Mal-do-panamá ameaça produção de banana
Data da postagem: 17 Outubro 2006
Pesquisadores de banana de vários países estão preocupados com o avanço do mal-do-panamá em plantações de bananas nanicas. A doença, que chegou ao Brasil em 1957 e acabou com boa parte da produção de banana maçã, nunca havia aparecido na variedade nanica no país, mas há alguns meses começou a aparecer.
Segundo Wilson Moraes, pesquisador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) da região do Vale do Ribeira, foi isolado um fungo há poucos dias em uma propriedade em Pariquera-Açu para que se descubra qual das raças desse fungo que causa o mal-do-panamá está atingindo o bananal de nanica, que tradicionalmente resistia às raças 1 e 2 do mal, únicas que até hoje estavam presentes no Brasil.
"A pergunta é se no Brasil estamos diante do fungo de uma outra raça, a 4, ou se há alguma fragilidade no manejo do campo que está fazendo com que uma variedade que antes era resistente esteja com sua resistência baixa", afirma Moraes. Ele colheu as amostras e aguarda resultado laboratorial.
A raça 4 do fungo fusarium oxysporum f.sp é a mais forte até hoje encontrada na Ásia, principal região produtora do mundo, e foi primeiro diagnosticada na Austrália. O fungo ataca pela raiz da planta, diferente da sigatoka negra, que ataca as folhas e é facilmente disseminada pelo vento. Para o controle do mal-do-panamá geralmente se adota a mudança geográfica da área de cultivo, já que o patógeno fica no solo por 40 anos.
O mal-do-panamá poderá prejudicar o cultivo de nanica se ganhar escala, e poderá ser ainda mais complicado se vier ao mesmo tempo em que essas regiões tentam conviver com a sigatoka negra. A variedade nanica responde por cerca de 25% da produção nacional de bananas, e é a principal variedade exportada pelo país e a mais cultivada em Santa Catarina, o principal Estado exportador do Brasil.
A maior parte da produção brasileira - cerca de 70% - é de banana prata, que veio ganhando espaço nos últimos anos justamente por conta do mal-do-panamá raças 1 e 2, que quebrou a produção de banana-maçã, que hoje responde por cerca de 5% da oferta nacional. Na prata, os produtores encontraram uma maior resistência ao mal-do-panamá, embora ela também sempre tenha sido suscetível à doença.
"Ultimamente, também estamos vendo um avanço do mal-do-panamá nas bananas do tipo prata. Antes, ele atingia cerca de 15% de um bananal, hoje já temos casos em que ele atinge 50%", explica o pesquisador da Embrapa-Bahia, Zilton Cordeiro, que verificou ocorrências no sudoeste da Bahia e no norte de Minas Gerais.
A raça 4 do fungo que causa o mal-do-panamá já se disseminou em boa parte da Ásia, em países como Taiwan e China. O pesquisador Agustín Molina, um dos principais estudiosos da banana na região asiática, acredita que o maior problema está no fato de não se conseguir controlar essa doença de forma fácil via produtos químicos.
Presente no Acorbat, congresso mundial sobre banana, Molina afirmou que há riscos de a raça 4 do fungo chegar à América Latina pelas condições climáticas e de produção parecidas às condições da Ásia, mas considerou os riscos pequenos se considerada a distância geográfica.