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Carne bovina busca mercados mais nobres

Ainda que estejam prontos para brindar em 2006 a consolidação do país como maior exportador de carne bovina do mundo em volume e agora também em receita - já que a Austrália perdeu espaço no mercado internacional -, os exportadores brasileiros de carne bovina ainda terão pela frente, em 2007, o velho desafio de acessar mercados mais nobres, como os EUA e países da Ásia. O fato é que atualmente, por conta de restrições sanitárias, o Brasil tem na União Européia sua única opção para vender cortes bovinos mais valorizados, e as vendas desses itens mais nobres produzidos aqui vêm patinando no bloco. Enquanto isso, crescem os volumes para os chamados mercados emergentes, como Rússia e Bulgária, que costumam comprar cortes mais baratos. Segundo levantamento da Coimex com base em dados do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio (MDIC), em novembro passado o Brasil exportou 6.858 toneladas de carne bovina resfriada sem osso, cujo preço médio ficou em US$ 7.040 por tonelada. Em outubro, as vendas haviam somado 7.402 toneladas, e os números mostram que o desempenho do produto vive de altos e baixos sobretudo desde o fim de 2005, quando a UE embargou a carne de três Estados brasileiros - Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo - em razão do ressurgimento da febre aftosa no país. Já as vendas de carne bovina para a Rússia, que compra principalmente cortes de dianteiro do país, crescem mesmo com o embargo que persiste para algumas regiões brasileiras, também por causa da aftosa. Segundo o MDIC, em novembro os embarques à Rússia somaram 56.346 toneladas, ante 46.973 em outubro. O volume, para apenas um mês, chama a atenção. Mas o preço médio do produto (US$ 2.363 por tonelada) é quase três vezes menor do que o valor médio de um corte resfriado vendido para a UE. Os números são um "indicativo de que estamos acessando menos mercados nobres do que mercados pobres", afirma Jerry O'Callaghan, diretor de carnes da Coimex. É claro que ampliar os volumes exportados é importante, mas, de acordo com o especialista, o "melhor seria ter mercados com volumes maiores e preços médios razoáveis". Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria, diz que o Brasil tem "diferencial competitivo" e por isso cresce em mercados de grandes volumes. "Vender muito é bom, mas o Brasil tem condições de atender mercados mais caros, como os da Ásia e os EUA", acrescenta ele. O caminho para chegar a esses mercados é conhecido, mas nem por isso fácil. "Temos que trabalhar aqui para erradicar a aftosa, e a nossa diplomacia precisa atuar para que alguns países aceitem as regras da OIE [Organização Mundial de Saúde Animal]", defende Tito Rosa. Ele se refere ao fato de que tanto os EUA quanto países da Ásia - como Japão e Coréia do Sul - não aceitam os princípios da regionalização para aftosa. E entrar num país asiático, diz, seria um "cartão de visitas" para outros mercados. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Pratini de Moraes, reconhece que o Brasil tem hoje nos países emergentes seu principal foco. "São os emergentes que comandam o comércio internacional", diz. Mas pondera que também esses países começam a comprar cortes de carne bovina mais valorizados. Segundo Pratini, as tarifas elevadas impostas pela UE em suas importações de carne - que chegam a 180% em alguns casos - restringem o crescimento dos volumes exportados. E mudar essa situação depende das negociações comerciais entre o bloco e o Mercosul. O presidente da Abiec defende redução de tarifas ou aumento da cota Hilton - de cortes nobres -, que hoje é de apenas 5 mil toneladas , com imposto de 20%. No âmbito das negociações UE-Mercosul, a expectativa é de uma cota de 350 mil a 400 mil toneladas de carne bovina, sendo que o Brasil teria uma participação de 42,5% nesse total. Dentro da cota, a proposta é de tarifa máxima de 20%. O fato de a população européia não crescer também limita o aumento dos volumes para a UE, observa Paulo Molinari, da Safras&Mercado. Ele não acha preocupante vender mais para os emergentes, onde o consumo de carne tem crescido graças ao aumento na renda . "Se pensar em volume, não adianta só pensar em Europa". O'Callaghan também considera as tarifas elevadas um entrave para crescer no mercado da UE, mas afirma que, neste ano, também pesou a piora da imagem da carne brasileira no bloco após o reaparecimento da aftosa no Mato Grosso do Sul e no Paraná. "Há obstáculos [ao crescimento] que não serão removidos se não for feito algo para melhorar a imagem do produto do Brasil". Segundo ele, a aftosa gerou campanhas contra a carne brasileira, que perdeu espaço no varejo europeu. Pratini de Moraes avalia que para melhorar a imagem do produto brasileiro e acessar novos mercados, o país precisa, antes de tudo, "fazer o dever de casa na vigilância sanitária". Isso significa resolver as pendências em relação aos focos de aftosa do fim de 2005, para que Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo voltem ao status anterior aos casos da doença. Esse é o primeiro passo, avalia, para que as negociações com os EUA - para a venda de carne bovina in natura - sejam retomadas e para que o país volte a conversar com Japão, Coréia do Sul e Taiwan, mercados que ainda não compram o produto brasileiro.

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