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IAC divulga dados do segundo censo nacional de variedades de cana-de-açúcar

O Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, divulgou os dados do segundo censo nacional de variedades de cana-de-açúcar realizado pelo IAC e que constitui o maior levantamento sobre uso de variedades desta cultura no Brasil. Os dados mostram uma redução na concentração varietal — de 77,0% para 75,1% —, indicando que as empresas passaram a se preocupar com esse aspecto. Esse resultado é positivo para o setor sucroenergético brasileiro, por proporcionar maior segurança biológica frente ao surgimento de novas pragas e doenças. Porém, ainda é grande a concentração da variedade RB867515, o que pode colocar em risco a canavicultura de alguns estados, como Paraná e Espírito Santo. As variedades IAC representam 3,5% em todo o censo e 6,0% das intenções de plantio para a próxima safra. O IAC fez também o levantamento dessas intenções para cerca de 700 mil hectares, dentro de, aproximadamente, um milhão de hectares que serão plantados em 2018/2019.
Seis milhões de hectares foram recenseados nos Estados de São Paulo, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Paraná, com informações de 216 unidades produtoras. O censo foi realizado pelo IAC de abril a novembro deste ano, para a região Centro-Sul. Em dezembro, tem início a coleta de dados na região Norte-Nordeste.
O objetivo do censo varietal IAC é levantar informações envolvendo as áreas de variedades, por estágio de corte, em todas as unidades produtoras de cana-de-açúcar, incluindo usinas, destilarias e associações de fornecedores do Brasil. Segundo o pesquisador e líder do Programa Cana IAC, Marcos Guimarães de Andrade Landell, a criação de indicadores resultantes do censo objetiva apurar se alguma região apresenta concentração de variedades tão grande que possa oferecer riscos, caso ocorra algum problema de doença ou praga com determinada variedade que represente grande parte do canavial. “Vale destacar que o índice de atualização varietal, ou seja, o uso de variedades modernas representa maior produtividade”, resume”, resume o pesquisador do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
O censo também mostrou que as variedades IAC permanecem em crescimento em todas as regiões produtoras de cana-de-açúcar, com maior representatividade em Goiás e na região de Ribeirão Preto, no interior paulista. Em Goiás, em 587.037 hectares, a IAC91-1099 representa 4,4% das variedades plantadas, a IACSP95-5000, 2,6% e a IAC87-3396, 1,8%. Em Ribeirão Preto, destacam-se a IACSP95-5000, com 4,5% e a IAC91-1099 com 1,1%. Na última safra, a IACSP95-5094 apresentou crescimento de 119%, a IAC91-1099, em 43% e a IACSP95-5000 ampliou sua área em 20%.
De acordo com Landell, a IAC91-1099 que apresenta ganho de produtividade relativo no segundo corte, tem crescido em várias regiões, como Goiás, Minas, Mato Grosso, Araçatuba e Assis. “Ela tem grande performance e já e conhecida em Goiás, na usina Jalles Machado, onde dez mil hectares são plantados com a IAC91-1099”, diz. O pesquisador ressalta que esta variedade facilita o plantio e a colheita, viabilizando o que ele chama de terceiro eixo, uma estratégia de colheita que visa mitigar os déficits hídricos que ocorrem nos ciclos iniciais.
O censo mostrou, assim como em 2016, uma grande concentração de plantio com a variedade RB867515, que representa 43% dos canaviais e soma 42,8% das intenções de plantio. No passado, com manejo manual, esta variedade trouxe importante contribuição para a produtividade, mas atualmente, com plantio e colheita mecânica, ela perdeu desempenho relativo e representa riscos pela sua grande concentração na região.
Riscos da concentração varietal
“No início da década de 90, o amarelinho derrubou a produtividade onde havia concentração varietal”, lembra Landell, ao chamar a atenção para o risco de o produtor plantar uma mesma variedade.
Não é só no Paraná que a concentração da RB867515 vem trazendo risco fitossanitário. Há também regiões onde há cerca de 50% do canavial com este único material. Este é o caso do Espírito Santo, que mantém 59% da área de 47.736 hectares com a RB867515 e a intenção de plantio mostra que esse número será aumentado. Mato Grosso tem 56% desta variedade em 146.302 hectares. “São Paulo tem a menor proporção de RB867515, com 21%, isso significa que o Estado é mais eficiente na modernização de variedades”, diz o estatístico e consultor do Programa Cana IAC, Rubens Braga Junior. Goiás mantém 29% da RB867515.
O censo mostra, segundo o consultor, que o Brasil não está usando novas variedades na proporção devida. “A região de Assis usa variedade mais novas, já Araçatuba adota mais antigas”, comenta. Conceitualmente, as variedades modernas são adaptadas ao plantio mecanizado e não apresentam falhas, têm alta produtividade e resistência às doenças e ao acamamento.
De acordo com Braga Junior, o levantamento traz um leque de informações superior ao elaborado na primeira edição. “Foram mencionadas 504 variedades no censo, com participação de várias novas empresas, que não tinham participado do primeiro censo, como os grupos Moreno, Glencane, Delta, Furlan, Cargill e outros”, diz Braga Junior. O censo mostra também que as variedades mais precoces estão sendo mais plantadas, principalmente nas regiões de Ribeirão Preto e Piracicaba.
O plantio é o processo mais oneroso. Por isso constitui um indicador da situação financeira do setor. “O plantio indica se o caixa das empresas está bom ou não, se o momento é positivo ou não”, resume Braga Junior. No Espírito Santo, onde há alta concentração varietal, tem havido pouco plantio. Na safra atual, o Estado de  São Paulo, ocupou 14,6% da área total com renovação de seus canaviais. Manter um canavial jovem é muito importante, porque o estágio médio de corte, ou seja, a idade do canavial está altamente correlacionada com a produtividade.
Segundo Braga Junior, a safra atual foi a mais velha já colhida no Brasil e a próxima irá bater o recorde de idade novamente. “O Espírito Santo é o estado onde o canavial está mais velho, com estágio médio de corte igual a 4,5”, diz
A divulgação foi feita em 21 de novembro, durante a reunião do Grupo Fitotécnico da Cana. Neste evento, também foi entregue o Prêmio Excelência no uso de variedades de cana-de-açúcar, que destaca as unidades produtoras com menor índice de concentração varietal e com melhor índice de atualização varietal. Criado em 2016, este ano o Prêmio, foi entregue também em nível regional e estadual, além do nacional, já outorgado no ano passado.
“O Prêmio Excelência é concedido às unidades produtoras que mais se destacaram no uso de variedades mais modernas, ou seja, com expectativa de maiores produtividades e maior retorno econômico e, também que, concomitantemente, possuam grande diversidade no seu plantel varietal, garantindo a segurança biológica dos canaviais contra novas enfermidades que possam entrar no país”, explica.
“O censo varietal IAC vem atender à crescente necessidade de informação do setor sucroenergético, possibilitando aos participantes o acesso a importantes informações de todas as regiões produtoras de cana-de-açúcar do país”, diz o secretário de agricultura, Arnaldo Jardim, que participou do evento em que foram divulgadas as informações.
O Programa Cana IAC recomenda que em uma área de produção, uma única variedade de cana-de-açúcar não represente mais do que 15% do total. A diversidade varietal é estratégica para garantir a segurança biológica e evitar que, em caso do ataque de praga ou doença severa, grande parte do canavial seja atingida, segundo Landell. Este aspecto é avaliado pelo chamado Índice de Concentração Varietal (ICV). Outro parâmetro considerado é o Índice de Atualização Varietal (IAV), que aponta se o plantel varietal é mais ou menos moderno. Para avaliar as empresas que receberão o Prêmio Excelência no uso de variedades de cana-de-açúcar no Centro-Sul, o Programa Cana IAC somou os rankings considerando estes dois indicadores.
Intenção de plantio
O levantamento sobre as intenções de plantio para a próxima safra de cana-de-açúcar, quando deverão ser plantados cerca de um milhão de hectares, aponta para uma tendência na queda no índice de concentração. O Instituto Agronômico (IAC) apurou as informações junto a 146 unidades, totalizando 703.848 hectares. Portanto, foram recenseadas cerca de 70% da área que será plantada. “Neste segundo trabalho, o levantamento de intenção de plantio alcançou o recorde em área amostrada”, afirma Braga Júnior.
No estado de São Paulo, a intenção de plantio aponta para 17% da área com a variedade RB966928, 10,5% com a RB867515 e 1,6% com a IACSP95-5094. A região de Assis — bastante modernizada — é onde se encontra a maior área de variedades IAC, com 3,7% da IAC87-3396, 3,2% da IACSP95-5000 e 1,8% da IACSP95-5094. Na região de Ribeirão Preto, a IACSP95-5094 é mencionada por 2,5% das intenções de plantio. Em São José do Rio Preto, esta variedade é citada por 2,3% dos respondentes. A região de Piracicaba intenciona plantar 1,9% da IACSP95-5000 e 1,3% da IACSP95-5094.
Segundo Landell, o Índice de Atualização Varietal é um indicador positivo na avaliação das propriedades, além de representar um incentivo a todos os programas de melhoramento genético de cana no Brasil. Além do IAC, a Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (Ridesa) e o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) mantêm esses programas no País.
A realização deste trabalho contou com apoio da Bayer, Basf e Syngenta. Para fazer a pesquisa, o Programa Cana IAC assume um termo de compromisso assegurando que as informações não são usadas para fins comerciais, por exemplo, para a cobrança de royalties.
Por Carla Gomes (MTb 28156) – Assessora de Imprensa – IAC

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