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Polo de hortaliças no Nordeste Paulista, um dos principais do Estado de São Paulo

O Nordeste paulista pode ser considerado uma das principais regiões produtoras e fornecedoras de hortaliças do Estado de São Paulo. Atende não apenas as centrais de abastecimento do Estado como também fornece para outros estados, principalmente Rio de Janeiro, Minas Gerais e Santa Catarina, dependendo da oferta e da demanda da mercadoria. “Trata-se de mercado bastante dinâmico”, resume o pesquisador Thiago Factor, do Polo Nordeste Paulista/APTA Regional da Secretaria de Agricultura e Abastecimento.
Na agricultura paulista, o cultivo de produtos olerícolas tem importância significativa e a produção está concentrada em poucas regiões, onde geralmente há intensificação e especialização em determinadas culturas, explica Thiago. O grupo de olerícolas constitui a quarta maior fonte de renda agrícola para esta região, com valor da produção estimado em mais R$ 300 milhões, superado apenas por cana-de-açúcar, café e laranja.  Cerca de 50% do total da cebola; 60% da batata, 30% da beterraba, 25% da cenoura e 11% repolho provém desta região. Além de renda, as hortaliças estão entre as atividades agrícolas que mais oferecem empregos, observa Thiago. Enquanto as culturas como cana-de-açúcar e cereais empregam de 0,5 a 1,0 pessoa por hectare, as hortaliças podem geram de 3 a 6 pessoas/ha.    
Apesar da grande importância que essas culturas representam para a região, alguns problemas ligados à produção, sobretudo no que se refere à conservação do solo e da água vêm preocupando produtores e sociedade civil, assim como limitando o pleno crescimento da atividade, conta Thiago. “Assim, o desenvolvimento de sistemas de produção menos impactantes ao meio ambiente, considerando condições de produção intensiva da região, tais como o plantio direto na palha, pode ser considerado como importante ferramenta de sustentabilidade visando à manutenção da competitividade dos produtores e ao crescimento desta importante cadeia de produção para a região.”
Plantio direto na palha
Pesquisa desenvolvida na região analisou a relação entre a densidade de plantas (cultura da cebola) no sistema de plantio direto na palha e o retorno financeiro, cujo resultado mostrou que a maior produtividade (1,25 milhão de plantas por hectare) resultou em ganho de R$ 3.900,00. Porém o melhor retorno financeiro, considerando-se principalmente o custo da semente, foi obtido na densidade de um milhão de plantas por hectare (R$ 4.038,00).  “Esses resultados mostram que uma avaliação do custo é tão importante quanto o aumento da produtividade”, diz Thiago que é o coordenador do projeto.
Esta nova tecnologia no âmbito das hortaliças começa a ser disseminada na região e, atualmente, dois produtores de cebola e de beterraba já utilizam o sistema de plantio direto na palha. A rigor, explica o pesquisador, os produtores utilizam o preparo de solo convencional e a implantação da cultura por meio da semeadura direta em canteiros ou plantio de mudas diretamente no solo. Já o plantio direto constitui-se da formação e dessecação da palhada ou utilização de restos culturais da cultura antecessora e do conseqüente plantio, sem o revolvimento do solo.
O projeto “Plantio Direto de Hortaliças” teve início em 2008 pelo Polo Regional Nordeste Paulista e o Instituto Agronômico (IAC-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, em parceria com a Fundação de Pesquisa e Difusão de Tecnologia Agrícola “Luciano Ribeiro da Silva”, de São José do Rio Pardo. O plantio direto na palha foi introduzido, em nível experimental, com avaliação de produção e de manejo da água. Dentre suas principais vantagens, Thiago ressalta a redução no uso de máquinas, melhoria da estrutura do solo, aumento da infiltração e retenção de água no solo, redução das perdas de água por evaporação e escoamento superficial, melhoria do desenvolvimento do sistema radicular das plantas e no controle de plantas invasoras, redução da erosão e do impacto da chuva e aumento da eficiência do uso de água pelas plantas, assim como racionalização no uso de insumos, levando à conseqüente redução de custos e ao aumento na sustentabilidade da produção. 
A principal limitação, explica Thiago, é a falta de máquina adequada para o plantio direto de hortaliças em escala comercial. “A máquina usada em experimentos pode vir a ser no futuro uma alternativa para a produção de hortaliças em plantio direto. Basicamente, a máquina corta a palhada e deposita a semente (muito pequena) com precisão. Há uma demanda dos produtores para que ela seja produzida em escala comercial.”
Além de Thiago, fazem parte do projeto os pesquisadores Sebastião de Lima Júnior e Jane Maria de Carvalho Silveira, do Polo Nordeste Paulista (com sede em Mococa), e Luis Fellipe Villani Purquerio (IAC), bem como o engenheiro agrônomo José Maria Breda Jr. (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé Ltda - Cooxupé).  No início, participavam ainda os pesquisadores Sebastião Wilson Tivelli (Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento - UPD de São Roque) e Paulo Trani (IAC).
O projeto abrange várias linhas de trabalho, ou seja, nutrição e adubação, sistemas e densidades de plantas e manejo e uso racional da água, relata Thiago. “Já temos recomendações de adubação específica para a região; sistemas e densidades de planta que proporcionam melhor qualidade, produtividade e retorno econômico. Com objetivo de transferir estes conhecimentos aos produtores, nos últimos dois anos foram realizados dois dias de campo de plantio direto de hortaliças no município de São José do Rio Pardo e dois workshops de manejo de irrigação no município de Mococa.
Melhoramento genético
Thiago revela, ainda, que uma variedade de cebola está em fase de experimentação (já começa a ser avaliada em áreas de produtores), de maneira a estender o calendário de plantio e colheita no verão. Assim, será possível reduzir a pressão de oferta concentrada do produto no inverno, que implica em menor remuneração ao produtor, e também baixar o custo da semente ao oferecer uma opção aos híbridos comerciais.
Também são conduzidos dois projetos de melhoramento genético com batata. O primeiro (em fase de avaliação de clones) busca, em parceria com o IAC e Polo Regional Centro Leste Paulista, variedades mais adaptáveis às condições regionais e que utilizem menos insumos (menor custo de produção).  Já o segundo projeto persegue variedades de casca e polpa coloridas, assim como de tamanhos reduzidos, para nichos de mercado (no mercado brasileiro, já aparecem batatas coloridas provenientes dos Estados Unidos), o que possibilita agregação de valor. Além disso, esta batata poderá ser considerada alimento funcional, uma vez que conterá alta concentração de pigmentos, importantes na prevenção de doenças, especialmente o câncer. 
Manejo racional da água
Em 2010, a pesquisadora Jane foi incorporada à equipe do projeto para realizar estudos de manejo de irrigação em plantio direto, com cebola e beterraba.  Desde 2008, ela já vinha trabalhando na sub-bacia Tambaú-Verde (Itobi e parte dos municípios de Casa Branca, Mococa, Tambaú, São José do Rio Pardo e Vargem Grande do Sul), com apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Uma das conclusões do projeto “Diagnóstico de áreas irrigadas por pivô central, utilizando imagens CCD/CBERS na sub-bacia Tambaú-Verde”, é de que a sub-bacia tem alto índice de irrigação (mais de 6% da área somente com pivô central, quando no Brasil a média de área irrigada por área cultivada é de 5,8% considerando todos os sistemas de irrigação). Essas áreas irrigadas concentram culturas de alto valor econômico e altas produtividades; ou seja, produtividades médias de milho e hortícolas (batata, cebola, beterraba e cenoura) são maiores do que as de outras regiões. Por fim, constatou-se, por meio de questionário específico, que o sistema carece de manejo de água mais eficiente.                    
A escolha da sub-bacia, explica Jane, foi motivada pela alta concentração de pivôs centrais e de horticultura cujo período de produção ocorre entre abril e outubro. Os 126 mil hectares da sub-bacia representam 41% da área total dos seis municípios que a compõem. Nesta extensão, foram mapeados 7.822 hectares de área irrigada com 241pivôs centrais (6,1% do território do conjunto desses municípios). Na região, é tradição o produtor adotar a tecnologia da irrigação, porque a água é imprescindível às olerícolas cultivadas no período seco do ano, diz Jane. São áreas de uso intensivo, onde se conseguem até três safras por ano em sucessão (milho no verão, feijão ou milho verde no outono e olerícola no outono/inverno). 
Porém, a alta concentração de pivôs centrais em dois eixos da sub-bacia (rios Congonhas e Verde) indica maior consumo de água, com alta probabilidade de desperdício, se não houver manejo adequado da irrigação, alerta Jane. Foram instalados experimentos, na área da Fundação de São José do Rio Pardo, que buscam comparar os sistemas de plantio direto e convencional, em termos de manejo de água e de desenvolvimento vegetativo e produtivo.
Para isso, conta Jane, foram utilizados dados de temperatura do ar, umidade relativa, radiação solar e velocidade do vento capturados de uma estação agrometeorológica próxima à Fundação, bem como feito o monitoramento da umidade do solo via sensores. “Estamos aplicando via irrigação por pivô central a lâmina de água que a cultura realmente necessita, evitando desperdício por percolação (infiltração de água abaixo do sistema radicular da planta) e irrigações excessivas que podem ocasionar processos erosivos do solo.” A pesquisa está avaliando, ainda, se no plantio direto a lâmina d´água aplicada é a mesma do plantio convencional, informa Jane. “Isto vai mostrar qual é o sistema mais eficiente no uso da água de irrigação.”    
Para 2012, a equipe planeja iniciar estudos que determinem coeficientes para as culturas de cebola, batata e beterraba na região, atendendo às necessidades dos produtores locais por manejo mais eficiente da água. Coeficientes de cultura são índices, determinados a partir de experimentação, para definir as lâminas de irrigação, explica Jane. “Esses coeficientes devem indicar a real necessidade de água pela planta. Hoje, existem disponíveis na literatura coeficientes de cultura que muitas vezes não condizem com a realidade local (clima, planta, solo etc.)”
Produtor, aliado da pesquisa
O produtor Ademir Vedovato é o que se pode chamar de pesquisador por vocação, considerado “produtor-modelo e aliado da pesquisa”. Foi membro-fundador da Fundação de Pesquisa e Difusão de Tecnologia Agrícola “Luciano Ribeiro da Silva” e atualmente prioriza o plantio direto, a economia de insumos e o melhoramento genético da cebola, que cultiva tradicionalmente no Sítio Nossa Senhora das Graças, município de Itobi.
Ademir produz cerca de 45 toneladas por safra, ocupando área em torno de seis hectares, totalmente mecanizados, mas já chegou a plantar 15 hectares manualmente.  Além disso, produz beterraba há cerca de 30 anos (área caiu de 30 hectares para os atuais cinco hectares) e abóbora nos últimos sete a oito anos (três a quatro hectares). Já plantou pepino em grande quantidade há 30 anos e também repolho e couve-flor.
Esta dança das culturas foi fruto da “concorrência e do desespero”, diz Ademir. “Antigamente, a pessoa vivia de uma cultura - na década de 1970, a gente só vivia de cebola. Hoje, não é mais possível.” O produtor já chegou a colher quatro safras seguidas (beterraba, pepino, cebola e repolho). “Hoje, estou cansado de trabalhar e não ter lucro.”
Ademir é um defensor do plantio direto na palha que, “além de preservar o solo, tem a economia de preparo do solo, economia de água e maior produtividade”. A partir de 2002, ele adotou o plantio direto no sistema de muda, mas desistiu por causa da inexistência de máquina adequada para hortaliças.  Aguarda, assim, o desenvolvimento de uma máquina em escala comercial. “A pesquisa está nos apontando que o plantio direto leva à redução de custo, além da conservação tanto de solo quanto de água. Se eu tivesse a máquina apropriada, o plantio direto seria 100% da propriedade.”    
Ademir trabalha com a perspectiva de reduzir o uso de insumos, e para isso conta com o apoio dos pesquisadores do Polo Regional. “Será que é interessante produzir 100 ou 40 toneladas?” Ele mesmo responde: “Os meus custos são baixos; não estou preocupado com alta produtividade. Hoje, o grande problema é o desperdício; não é a produtividade.”
Na cultura de Ademir, só entra defensivo quando realmente é preciso. “A gente só toma remédio quando está doente. O mesmo vale para a planta.” O produtor se diz “apaixonado” pela pesquisa com manejo de água. “Quanto de água eu estou gastando a mais na cebola? A gente deveria pagar pelo que gasta a mais de água.” Outro problema, diz Ademir, é o custo da mão-de-obra – “hoje, o produtor está na mão do bóia-fria” – que poderá ser reduzido com o plantio direto.      
No melhoramento genético, Ademir contribui com a pesquisa para estender o calendário da safra até o verão, de maneira a ter um leque maior de opções de mercado.  “O grande gargalo é o custo de sementes híbridas usadas aqui na região.” A intenção é buscar variedade de cebola de menor custo, adaptável à região. 

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Assessoria de Comunicação da APTA
José Venâncio de Resende
Camila Amorim/Eliane Christina da Silva (estagiárias)
(11) 5067-0424

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