gênero Dinophysis na água do mar. Esse organismo produz uma toxina conhecida por DSP (Diarrhetic Shellfish Poisoning) que é liberada no ambiente e contamina os moluscos bivalves, causando intoxicação diarreica nas pessoas que os consomem.
“Esses organismos ocorrem naturalmente na água do mar em baixas concentrações. Porém, devido a eventos climáticos extremos, podem apresentar explosões populacionais e assim contaminar os moluscos, sejam eles extraídos ou de cultivo. Neste caso que presenciamos agora, os dinoflagelados parecem estar associados a correntes marítimas provenientes do Sul, que trouxeram água fria e nutrientes acima do normal, em decorrência do grande volume de água aportado pelo Rio da Prata devido à cessação do fenômeno El Niño”, explica o pesquisador.
A contaminação dos moluscos bivalves pela toxina DSP ocorre porque esses animais são filtradores da água do mar. Quando há uma grande concentração de Dinophysis no ambiente, há um maior teor de toxinas na água filtrada pelos moluscos, que as retêm, ficando impróprios para o consumo. Porém, isso não quer dizer que toda a produção está perdida. Se mantidos dentro da água, à medida que houver a dissipação dos dinoflagelados e, consequentemente, a redução da toxina liberada por eles no ambiente, os moluscos poderão ser consumidos normalmente, pois depuram a toxina em um curto espaço de tempo.
“O procedimento que nós indicamos nesses casos é realizar semanalmente análises da água dos pontos de maior concentração de mexilhões do Estado e verificar a concentração de dinoflagelados por litro de água. A partir do momento em que essa concentração chegar ao nível normal, é necessário realizar também, semanalmente, análises na carne dos mexilhões cultivados para ver se as concentrações das toxinas típicas de Dinophysis (ácido ocadaico e yessotoxinas) caíram abaixo do que preconiza a Instrução Normativa Interministerial nº7, de 08 de maio de 2012, que institui o Programa Nacional de Controle Higiênico-Sanitário de Moluscos Bivalves (PNCMB) no Brasil.”, conta Hélcio.
E é exatamente isso que o corpo técnico da SAA tem feito. Desde o dia 13 de julho estão sendo realizadas coletas de água e de mexilhão Perna perna para análise no Laboratório Oficial de Análise de Resíduos e Contaminantes em Recursos Pesqueiros (LAQUA), do Instituto Federal de Santa Catarina, localizado em Itajaí (SC), com o objetivo de monitorar a situação. O local é o único certificado no país para esse tipo de análise.
O Diretor Técnico de Departamento do IP, Luiz Marques da Silva Ayroza, explica que a ideia é formar um grupo de trabalho intersecretarias para lidar com a situação inédita na costa paulista. “Nós já estamos em contato com representantes das Secretarias de Meio Ambiente e Saúde do Estado para unirmos forças. Este caso da Maré Vermelha envolve questões de produção e cultivo, que é nossa área aqui na Secretaria de Agricultura e Abastecimento, mas também tem desdobramentos ambientais e de saúde pública. Por isso, é muito importante que haja essa integração”, pondera Ayroza.
Para o Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim, “o conhecimento do corpo técnico da Pasta é fundamental para garantir a qualidade dos alimentos comercializados para a população, como preconiza o Governador Geraldo Alckmin”.
Por Leonardo Chagas
Revisão Márcia Cipolli
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