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Instituto de Pesca tem pacote tecnológico para produzir robalo o ano inteiro

Um pacote tecnológico que vai permitir a produção do robalo-peva (Centropomus parallelus) em condições controladas de laboratório, e assim colocar o peixe no mercado consumidor o ano inteiro, foi gerado pelo Instituto de Pesca (IP-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, com o apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP). Para isso, pesquisadores do IP desenvolveram técnicas inovadoras de controle da reprodução, como a crioconservação de sêmen e a indução ambiental através da manipulação do fotoperíodo e da intensidade da luz, em  sistema de recirculação de água marinha com descarga zero de efluentes.
“Durante dois anos e meio, estudamos o efeito da luz e das condições controladas na maturação e desova do robalo”, diz a pesquisadora Idili da Rocha Oliveira, do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento do Litoral Sul (em Cananéia).  Idili ressalta as vantagens do sistema de recirculação de água. “Trata-se de uma inovação que possibilitou o controle da qualidade da água, mantendo em níveis aceitáveis para o robalo os parâmetros temperatura, salinidade, oxigênio, pH, amônia, nitrato, nitrito e fosfato”.Além do Instituto de Pesca, sistemas semelhantes, estão sendo desenvolvidos nos Estados Unidos (Flórida, Carolina do Norte), França, Espanha e Itália, “países reconhecidos por sua alta tecnologia na produção de alimentos”, conta a pesquisadora.
“O grande diferencial do nosso sistema é que a remoção completa dos resíduos das fezes, urina e ração não ingerida, eliminados na água, é feita através da oxidação pelo ozônio, enquanto que nos outros as principais impurezas são removidas por bactérias que necessitam de oxigênio”, explica Idili. Além disso, complementa, as bactérias eliminam nitrato que, tóxico aos peixes, tem seu nível controlado mediante a descarga constante de parte da água para o ambiente, em volumes diários de até 40% do total, seguida de reposição de água nova, onerando os custos de captação de água e impactanto negativamente o ambiente.
 “O apelo mundial cada vez maior, tanto em torno da diminuição dos impactos ambientais causados pelas fazendas marinhas quanto o aumento da demanda por peixes nobres, vem impulsionando a corrida entre os países produtores, no sentido de dimensionar sistemas de produção intensiva baseados na recirculação de água”, acrescenta o pesquisador  Pedro Carlos da Silva Serralheiro. “Apesar de agregarem alta tecnologia, e portanto custos, esses sistemas começam a sair das universidades e instituições de pesquisa para se espalhar para a produção comercial, interessada no aumento da escala de produção em relação aos sistemas convencionais”. .
Com esse sistema e de posse do conhecimento da ação do fotoperíodo, “vamos conseguir, em função da reprodução, manipular a intensidade de luz nos tanques de criação para obter a reprodução dessa espécie fora da estação normal de produção”, completa Pedro. “Ou seja, nós vamos poder ter larvas o ano inteiro, e não somente  durante o verão, estação natural de reprodução”.
Em todo o sistema, onde há controle da luz e da temperatura, não se precisa esperar o verão para fazer a reprodução em laboratório, enfatiza Idili. “Você aumenta a temperatura, o fotoperíodo e a intensidade da luz, tentando simular o verão, e consegue antecipar a reprodução.. No nosso Estado, nós temos uma única estação reprodutiva por ano, porém nesse novo sistema, podemos ter duas, três...”
O pacote tecnológico, resultado dessas inovações, compreende todas as fases do ciclo de vida, englobando a reprodução, larvicultura e engorda. Agora, estas três fases estão sendo aperfeiçoadas. Os pesquisadores do Instituto de Pesca estão tentando definir uma ração em parceria com colegas da Universidade Federal de São Carlos, diz Idili. “Nós estamos estudando o conteúdo estomacal,  as enzimas do sistema digestório do juvenil e do adulto para tentar elaborar uma ração adequada para essas fases, que é um dos entraves para a produção em larga escala dessa espécie. Para alcançar esse objetivo, temos que trabalhar ao nível dos reprodutores, da reprodução e da própria larva, fornecendo alimento com a qualidade nutricional adequada.”
A espécie de robalo escolhida é resistente, tem alto valor comercial, boa adaptação aos ambientes confinados e é uma espécie versátil (pode viver em diferentes salinidades), define Idili. “Essas espécies estuarinas que exploram o ambiente costeiro, até o rio (encontra-se robalo no rio Ribeira), tem fisiologicamente condições de transitar entre a água doce e a salgada. Assim, o robalo desova na região costeira e as larvas são transportadas para ambientes abrigados onde existe abundância de alimento natural (plâncton) e maior proteção à predação. Nesse circuito água doce-salgada, as larvas crescem e podem maturar... Por isso é que se diz que o estuário é um berçário que tem várias formas jovens crescendo.”

Crioconservação de sêmen
Para o controle da reprodução do robalo-peva em laboratório, o Instituto de Pesca desenvolveu um protocolo de crioconservação de sêmen específico, que resultou na criação do primeiro banco de sêmen da espécie no País, conta Pedro. “A técnica de congelamento empregada, que usa a temperatura criogênica do nitrogênio líquido (temperatura de –196ºC), irá garantir que o sêmen se mantenha fértil por longo período, ainda imprevisível. Com esse avanço, o Instituto tem conseguido disponibilizar continuamente sêmen, com qualidade previamente determinada, para a inseminação de óvulos, desde que fêmeas férteis estejam disponíveis na natureza ou no laboratório, ampliando assim a oferta de juvenis. Futuramente, a técnica poderá ser empregada nas pisciculturas industriais da espécie, diminuindo os custos referentes a manutenção dos plantéis dos reprodutores masculinos, e proteger os estoques comerciais de linhagens geneticamente melhoradas contra perda acidental.”
Segundo Pedro, as técnicas de crioconservação servem tanto para peixes de água doce quanto marinhos. “O Instituto de Pesca foi pioneiro nas pesquisas das técnicas de crioconservação do sêmen de peixes marinhos no Brasil, que atualmente começam a ser foco da atenção de outros órgãos de pesquisa, espalhados pelo País. Começamos por desenvolver a técnica com a tainha e depois veio o robalo, mas hoje nós trabalhamos também com sêmen de outros peixes de grande valor econômico como o vermelho, a garoupa, o badejo e o mero, estes três últimos ameaçados de extinção. Quando selecionamos uma espécie, visamos, não só o valor econômico em termos de agricultura, mas também a importância ecológica dela nos ecossistemas.”.

Larvicultura
Um dos gargalos da criação de peixes marinhos é a sobrevivência e a qualidade das larvas produzidas, diz Idili. “As espécies marinhas, que normalmente são carnívoras, tem uma fase larval bem delicada, porque elas saem do ovo com pouco alimento e essa reserva alimentar logo acaba (casos do robalo e da tainha). E em pouco tempo elas abrem a boca – extremamente pequena - à procura de alimento. Como não existe comercialmente nenhuma ração artificial específica para essa fase, o que se faz no mundo inteiro é criar organismos plantônicos em laboratório para a alimentação, obtendo assim maior taxa de sobrevivência.”
A cadeia alimentar, com a criação de produtores primários (fitoplâncton) e consumidores (zooplâncton), desenvolve-se toda dentro do laboratório, relata Idili. “Nós produzimos microalga para alimentar os rotíferos, que serão fornecidos a partir do terceiro dia de vida da larva, e mais adiante, depois de duas semanas, introduzimos na alimentação o nauplio de artêmia. O nauplio de artêmia e o rotífero podem ser fornecidos às larvas após enriquecimento, dando maiores condições de sobrevivência. A artemia, que é vendida comercialmente na forma de cistos, após hidratação e eclosão dos mesmos, é fornecida às larvas como nauplios recém-eclodidos, ou um nauplio maior em fase mais adiantada do seu desenvolvimento.”

Engorda
Na ausência de uma ração específica para o robalo, está sendo avaliada a ração experimental para peixe carnívoro marinho, conta Idili. “É esse estudo de nutrição e alimentação que estamos fazendo com os colegas da Universidade de São Carlos. O robalo aceita ração, mas é preciso adequar uma composição. Normalmente, usávamos uma ração de peixe de água doce com alto índice de proteína.”
Na engorda, alguns aspectos relativos a doenças do robalo já estão sendo estudados por uma equipe de pesquisadores do Instituto de Pesca, juntamente com colegas da Universidade de Maringá, informa Idili. “O objetivo é que os peixes tenham um bom desempenho, em condições sanitárias adequadas, atingindo um tamanho comercial no menor tempo possível.”
Para evitar doenças, os pesquisadores precisam definir os requisitos nutricionais , ambientais e populacionais para diminuir o aparecimento de doenças. Em resumo, explica Idili, na engorda, a qualidade da água do ambiente natural é importante e a alimentação tem de ser na frequência, na quantidade e na qualidade que o peixe requer para tentar impedir que se desenvolvam doenças. “Estudamos, também, a densidade mais adequada para a criação da espécie em ambiente confinado.”
A engorda foi estudada também em tanques-rede, de acordo com Idili. “Então, nós fechamos o ciclo do robalo. Aqueles exemplares que nós produzimos em laboratório foram para o ambiente, cresceram e se tornaram o nosso estoque de reprodutores.”
As pesquisas com engorda do robalo foram desenvolvidas nos Núcleos de Pesquisa e Desenvolvimento do Litoral Sul e do Litoral Norte do Instituto de Pesca, informa Idili. “Os peixes que eram todos juvenis há dois anos cresceram no sistema de recirculação de água na unidade de Cananéia e agora estão adultos, maduros. Aqueles que nós enviamos algum tempo atrás para Ubatuba cresceram em tanques-rede na unidade Norte.”

Pioneirismo
O Instituto de Pesca é pioneiro em piscicultura marinha, abrangendo diferentes espécies nativas, segundo Idili. “Quando o Instituto começou a trabalhar em piscicultura marinha, poucas unidades no Brasil abordavam essa atividade. As espécies que estudamos são nativas e dispúnhamos de poucas informações biológicas e de criação.”
Os estudos com robalo no Instituto de Pesca começaram por volta de 1995, acrescenta. “Numa primeira fase, a coleta de peixes no estuário era mensal ou quinzenal, para o estudo dos aspectos reprodutivos da espécie ao longo do ano, determinando os estádios de desenvolvimento gonadal e época de maturação.”
A pesquisadora lembra que maturar a espécie em laboratório era difícil, da mesma forma que era um desafio saber o período do ano em que havia mais exemplares maduros. “Naquela época, nós não tínhamos ainda sistema de recirculação. Então, os peixes eram capturados no estuário e transportados para o laboratório, onde se realizava a seleção dos exemplares em fase final de maturação para indução hormonal . È difícil obter a maturação e a desova natural em laboratório, considerando a maioria das espécies de peixes que são economicamente importantes.”

Assistência técnica
O Instituto de Pesca tem sido procurado por pessoas interessadas em comprar juvenis de robalo para engordar, principalmente em tanques-rede. Mas o fator limitante é a oferta de robalos jovens que precisam ser produzidos em escala em laboratório, diz Idili. “A produção em condições controladas de laboratório é um processo mais sofisticado, mais caro e que precisa de pessoal técnico treinado.”
Segundo Idili, o IP está apto a elaborar projetos de produção em laboratório ou de criação de robalo no mar e oferecer cursos, estágios e treinamento em geral. Também pode fornecer assistência técnica a empresas interessadas em produzir robalos. “Nós já temos uma experiência que nos permite fazer isso, principalmente na parte de laboratório (reprodução e larvicultura). E os pesquisadores Eduardo Sanches, Sérgio Ostini e Roberto William von Seckendorff podem apoiar na parte de criação no ambiente natural, com a construção e instalação de tanques-rede e manejo dos peixes nesse sistema de criação.”
Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail idili@pesca.sp.gov.br

Link relacionado: Robalo em cativeiro já é realidade

                                 Robalo: projeto de crescimento e engorda em água doce no Ribeira

Assessoria de Comunicação da APTA
José Venâncio de Resende
(11) 5067-0424

Instituto de Pesca
Antonio Carlos Simões
(13) 3261-5474

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