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Secretaria de Agricultura realiza I Curso de Sanidade Apícola de São Paulo

A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio do Polo Regional de Pindamonhangaba, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA Regional), e da Coordenadora de Defesa Agropecuária (CDA), realizou o I Curso de Sanidade Apícola de São Paulo, entre os dias 16 e 20 de maio de 2016, em Pindamonhangaba. O objetivo foi preparar os profissionais que atuam no Sistema de Saúde Animal do Estado a lidarem com questões relacionadas à sanidade apícola.
Os profissionais foram treinados para realizar inspeção, colheita e transporte adequado das amostras de colmeias contaminadas de abelhas africanizadas, para familiarizá-los com a prática da apicultura e as possíveis enfermidades que acometem as abelhas, assim como capacitá-los para fazer a colheita de amostras eventualmente contaminadas e o envio do material de forma adequada para o diagnóstico em laboratório.
O polo regional da APTA já treinou centenas de fiscais agropecuários do serviço oficial de defesa agropecuária em São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Ceará e Goiás. Os profissionais dos Sistemas Estaduais de Saúde Animal receberam informações necessárias para se tornarem multiplicadores dos conhecimentos na área de sanidade apícola, para a identificação de eventuais anormalidades, colheita e transporte de amostras para o diagnóstico em laboratório.
“A APTA busca contribuir com o fortalecimento do sistema de saúde animal do Brasil, aumentando o conhecimento do corpo técnico/científico dos profissionais envolvidos nas ações de defesa sanitária animal no País”, afirmou Érica Weinstein Teixeira, pesquisadora da Secretaria, que atua no polo regional da Agência.
De acordo com Érica, a capacitação dos profissionais em sanidade apícola é necessária devido a constante ameaça de introdução de patógenos em território nacional e possíveis perdas econômicas na atividade apícola, em decorrência de doenças que venham a se estabelecer no País. É o caso da introdução no País da Aethina tumida Murray, um besouro das colmeias que foi notificado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) à Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), em fevereiro de 2016.
O assunto foi um dos temas do curso realizado pela Agência, que possui o único laboratório de sanidade apícola do Brasil e é referência no País em pesquisas e transferência de tecnologia na área.
A pesquisadora ressaltou que o apicultor e os cidadãos em geral são capazes de identificar algumas características visíveis a olho nu, como cor e tamanho do besouro. “Sempre que houver suspeita da presença dessa praga é importante coletar o besouro, acondicioná-lo em frasco limpo e bem fechado contendo álcool 70% até encobri-lo ou colocar o frasco no congelador, sem álcool. A Defesa Agropecuária deve ser acionada assim que possível”, explicou.
Érica disse também que quando adultos, os besouros são, geralmente, de coloração marrom escura a preta, sendo muitas vezes mais claros após emergirem. O tamanho varia, dependendo da qualidade da alimentação recebida durante o seu desenvolvimento, mas de forma geral, medem um terço da abelha mellifera. “O Aethina tumida foi identificado pela primeira vez na África, em 1867. Na década de 90, foi encontrado nos Estados Unidos, depois no Egito, Austrália, Cuba, México, Itália, Portugal, além de países da América Central”, afirmou.
As infestações do besouro em colmeias fracas podem levar ao abandono das mesmas. Com isso, o sucesso reprodutivo do Aethina tumida está garantido, já que terá pólen e mel disponível, além de crias das abelhas que ali restarem. “O objetivo do besouro nas colmeias é buscar alimento e não o de paralisar diretamente as abelhas”, ponderou a pesquisadora.
De acordo com o coordenador da CDA,  Fernando Gomes Buchala, a Secretaria de Agricultura trabalha na elaboração de um programa de sanidade apícola para o Estado de São Paulo. "Este curso foi importante para transferir o conhecimento da Apta para os técnicos da Defesa Agropecuária. A partir desse treinamento, poderemos trabalhar na identificação dos besouros nas colmeias e elaborar ações para controle e erradicação da Aethina tumida", destacou.
“O curso é importante para capacitar os profissionais paulistas na identificação de enfermidade que acometem as abelhas. Iniciativas como essa mostram a importância da transferência de conhecimento, uma recomendação do governador Geraldo Alckmin”, afirma Arnaldo Jardim, secretário de Agricultura e Abastecimento.
Referência em pesquisas em sanidade apícola
No mundo todo, pesquisas têm sido conduzidas com o objetivo de explicar as causas do fenômeno designado Colony Collapse Disorder (CCD) – Síndrome do Colapso das Colônias, que afeta as abelhas. A Apta realiza estudos na área de sanidade apícola a fim de entender o problema.
Uma das linhas de pesquisa visa à identificação de patógenos e parasitas considerados também como possíveis responsáveis pela síndrome CCD.
De acordo com Érica, a CCD tem causas multifatoriais. Entre elas estão o uso de agrotóxicos, a ocorrência de patógenos e parasitas, má nutrição das abelhas, genética e mudanças climáticas.  A síndrome tem características próprias e pode ser reconhecida apenas após sua ocorrência, por meio de um conjunto de sintomas, como a rápida perda de abelhas operárias adultas, evidenciada pelo enfraquecimento ou morte da colônia com excesso de crias, quando comparadas à população adulta.
Outro sintoma é a ausência de abelhas adultas mortas dentro ou fora da colmeia e inexistência de invasão imediata da colmeia por pragas, como as traças da cera. “O fato de a rainha permanecer na colônia, com poucas abelhas jovens, além de crias e alimento estocado, caracteriza uma situação totalmente antinatural para o que se conhece da biologia desses insetos sociais. As abelhas vivem em família, com divisão de tarefas e diferentes castas”, disse a pesquisadora do polo regional da APTA.
Além de a atividade apícola gerar produtos como mel, pólen, própolis, geleia real e cera, as abelhas são consideradas os principais agentes polinizadores em ambientes naturais e agrícolas. “Esse serviço ecossistêmico é considerado essencial para a manutenção das populações selvagens de plantas e imprescindível para a produção de alguns alimentos nos ambientes agrícolas, como maçã, melão e laranja”, afirmou.
De acordo com Érica, não são apenas as abelhas malíferas as afetadas, mas os polinizadores de maneira geral, incluindo as abelhas silvestres, também expostas a essa gama de fatores estressantes. “Evitar tais perdas é garantir que esses insetos exerçam sua importante função ecológica e econômica, já que são responsáveis por pelos menos 33% da produção mundial de alimentos e 30% da produção brasileira, que perfaz as cifras de US$ 45 bilhões no Brasil”, ponderou.
Laboratório de Sanidade Apícola
As pesquisas da Agência, conduzidas no Polo Regional de Pindamonhangaba, interior paulista, são voltadas para o diagnóstico de vírus, fungos, bactérias e parasitas que acometem as abelhas Apis mellifera africanizadas, biótipo predominante no País.
Com as análises realizadas no laboratório é possível extrair o DNA e o RNA total das abelhas e, a partir daí, identificar as substâncias químicas dos patógenos ou parasitas presentes e as possíveis variações de genótipos, que levam a diferenças em termos de virulência e formas das doenças se instalarem. A pesquisadora da APTA é responsável pelos primeiros resultados genética-moleculares de patógenos de abelhas do Brasil.
Érica explicou que as abelhas doentes, assim como qualquer outro animal, produzem menos. As abelhas melíferas africanizadas são mais resistentes e tolerantes a patógenos e parasitas do que as europeias. As abelhas africanizadas, presentes na totalidade do território brasileiro, apresentam variabilidade genética importante em termos de recursos a serem explorados em programas de melhoramento, visando à obtenção de linhagens mais resistentes. “É nisso que programas nacionais devem investir, mantendo assim os produtos apícolas livres de resíduos de medicamentos, como ocorre na grande maioria dos países onde a atividade apícola é bem desenvolvida”, explica. A pesquisadora da APTA destacou ainda a necessidade de se garantir a manutenção da resistência e tolerância naturais desse biótipo.
Por Fernanda Domiciano
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